Cultura & Lazer Titulo
Tempos de clandestinidade
Kelly Zucatelli
Do Diário do Grande ABC
31/05/2011 | 07:00
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Em 3 de novembro, Hebert de Souza, o Betinho, completaria 76 anos. Hemofílico, morreu em 1997, em decorrência de complicações da Aids. Mineiro, o sociólogo empreendeu sua militância também no Grande ABC, na década de 1970. Parte dessa experiência será contada no documentário Nome Frio - Betinho, Clandestino em Mauá, que o Instituto Henfil produziu e lançará no dia 29, na Livraria Cultura do shopping Market Place (Avenida Doutor Chucri Zaidan, 902), em São Paulo. No Grande ABC, o trabalho ainda não tem data para ser lançado. 

A cineasta Ana Paula Quintino, de Mauá, é a responsável pela produção de 23 minutos, que conta com narrativas e depoimentos de amigos e de Betinho, da época da ditadura militar.

"Há um ano comecei os estudos e pesquisas tanto sobre a história do Betinho quanto a situação da cidade na época da ditadura militar. Para isso, coloquei a câmera nas mãos e cuidei da produção, escutando várias pessoas que viveram com ele. Inclusive, sua última mulher, Maria Nakano", detalha Ana Paula.

Mais do que a busca de refúgio em Mauá, entre 1969 e 1970, devido à repressão política, Betinho trabalhou ativamente para conscientizar o operariado do Grande ABC e conquistar novos participantes para resistência. Boa parte dessa sua atuação foi quando trabalhou na fábrica Porcelana Real.

"Para que as pessoas entendam um pouco do movimento histórico da época, teremos no lançamento a presença de Thilden Santiago, que foi padre e, em 1970 viveu a época de repressão como operário. Ele irá esclarecer um pouco dos momentos que passou ao lado de Betinho", detalha o presidente de honra do Instituto Henfil, Mateus Prado, colunista do Diário.

O representante explica que no conteúdo do documentário descreve vários momentos importantes de Mauá, e o peso de Betinho na cidade daquela época, para manter a centralidade política e o estímulo da produtividade dos operários.

O título do documentário refere-se ao codinome adotado por quem combatia o regime, na clandestinidade. Em Mauá, Betinho era conhecido como Chico. Anos mais tarde, no entanto, ganhou a alcunha de "irmão do Henfil", graças à O Bêbado e o Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, imortalizada por Elis Regina. Henrique filho, o irmão cartunista, morto em 1988, é patrono do instituto .

OUTROS TRABALHOS
Após o lançamento do documentário de Betinho, o Instituto Henfil já tem programado, para o fim do ano, um filme sobre a história do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.

Discurso simples e forte

Sob trilha sonora produzida pelo músico Harley Antonio do Nascimento, de Mauá, o documentário traz depoimentos emocionados daqueles que tiveram que se esconder e viver momentos difíceis para escapar à ditadura militar.

O sociólogo e professor Olivier Negri Filho, de Mauá, lembra com nitidez das situações vividas por Betinho durante o tempo que o teve hospedado na casa de sua família. "Ele (Betinho) era um homem simples, que conseguia levar sua mensagem para as pessoas de diversas culturas. Fazia questão que todos entendessem conceitos complexos, através de uma linguagem simples.

Durante o ano de 1969, quando morou na minha casa, minha mãe, que era enfermeira, cuidou bastante dele, pois devido à hemofilia, ficava muito debilitado. Naquela época não existiam Unidades Básicas de Saúde na cidade, e também não podia ir para o hospital sempre, pois corria o risco de ser preso", detalha o amigo. Depois desse tempo na região, Betinho sai do Grande ABC para se exilar no Chile.




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