Política Titulo Perseguição
Militante conta dificuldade em ser mulher durante regime

Maria Salay relata problemas em achar emprego com carteira assinada, após atuar na Convergência Socialista

Por Cynthia Tavares
Do Diário do Grande ABC
04/11/2013 | 07:29
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Arquivo/DGABC


Ser mulher na década de 1980 não era tarefa fácil no Brasil. Além de cuidar da casa e dos filhos, as cidadãs começavam a traçar sua trajetória nos chãos de fábrica do Grande ABC, onde tinham acesso aos movimentos sociais contrários ao regime militar (1964-1985). Maria Salay, integrante da antiga Convergência Socialista, sentiu na pele a dificuldade de ser dona de casa, trabalhadora e militante.

“A gente traz os filhos, a família (na luta) e é difícil ter filho e não poder dar o que a gente quer, inclusive, a melhor educação para eles”, recordou. Maria trabalhava na metalúrgica Brosol, em Ribeirão Pires. As greves realizadas no local foram responsáveis por revelar lideranças sindicais como o prefeito de Santo André, Carlos Grana (PT), que também era funcionário da empresa.

A militante recordou que diversas colegas na linha de produção lutavam por melhores condições de trabalho, apesar de o País estar sob uma ditadura. “A gente poderia encher salas de mulheres que sofreram perseguição e repressão. Mais do que um homem ser militante político, é uma mulher ser militante político”, disse.

Com a necessidade de colocar dinheiro em casa, Maria não tinha outra opção: precisava trabalhar. Porém, nem sempre era uma tarefa fácil encontrar uma ocupação por conta da sua atuação política na Convergência Socialista. “Na minha vida profissional, eu tive que ter várias carteiras. Era uma carteira, um emprego. Essa foi minha vida profissional por anos.”

Apesar de o regime militar estar na fase mais amena no começo da década de 1980, as perseguições políticas eram recorrentes. Pessoas engajadas no movimento contrário à ditadura enfrentavam problemas para arrumar emprego com carteira assinada. Os empresários temiam represálias do governo por empregar “subversivos”. “Quando a gente vai buscar um emprego, a gente sempre achava os piores”, recordou Maria.

Trinta anos após a luta, a militante foi anistiada pela Justiça. O desfecho processual ocorreu no mesmo dia em que a Convergência Socialista foi reconhecida como organização política perseguida durante o regime.

A Convergência Socialista originou-se da Liga Operária e depois deu origem ao PSTU. A atuação começou em 1978, quando os militantes realizaram a primeira reunião pública de socialistas ainda sob o regime militar.

A principal contribuição do movimento ocorreu em 1º de maio de 1980, em São Bernardo. Cerca de 100 mil trabalhadores se reuniram no Estádio da Vila Euclides para comemorar o Dia do Trabalho e a reivindicar democracia.

A organização também endossou os piquetes da greve geral de 1983, quando inúmeros militantes foram presos e golpeados pela polícia. No ano seguinte, a luta já era pelas eleições diretas, pois o regime caminhava a passos largos para o seu fim.

A presidente do PSTU em São Bernardo, Ligia Gomes, ressaltou a importância da Convergência Socialista para a história do Grande ABC. “Os primeiros presos políticos do movimento são da região, que foi o principal palco de atuação das ações sociais”, analisou.
 




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