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Mauá dá bananas a
famílias desalojadas
Renan Fonseca
Do Diário do Grande ABC
08/01/2011 | 07:03
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Um pequeno bar na rua Lourival Portal Pinto, no Morro do Mauco, em Mauá, está recebendo cestas básicas, agasalhos e pãezinhos da comunidade para ajudar quem teve o lar interditado pela Defesa Civil esta semana. As caridades aparecem de todos os lados e são recebidas com alegria por dona Neide Menezes da Silva, proprietária do Bar do Balbino. A única doação feita pela Prefeitura até agora foi uma caixa de bananas, já com poucas frutas.

O café da manhã é servido na mesa de bilhar. Dona Neide prepara no bule o café preto e às vezes corre para a padaria para comprar mais pãezinhos, que são servidos com manteiga aos desalojados. "Fomos de porta em porta pedir as coisas e aos poucos as pessoas foram doando. Meu bar é aberto a todos e fazemos o melhor para ajudar essa gente", contou. O marido, seu Balbino Dias de Menezes, 58, reclama que no dia do acidente assistentes sociais prometeram cestas básicas e marmitas para os moradores. "Mas até agora só vieram as bananas."

"Se dependesse da Prefeitura, comeríamos banana todos os dias", criticou Genival Dantas da Silva, 42 anos, que levantou cedo ontem para ver a demolição da casa onde morava com a família.

O Bar do Balbino virou ponto de encontro entre aqueles que estão vivendo o martírio dos últimos dias. Após a manifestação de ontem, a maioria dos moradores parou no barzinho para tomar um café e criticar a falta de atenção da Prefeitura. "Agora estou na casa de um compadre. Minha esposa e filhas estão na casa de um parente, na Vila Vitória", contou emocionada ao remexer as cestas básicas e sacolas com roupas doadas.

Procurada, a Prefeitura não informou que tipo de assistência vem prestando aos desalojados.

 

REFORMA

 

No alto do Macuco, algumas casas também foram interditadas pela Defesa Civil. Quem não teve de sair às pressas, teve que fazer reparos na residência. Jesiel Ferreira de Souza, 23 anos, gastou esta semana R$ 600 reformando a base da cozinha, que cedeu com o deslizamento de terra de terça-feira. "A Defesa passou aqui uma vez e disse que a gente não corre perigo. O jeito é colocar concreto onde a terra caiu", disse enquanto se apoiava na escada. Da porta da cozinha, um penhasco desce até o local onde mãe e filho morreram soterrados.

 

Ir para casa de parentes ou amigos. Esta é a recomendação dada pela Prefeitura de Mauá às 26 famílias que tiveram que deixar as residências no Morro do Macuco. O que fazem aquele que não tem familiares? O jeito é dormir na rua e contar com a colaboração dos mais solidários. "Estou usando a mesma roupa desde terça-feira. Durmo na rua com minha mulher e de dia pedimos almoço nos visinhos", contou o auxiliar Antônio Paulo de Souza, 55 anos.

A filha, Daina de 23, tem um bebe de sete meses e um filho de dois anos. "Estou na casa de um primo. Ele dorme no chão e fico com meus filhos na cama", falou. A maior dificuldade para ela é trocar as fraldas do bebê. "Não tem lugar para isso pois a casa só tem um cômodo", lamentou a mulher.

 

A casa da família foi demolida na manhã de ontem. Fogão, geladeira e duas TVs estavam no imóvel. "Tudo o que demoramos para comprar está no lixo", relatou Souza.

 

Desalojados do Macuco receberão bolsa-aluguel


Com faixas e cartazes, os desalojados do morro do Macuco, no Jardim Zaíra 6, protestaram ontem em frente à Prefeitura de Mauá. Após receber uma comissão de moradores, a Secretaria de Habitação se comprometeu a pagar bolsa-aluguel para cerca de 50 famílias que tiveram imóveis interditados pela Defesa Civil após o deslizamento da última quarta-feira, que vitimou duas pessoas.

O auxílio é de até R$ 300 mensais, valor que permite alugar casas apenas em áreas de risco da cidade. O Diário apurou que um imóvel no Jardim Zaíra 6 custa, em média, R$ 250 por mês.

No Grande ABC, ao menos 5.229 famílias recebem o benefício, totalizando R$ 1,7 milhões mensais gastos pelas prefeituras de Santo André, São Bernardo e Diadema. Mauá não divulgou os número de beneficiados pelo programa.

Grávida de seis meses da pequena Giovana Eduarda, a jovem Francinete Belmiro de França, 22 anos, ficou de pé por três horas em frente à prefeitura, na expectativa de uma solução. "Por enquanto minha filha está abrigada dentro de mim, mas ela precisa de um teto pra nascer. Estou a três meses de dar a luz e nem casa tenho", lamentou.

VÍTIMAS

A tragédia no Macuco, que matou soterrados Deise Trindade dos Santos, mãe, e Tauã Trindade da Silva Lima, filho, continua a atingir os que ainda nem nasceram, como Giovana, e os que viveram muitos anos, caso de dona Manuela Lucilia de Souza, 90. Ela, o marido e a filha, Maria de Lourdes Souza, 53, viviam em uma das casas interditadas. Agora, vivem onde dá.

De vestido florido, dona Manuela esperava sentada em frente à prefeitura por seu destino. "Nossas coisas estão dentro da casa, mas não podemos dormir lá", reclamou. "E eu lá durmo? Faz três noites que não prego o olho, é só cair uma garoa e to de pé", garantiu Maria de Lourdes.

Dona Manuela tem a sua Maria de Lourdes para se apegar, mas outra Maria de Lourdes, de sobrenome Andrade e 61 anos, vive na solidão após ficar viúva. "Conto com a solidariedade dos vizinhos. Minhas roupas estão em sacos, e como o que me oferecem. Me sinto muito sozinha", desabafou.

BUROCRACIA

O líder comunitário Marcelo Berlato, 32, explicou que cada morador terá de conseguir um imóvel para alugar por conta própria. A seguir, devem procurar a Secretaria de Habitação munidos do documento que receberam da Defesa Civil ao ter as casas interditadas. "Só com o papel será possível receber o auxílio", destacou.

A Prefeitura afirmou que construirá um abrigo para os desalojados, mas não há local nem data para o início das obras. (Camila Galvez)




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