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Grande ABC pode perder R$ 8,9 bi com isolamento

Estimativa do Conjuscs leva em conta a duração por até quatro meses do período de quarentena

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
03/05/2020 | 00:01
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DGABC


O decreto estadual de quarentena, que já dura pouco mais de um mês, determinou o fechamento de todos os estabelecimentos de comércio e serviços não essenciais. A medida, apontada pelos especialistas como uma das mais eficazes para combater a expansão da pandemia do novo coronavírus, tem forte impacto negativo na economia e, caso o período se estenda por quatro meses, o Grande ABC poderá perder até R$ 8,9 bilhões no PIB (Produto Interno Bruto). 

Os dados foram levantados pelo coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição, a pedido do Diário. A estimativa considera quatro cenários para a quarentena – entre um e quatro meses – e mostra a queda na geração de riquezas nas sete cidades, que varia entre R$ 2,2 bilhões e R$ 8,9 bilhões. No caso de dois meses de confinamento, a perda é de R$ 4,4 bilhões, valor que sobe para R$ 6,7 bilhões com três meses de isolamento físico.

O especialista segue os mesmos parâmetros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que estima que a pandemia poderá resultar em perda de dois pontos percentuais no crescimento anual do PIB a cada mês de isolamento nas principais economias do mundo. O indicador anual da região considerado é o de 2019, estimado em R$ 112 bilhões. 

“Não só o Grande ABC, mas o mundo inteiro vai sentir essa retração”, afirmou Conceição. “Retrai a produção, o comércio e os serviços. É claro que isso vai se expressar em números.”

O coordendor do Conjuscs enfatizou que, apesar do cálculo realizado, o isolamento físico é fundamental como medida de combate ao novo coronavírus. Considera ainda que a perda econômica é um mal menor diante dos riscos à população sem a quarentena.

O professor também destacou que é melhor ficar mais um tempo na quarentena do que as atividades serem retomadas, inclusive devido ao aumento do número de casos em todo o Brasil. “Se isso acontecer (<CF51>a reabertura</CF>), vamos ter uma atividade em W, ou seja, se retoma, e depois fecha, vai tentar retomar de novo. Isso gera expectativas em relação a crescimento que sobe e desce. É melhor a gente fazer a coisa mais gradual, mas que resulte numa linha crescente mais suave e mais demorada, mas sempre crescente. Do contrário, gera incertezas, o que, consequentemente, retrai o investimento, o consumo e afeta ainda mais o resultado do PIB”, disse o especialista.

SETORES

Entre os setores mais afetados economicamente durante a pandemia estão o comércio e a indústria. Representantes de ambos na região apontam que a retomada precisa ser feita o mais rápido possível, mas com os devidos cuidados.

O presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura, afirmou que as lojas não aguentariam uma quarentena mais longa, como a de quatro meses. “A perda é irreparável e a partir de três meses é insuportável. O comércio não se sustenta de forma alguma ficando parado. Se tiver um tempo mais longo, quando voltar não tem o que fazer.”

“A nossa esperança é a de que no dia 11 comece a se flexibilizar a quarentena”, afirmou o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Diadema, Anuar Dequech Júnior.


Sindicato propõe reconversão industrial

O SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) avalia que a reconversão industrial seja uma maneira de as fábricas da região passarem pelo período de pandemia. A ideia é regulamentar a fabricação de outros produtos que sejam essenciais neste momento, como máscaras e respiradores.

Por causa disso, a entidade incluiu o Grande ABC no projeto de lei do deputado federal Helder Salomão (PT), do Espírito Santo. O texto estabelece que o parque industrial instalado no País produza bens essenciais para o bem-estar de toda a população em situação de calamidade pública. Em contrapartida, o poder público deve adotar medidas para desenvolver a capacidade instalada para a produção, garantir a transferência de tecnologia necessária e direcionar materiais e maquinário necessários às fábricas requeridas. O projeto também prevê a criação de uma comissão consultiva.

O projeto já foi apresentado no plenário, mas atualmente aguarda despacho do presidente da câmara, Rodrigo Maia (DEM-Rio de Janeiro).

“Esse projeto de lei propõe uma reconversão emergencial e cria grupo para acompanhar a utilização de recursos, que podem ser utilizados na área de alteração de linha de produção. Estamos apoiando a iniciativa do deputado, pois entendemos que é de suma importância ser feito em âmbito regional. Com isso e as linhas de crédito fica mais fácil aderir à ideia”, afirmou o diretor executivo do sindicato, Wellington Messias Damasceno.

Além de ajudar no faturamento das indústrias, que seriam responsáveis pela fabricação de mais um produto, e no abastecimento do sistema de saúde, ele aponta que a medida pode ajudar a indústria no pós-pandemia. 

“Atualmente, a maioria dos componentes da produção é da China. O projeto pode nos ajudar na nacionalização destes itens, para reduzir a dependência dos outros países, e também na diversificação, já que parece ser a oportunidade para a região entrar nessa área de fornecimento de insumos hospitalares, disse.




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