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Maurício Soares admite candidatura a prefeito de SBC em 2008
Sergio Kapustan
Do Diário do Grande ABC
16/05/2005 | 08:11
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Depois de três mandatos à frente da Prefeitura de São Bernardo, Maurício Soares (sem partido) admite sua pré-candidatura à sucessão do prefeito William Dib (PSB) em 2008. “Ser prefeito quatro, três ou duas vezes não é o que me anima. O que me anima é que eu gosto de ser prefeito. É uma atividade da qual gosto. Tenho prazer”, disse o ex-prefeito, que chefia a Coordenadoria de Ações Comunitárias da Prefeitura, diretamente ligada ao gabinete de Dib. Maurício, que a cada eleição vestia a camisa de um partido diferente, estuda agora filiar-se ao PV. O advogado que atuou no Sindicato dos Metalúrgicos no auge das greves foi eleito a primeira vez em 1988, pelo PT, partido que ajudou a fundar e do qual hoje é crítico. Na segunda gestão, em 1996, estava no PSDB. Foi reeleito pelo PPS, mas na metade do mandato afastou-se alegando doença. Maurício, que completa 66 anos em julho, retornou ao PSDB e recentemente anunciou sua desfiliação. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Diário:

DIÁRIO – O sr. acaba de deixar o PSDB pela segunda vez. Elegeu-se prefeito por três partidos diferentes: PT, PSDB e PPS. Qual é o seu conceito de fidelidade partidária?
MAURÍCIO – A fidelidade partidária não pode ser uma camisa de força. Eu mudei de partido sempre que estava incomodado. No caso do PT, eu não concordava mais com algumas das teorias e práticas, apesar de ser um dos fundadores do partido. Por isso, essa questão da fidelidade partidária precisa ser relativizada. Se aquelas condições nas quais você se filiou mudaram, você tem o direito de buscar outro caminho.

DIÁRIO – A infidelidade partidária é generalizada no país. A culpa é de quem?
MAURÍCIO –A verdade é que, no geral, os partidos são uma grande miscelânea, com exceção do PT de antigamente e dos partidos de esquerda idelógicos, como o PCO e o PSTU. O PT mudou quando o Lula assumiu a Presidência e aí começou a trabalhar do jeito que os outros governos vinham trabalhando. O PT não acabou com o toma lá dá cá.

DIÁRIO – O PT era a última esperança?
MAURÍCIO –O PT era o partido que mais segurava a questão ética e da organicidade. O PT funcionava o ano todo e tinha contato com os diretórios e os núcleos dos bairros. Era atividade partidária o ano todo. O PT tinha essa virtude, era organizado e tinha vida permanente. Hoje, resta muito pouco daquele partido. Aqui em São Bernardo chegamos a ter 30 núcleos do partido. Então as incursões fluíam a partir dos núcleos, iam para os diretórios, onde se discutia, deliberava, recebia, mandava para as estâncias superiores os assuntos mais importantes. Depois os núcleos foram morrendo. Hoje não sei se existe algum. Se existir é muito pouco.

DIÁRIO – Essa questão da fidelidade, ou melhor, da infidelidade partidária é uma das características do seu grupo. É difícil conciliar os interesses dos políticos e dos partidos?
MAURÍCIO – Não existe fidelidade partidária neste grupo. Por que não existe? Porque nós nunca estabelecemos isso como princípio. O grupo resultou de uma aliança formada em 1996 com sete partidos. Em 2000 chegamos a 15 e em 2004 a 21. Nós governamos a cidade com diferentes partidos sem nenhum problema porque o que nos une é o programa de governo.

DIÁRIO – Como acabar com o troca-troca nos partidos?
MAURÍCIO – Para funcionar melhor, o país precisa de dois ou três partidos fortes, com fidelidade partidária mitigada, não a fidelidade canina. Do ponto de vista ideológico, não vejo diferença nenhuma entre os partidos. O que os diferencia um pouco é a prática, mesmo assim não há diferenças marcantes.

DIÁRIO –  Qual dos partidos têm uma prática diferenciada?
MAURÍCIO – O PV. Primeiro, ele tem um ideário preservacionista. A sua militância se congrega em torno de um ideal: a preservação da terra, das águas e das matas. Não é igual aos outros partidos que têm uma série de pontos no programa e não cumpre nenhum.

DIÁRIO – Então o PV pode ser o novo partido do sr.?
MAURÍCIO – Pode. Eu não tenho nada contra eles, mas também não tenho nenhuma definição para ir para lá agora. Eu não vou me candidatar em 2006.

DIÁRIO – O PV lhe agrada?
MAURÍCIO – Eu gosto do partido, mas não tomei nenhuma decisão ainda. Tenho um tempo para pensar.

DIÁRIO – O PT de São Bernardo foi amplamente derrotado na última eleição. O percentual de votos para prefeito em relação à eleição de 2000 diminiu – de 35% para 26% – e a bancada de vereadores também: de cinco para quatro. Qual o futuro do partido na cidade?
MAURÍCIO –  O PT não se renovou. Ao longo desses anos, você vê as mesmas caras e todas do movimento sindical: Vicentinho (deputado federal), Luiz Marinho  (sindicalista),o Zé Ferreira (vereador) e a Ana do Carmo (deputada estadual). Não se brotou uma liderança nova capaz de apresentar uma prática nova e mais propositiva. Eles ficam sempre na oposição, que é uma oposição monótona, que é sempre do contra. Isso daí vai cansando. Outra coisa que contribuiu para o declínio do PT, foi o declínio simultâneo do sindicalismo. O sindicalismo aqui foi forte, principalmente na época em que me elegi prefeito pela primeira vez, em 1988. Eu fui eleito pelos trabalhadores. O sindicato dava uma palavra de ordem e os trabalhadores seguiam. Hoje, o sindicato não tem mais essa importância. Não há mais militância. Isso significa que o PT está se desmilingüindo. Se não surgir uma liderança nova e forte que empolgue o partido, vai ficar difícil.

DIÁRIO – Sem uma liderança forte, o PT abre caminho para seu grupo vencer a eleição municipal de 2008?
MAURÍCIO – Com certeza. Eles têm que mudar os métodos. São Bernardo não é mais uma cidade operária. O número de empregados na Volkswagen, por exemplo, diminiu muito. Antes havia 40 mil funcionários na indústria, hoje está entre 10 mil a 12 mil.

DIÁRIO – O presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, pensa igual. Para ele, o PT precisa dialogar com a classe média de São Bernardo. Qual é a sua avaliação?
MAURÍCIO – Concordo com ele. A classe média é majoritária aqui. Eu falo da classe média baixa e da média alta. O operário metalúrgico hoje ganha bem, é classe média, baixa, mas é classe média. Imagine quantos professores têm aqui, uma coisa incrível! Há também funcionários públicos, executivos, escriturários e técnicos. Isso tudo constitui uma classe média muito forte e conservadora. Ao fazer um discurso radical, o PT prega no deserto porque ninguém mais o escuta.

DIÁRIO – O quadro de isolamento do PT não se repete em Santo André e Diadema, cidades onde o partido governa há muito tempo. Qual é a razão desse contraste?
MAURÍCIO – É o radicalismo do PT de São Bernardo e isso é cultura sindical. No tempo da ditadura militar (1964-1985), por exemplo, esse radicalismo valia. O país crescia 10% ao ano, mas havia o arrocho salarial. A renda do trabalhador diminuía, por isso, havia a necessidade de se radicalizar naquele momento. A situação mudou e o sindicalismo não soube fazer a transição.

DIÁRIO –  E Santo André e Diadema?
MAURÍCIO – Em primeiro lugar, Santo André teve a sorte de ter um líder da estatura do prefeito Celso Daniel, que isolou os radicais na região. Ele modernizou o PT. Em Diadema ocorreu a mesma coisa. O PT elegeu sucessivos prefeitos, apesar da complexidade da cidade. Mauá é outra cidade que o prefeito Oswaldo Dias foi muito bem. Ele é um líder inteligente e conseguiu também pôr ordem na casa.

DIÁRIO –  Do ponto de vista político, o PT em Santo André e Diadema caminhou para o centro?
MAURÍCIO – Com certeza pode se dizer que as duas administrações abandonaram as propostas extremadas. Elas procuraram o apoio da sociedade civil como um todo e trouxeram para dentro do governo.

DIÁRIO – Voltando à política de São Bernardo. O sr. é candidato em 2008 à sucessão do prefeito William Dib ?
MAURÍCIO – Eu sou político. Reununciei ao mandato de prefeito por questões de saúde. Político é uma coisa. A mosca te morde, você continua até o fim da vida, participando de uma forma e de outra. Se em 2008 houver eleições e eu estiver bem de saúde, o meu nome está disponível para qualquer coisa. Desde ser candidato até apoiar a um outro.

DIÁRIO –  Dizem que o sr. é o único político que não racharia o grupo que governa São Bernardo. É verdade?
MAURÍCIO – Pode ser. Mas posso citar outro nomes importantes: Admir Ferro (Secretário de Ações Voltadas à Comunidade); Otávio Manente (Secretário de Obras), Orlando Morando (deputado estadual) e Gilberto Frigo (Secretário de Infra-Estrutura). Eles estão na política há tempo e, de certa forma, querem também o cargo de prefeito. Agora, se todos eles saírem candidatos, corre-se o risco de o PT ganhar.

DIÁRIO – Então o sr. é candidato a um quarto mandato?
MAURÍCIO – Ser prefeito quatro, três ou duas vezes não é o que me anima. O que me anima é que eu gosto de ser prefeito. É uma atividade da qual gosto e tenho prazer. Eu faço isso com alegria.

DIÁRIO – Essa sua disposição não dificulta a renovação de lideranças?
MAURÍCIO – De certa forma estou fechando o caminho para alguém que vem atrás, mas é preciso avaliar. A falta de renovação é ruim, mas é preciso saber se a pessoa está preparada para ganhar e governar. Não adianta querer renovar e perder. Isso não serve para o nosso grupo. Governar uma cidade não é uma coisa impossível, nem milagrosa, mas é uma tarefa complexa. Em cidade deste tamanho, o cara não pode balançar. Na hora H, ele vai comer na mão de assessor ou de um outro. Será um governo despersonalizado. Por isso eu apoiei o Dib que estava mais que maduro para ser prefeito. O Dib tem 30 anos de Prefeitura. O jovem, por mais que esteja preparado, às vezes falta a ele experiência de vida e a prudência. Um sujeito impetuoso com a caneta na mão pode acertar muito ou também fazer muita bobagem. Mas se em 2008 houver realmente um candidato forte para impor outra derota ao PT, que demonstre maturidade, estou disposto a abrir lugar para ele.

DIÁRIO –  Como sr. avalia a guerra fiscal promovida pelas Prefeituras de Mauá e Ribeirão Pires para atrair empresas?
MAURÍCIO – Sou contra. Totalmente contra. Não favorece o desenvolvimento dos municípios.

DIÁRIO – Por que os prefeitos do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC não conseguem um acordo para evitar a guerra fiscal?
MAURÍCIO – Eu acho que o pessoal olha muito para o próprio umbigo e o entendimento não avança.

DIÁRIO – Qual é o futuro do entendimento regional do Grande ABC?
MAURÍCIO – Dar muitos passos. Ainda está na infância, digamos assim. A discussão da regionalidade e do Consórcio teve início no meu primeiro mandato. Foi o ex-prefeito de São Caetano Luiz Olinto Tortorello que começou tudo. Ele chamou os seis prefeitos para um jantar e defendeu a idéia. Ele disse que o ABC era uma cidade só e que precisava de um órgão, surgindo o Consórcio (em 1990). Mas adiante, não sei por qual razão, ele se desgarrou do grupo. Quando o sujeito vai embora e vai para outra, tem um ditado em latim que fala assim: “De mortirus diz im bonium” – traduzindo, “dos mortos não se fala, senão o bem”. Não vou aqui criticar o Tortorello, mas ele foi que teve a idéia. Coube aos demais prefeitos da região continuar a idéia.

DIÁRIO –  A regionalidade é uma promessa difícil de sair do papel ?
MAURÍCIO – Nós temos instrumentos para agir conjuntamente, mas há muitos entraves aí. Entraves são os interesses locais dos municípios. Isso prejudica a regionalidade. Cada prefeito acaba tomando decisão ao sabor da política local. Ele pensa em atender interesses locais e na sua vaidade. Tudo isso soma e se tornam obstáculos para o presidente do Consórcio (William Dib) e para a unidade das sete cidades. Com a morte do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), em 2002, nós perdemos um aliado forte.




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