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Banco Central não segura demanda por crédito
Por Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
30/03/2011 | 07:01
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As medidas macroprudenciais tomadas pelo BC (Banco Central) e o aumento dos juros não foram suficientes para conter a demanda de crédito do consumidor. Exemplo disso foi o financiamento de veículos, um dos principais alvos da autarquia monetária, cujo volume subiu 2,7% em fevereiro, sobre o mês anterior, atingindo R$ 146,7 bilhões.

Por nota, o próprio BC aponta que o crédito para automóveis teve destaque no mês dentro do total emprestado para as famílias. "O segmento de pessoas físicas assinalou incremento mensal de 1,3%, alcançando R$ 573,1 bilhões, destacando-se as modalidades de aquisição de veículos e crédito pessoal."

Para completar a contrariedade à estratégia do governo, o mercado financeiro demonstrou na sexta-feira, por meio do Boletim Focus publicado na segunda-feira, expectativa de maior inflação.

Enquanto no documento anterior era esperado IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado em 5,88% neste ano, na segunda-feira a previsão passou a 6%.

Para piorar, esta maior pressão inflacionária está desassociada ao crescimento da atividade econômica nacional, que em alta contribui para os preços subirem.

Conforme o Focus, o mercado financeiro reduziu a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), neste ano, de 4,03% para 4%. Sem contar que há quatro semanas, bem depois de entrarem em vigor as medidas do BC para conter o crédito, o cenário era mais positivo, com esperança de PIB em 4,30%.

Toda discordância é decorrente de informação positiva. As famílias estão encorajadas em emprestar para consumir. Boa parte impulsionada pela expansão do mercado de trabalho do ano passado e o aumento da renda.

A questão é que para evitar que o aumento médio dos preços no País ultrapasse o centro da meta de inflação, de 4,5% acumulada no ano, o BC optou por ferramentas que conteriam o crédito.

A meta de inflação é estipulada pelo governo como natural, ou seja, quando os preços podem subir sem que atrapalhem na economia brasileira.

No fim de 2010, o BC aumentou percentual da entrada para os financiamentos de veículos. E elevou os depósitos compulsórios, que são o dinheiro que guarda dos bancos para que essas instituições tenham menos recursos para emprestar.

Do fim do ano passado para cá, ampliando o leque de medidas para conter o crédito, o BC elevou a taxa básica de juros Selic duas vezes.

No dia 19 de janeiro, a diretoria da autarquia monetária passou a Selic de 10,75% ao ano para 11,25%. E na reunião seguinte do Copom (Comitê de Política Monetária), do dia 2, houve mais um incremento de 0,50 ponto percentual.

Tendo em vista que o boletim de operações de crédito do BC, publicado ontem, apresenta informações de fevereiro, o aumento no volume de recursos emprestados no mês, ante janeiro, contrariou a intenção do BC em elevar o juros básico, para frear o consumo e segurar a inflação.

 

 

 

Inadimplência sobe após atingir o menor patamar

 

Começam a surgir sinais de que o consumidor realmente emprestou mais para consumir e está endividado. A inadimplência das famílias nas operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) subiu em fevereiro.

O índice de inadimplência, segundo o BC, chegou a 5,8% no mês passado, acréscimo de 0,1 ponto percentual sobre os 5,7%, menor patamar histórico, atingidos por dois meses consecutivos anteriores. São considerados os atrasos acima de 90 dias.

Porém, o mercado financeiro manteve a média dos juros nas operações de crédito. O custo dos empréstimos em fevereiro ficou em 43,8%.

Os resultados são referentes às operações com recursos livres, ou seja, não estão vinculadas a programas governamentais, portanto os juros são livres.

E não diferente dos últimos meses, o brasileiro detentor de conta-corrente que normalmente utiliza o cheque especial ficou no vermelho por mais da metade de fevereiro.

De acordo com o boletim de operações de crédito do BC, o prazo médio para a liquidação das dívidas com a modalidade, no mês passado, foi de 22 dias. Desde março de 2010 esse período não é alterado, tendo em vista que em fevereiro daquele ano a média era de 21 dias.

Mas o relatório apresenta sinal de que o cliente bancário utilizou melhor o cheque especial, uma das modalidades mais caras do mercado. A inadimplência caiu de 9,2%, em janeiro, para 6,7%.

 

Financiamentos imobiliários expandem 75%

 

Entre as modalidades de créditos com recursos livres ao consumidor apresentadas no boletim do BC referente a fevereiro, o financiamento imobiliário teve a maior expansão em relação ao mesmo mês do ano anterior.

O avanço no volume de recursos desta modalidade cresceu 75,8%, atingindo R$ 8,2 bilhões. Em fevereiro de 2010, foram constatados R$ 4,6 bilhões.

Logo atrás apareceu o financiamento de veículos, com incremento de 49,8%, resultado em montante de R$ 146,7 bilhões.

O crédito pessoal saltou, na mesma comparação, de R$ 170 bilhões para R$ 211 bilhões, registrando alta de 24,76%.

Em fevereiro, a soma dos empréstimos pelo cheque especial chegou a R$ 18,8 bilhões, com elevação de 10,6% sobre o mesmo mês do ano passado.

E usuários do cartão de crédito aumentaram a demanda por recursos pela modalidade em 15,5%, na comparação anual.

Sobre janeiro, a alta foi de 4,7%, ou seja, pouco mais de R$ 1 bilhão, atingindo R$ 31,8 bilhões.




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