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Morte causada por síndrome respiratória aguda aumenta 1.220%

Foram dez óbitos em 2019 e 132 neste ano;
dado indica subnotificação de casos de Covid

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
18/09/2020 | 00:01
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Pixabay


Mortes causadas pela SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) cresceram 1.220% no Grande ABC entre 15 de março, dia dos primeiros casos de Covid na região, e 15 de setembro. Em 2019, dez pessoas faleceram pelo problema, ante 132 neste ano, segundo dados do Portal da Transparência do Registro Civil tabulados pelo Diário. Uma das razões é a pandemia. Casos fatais suspeitos do novo coronavírus que não foram diagnosticados a tempo engordam estatísticas da SARG.

Isso indica que há subnotificação nas mortes por Covid, assim como de outras doenças respiratórias, como a Influenza (gripe), que também podem ser computadas como SRAG.

“O médico quando trata um paciente se orienta pelos sintomas e exames. Às vezes, não sabemos qual foi a doença causadora e temos ou não sucesso ao tratá-la. Não saber a doença dificulta o tratamento, mas, conhecendo os sintomas e sabendo lidar com eles, é possível tratar”, explicou Adélia Marçal dos Santos, epidemiologista, especialista em dinâmica em transmissão de doenças infecciosas e professora no curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano).

Desta maneira, o paciente pode ter apresentado sintomas da Covid, porém, o médico realizou o tratamento sem confirmação da doença por exame laboratorial. A docente destacou que, principalmente no início da pandemia, houve dificuldade para a realização de testes do tipo PCR, comprometendo a identificação do coronavírus. Além disso, o PCR pode indicar falso negativo caso seja feito nos três primeiros dias ou depois do oitavo dia da infecção, ou seja, o período que garante a fidedignidade do exame é pequeno.

Outro fator que contribui para que mortes por Covid sejam registradas como SRAG é o fato de não haver comprovação do diagnóstico após a morte. “É possível colher exame na pessoa logo após o falecimento, mas não se sabe qual é a sensibilidade do teste nestes casos. Também é possível fazer diagnóstico por autópsia, mas é arriscado porque tem chance de contaminação. Atualmente não existe condição de fazer avaliação por autópsia porque os serviços de óbito mal dão conta de avaliar pessoas que foram mortas em causas duvidosas. Se não houve fator externo (como assassinato), a pessoa sai do fluxo de análise”, afirmou Adélia.

Por estes motivos, a especialista defende que para estimar os verdadeiros impactos da pandemia é necessário considerar o aumento das mortes como um todo. “Precisamos acompanhar todo o excesso de mortalidade geral porque teremos impacto direto e indireto da doença, ou seja, teremos quem morreu por causa da Covid ou da SRAG, as que faleceram de outras doenças e quem morreu em razão da piora de doenças crônicas por ter medo de procurar atendimento médico na pandemia”, detalhou.

O Diário publicou ontem que o Brasil teve o agosto com mais mortes desde 2002. No Grande ABC, foram 1.774 óbitos, 25,6% mais do que no mesmo período de 2019, quando 1.412 faleceram. “Os dados devem servir como reflexão, pois dá a impressão que acabou a pandemia e está todo mundo na rua. Hoje, as pessoas deixaram de buscar diagnóstico, estão convivendo mais com febre e dor de cabeça, tosse, e buscando menos o diagnóstico, se perdeu medo de morrer de Covid. Com isso, a subnotificação tende a aumentar”, alertou Adélia. 




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