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'O mercado tem podridão'
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
28/04/2009 | 07:00
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Detentor de extensa coleção de hits desde os anos 1980 e crítico do atual mercado fonográfico, o cantor, pianista e compositor Guilherme Arantes sobe ao palco do Teatro Municipal de Santo André amanhã, às 20h. O ingresso para o evento - que encerra a programação do 456º aniversário da cidade - é um quilo de alimento não perecível.

O repertório baseia-se em canções que dominaram a programação das rádios há duas décadas, como Lindo Balão Azul, Pedacinhos e Planeta Água, mas inclui composições do mais recente álbum de inéditas do intérprete, Lótus (2007).

A suavidade das melodias criadas pelo músico contrasta com as opiniões contundentes que ele emite a respeito da indústria do disco, da classe artística e do universo das celebridades.

"Todo mundo pode gravar e lançar disco hoje em dia. Há uma profusão de trabalhos no mercado que chega a ser ridícula. Há desde a socialite com um CD gravado ao filhinho de papai que quer ser DJ e entra na escalação do Skol Beats. Esse é um tempo muito confuso e conturbado", afirma Arantes.

CANTORAS - Fã do rapper Mano Brown, do grupo Racionais MC's, que considera "um poeta da crueza urbana", o músico acredita que os grupos de rock e as divas da nova safra da MPB, como Mariana Aydar e Roberta Sá, pecam pela falta de audácia e transgressão.

"São todas comportadinhas e grã-fininhas. Moraram em Nova York e estudaram na França. Nenhuma cospe no chão, bebe cerveja no palco ou sabe manipular a mídia como a Amy Winehouse. Até os roqueiros perderam o poder anárquico, aquela coisa da bagunça", frisa o compositor.

Apenas quatro estrelas escapam dessa artilharia verbal: Marisa Monte, Maria Rita, Bebel Gilberto e Vanessa da Mata, que recentemente regravou Um Dia, Um Adeus, sucesso de Arantes.

"A Bebel é doidona, é da noite. Gosto muito daquele disco dela, o Momento. A Maria Rita era uma criancinha quando a conheci, dei papinha para ela (nos anos 1970, o pianista namorou Elis Regina, mãe da cantora). A Marisa transformou-se em uma erudita da música popular e a Vanessa é fantástica. São exemplos de que ainda há esperança".

EXECUTIVOS E REVIVAL - Proprietário do estúdio Coaxo do Sapo, construído em Barra do Jacuípe, no Litoral Norte da Bahia, onde também mantém pousada, Arantes alveja com suas críticas os executivos das majors. "O grande mau da indústria são os executivos que não têm qualidade. Você vê diretor artístico que não entende nada de arte, diretor de marketing que não sabe de nada e presidente de gravadora que não estudou administração de empresas. O mercado está cheio de podridão e vaidades e há uma falta de profissionalismo muito grande".

Apesar da virulência, o hitmaker deixa claro que o fato de ter sofrido queda de popularidade a partir da década de 1990 não o abalou. "Quando estava em meu apogeu, era um cara muito consciente. Não era de cultura o sucesso. Faço parte de um grupo de artistas que pode deitar na cama do que construiu. Hoje, o pessoal que está começando não pode fazer isso, não consegue criar lendas".

Sobre o revival dos anos 1980, admite que já recusou convite para apresentar-se em festas nostálgicas. "Se fosse The Best of 80's, eu iria. Não sou trash".

Guilherme Arantes - Show. Amanhã, às 20h. No Teatro Municipal de Santo André - Praça 4º Centenário. Tel.: 4433-0789. Ingr.: um quilo de alimento não perecível.




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