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Dramas de uma vida
Por Cristie Buchdid
Do Diário do Grande ABC
16/03/2008 | 07:12
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A morte de um grande amigo abalou a escritora Maria Adelaide Amaral. Ela precisava colocar para fora todo aquele sofrimento e o fez por meio de palavras. Ela sentiu a necessidade de contar as vivências de seus amigos e de sua geração. O resultado foi o livro Aos Meus Amigos, publicado em 1992. Quando o escreveu, não pensava em adaptá-lo para a TV. Anos se passaram e a obra inspirou a minissérie Queridos Amigos, que está sendo exibida de terça a sexta-feira, pela Globo, até o próximo dia 28.

É a primeira vez que Maria Adelaide leva para a TV uma obra pessoal. Em entrevista exclusiva ao Diário, a autora conta como foi adaptar o livro para a minissérie e a emoção que sentiu ao reviver sua história:

DIÁRIO – Antes da estréia da minissérie Queridos Amigos, você declarou que na transposição do livro para o produto televisivo permanecia a sensação de que poderia ter sido feito mais. Agora que a minissérie está no ar, com o retorno do público, ainda resta tal sensação? Por quê?
MARIA ADELAIDE AMARAL – A minissérie se tornou outra coisa. Não é mais o livro, mas mantém, intacta, a essência do livro.

DIÁRIO – Como é o sentimento de ver na TV sua história e de seus amigos? Eles ganhando ‘corpos’ de atores. É emocionante? Nostálgico?
MARIA ADELAIDE – É muito emocionante, nostálgico, triste mesmo em alguns momentos. Muito difícil, sobretudo agora na reta final. Temos que nos despedir dessa história. De nós mesmos. Do que fomos. É uma cerimônia de adeus.

DIÁRIO – O livro foi inspirado em um momento triste de sua vida. Como foi reviver esse momento ao adaptá-lo para a TV? Está sendo doloroso?
MARIA ADELAIDE – Foi muito intenso e em alguns momentos muito doloroso.

DIÁRIO – Os personagens, tanto do livro como da minissérie, são todos reais ou de ficção, misturando características de várias pessoas? Léo (protagonista do livro e da minissérie), por exemplo, retrata fielmente Décio Bar (jornalista que era amigo de Maria Adelaide e cuja morte inspirou o livro)? Todos eles foram seus amigos? As histórias também são reais?
MARIA ADELAIDE – Posso dizer que o Léo do livro é calcado em Décio Bar, que Adônis é o jornalista e escritor Renato Pompeu, que Lúcia foi inspirada por Lídia Aratangy. Mas quando um livro é transposto para a televisão, a linguagem é outra e os atores conferem novas características aos personagens e seria leviano da minha parte ficar nomeando pessoas, até porque seriam muitas.

DIÁRIO – Você está retratada no livro? Em qual personagem?
MARIA ADELAIDE – A Lena tem um pouco de mim e da minha amiga Isabel Raposo. Mas agora tantas mulheres se identificam com ela, que não sei mais.

DIÁRIO – Você ajudou na escolha do elenco? Orientou os atores para que representassem fielmente os personagens do livro? Na tela, ficaram parecidos com o que são, ou foram, na vida real?
MARIA ADELAIDE – A Denise (Saraceni, diretora da minissérie) sempre foi uma grande parceira. O elenco foi escolhido a quatro mãos. E o resultado do trabalho é grande mérito dela.

DIÁRIO – Por que o livro sofreu várias adaptações para a minissérie? Mesmo assim, em sua opinião, o produto da TV retrata o livro da maneira mais fiel possível? A intenção inicial era fazer uma minissérie fiel ao livro?
MARIA ADELAIDE – Escrever a minissérie foi um exercício de superação. Não podia (e nem queria) ficar engessada no romance, porém era fundamental manter a sua essência. A televisão, como o cinema, tem uma linguagem diferente da literatura. Também foi uma maneira de reescrever essa história.

DIÁRIO – Você acha que quem assistiu à minissérie antes de ler o livro pode perder o interesse pela leitura?
MARIA ADELAIDE – Todas as minisséries inspiradas em livros os transformaram, todos, em best-sellers. As pessoas têm uma grande curiosidade em saber o que vai acontecer com os personagens, mesmo que sua trajetória tenha sido pouco ou muito modificada.

DIÁRIO – Qual obra ficou mais interessante, em sua opinião, o livro ou a minissérie?
MARIA ADELAIDE – Ficou outra coisa. É outro produto. Outra mídia. A minissérie é mais esperançosa que o livro. Eu não tinha tanta perspectiva quando o escrevi. Não tinha sido tocada pela possibilidade da morte, como fui anos depois. E o quanto a gente aprende.

DIÁRIO – Por que alguns personagens do livro, como Adonis, não foram para a TV?
MARIA ADELAIDE – O mais difícil foi abrir mão do personagem Adônis por falta de ator capaz de interpretá-lo. Não bastava ser gordo. Tinha que ser um gordo mórbido e ter inteligência cênica. O mais aproximado era o norte-americano Zero Mostel, que se matou há cerca de 30 anos.



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