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Terror tem três novidades nos cinemas da região
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
18/08/2006 | 08:49
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É uma praga, que talvez nem o mais potente pesticida seja capaz de exterminar: jogos adaptados de videogames. Terror em Silent Hill é mais um. Ademais, está entre os espécimes do gênero horror que nesta semana superlotam as salas de cinema – além dele, estréiam também hoje os aterrorizantes (pelo menos é o que dizem os respectivos cartazes) Almas Reencarnadas e Stay Alive – O Jogo Mortal. Mais um, não. Silent Hill, que foi líder de bilheteria quando estreou nos Estados Unidos, em abril deste ano, objetiva destacar-se do cinema de ação cuja associação é tão comum quando a fonte de inspiração do filme são jogos eletrônicos.

Nesse sentido, é um pouco mais fiel ao suporte que lhe serve como base de argumento. Simplesmente porque, acima de tudo, procura um efeito sensorial imediato junto ao espectador, igual a um game. O gênero do qual é signatário facilita as coisas. O filme de terror manipula os sentidos de forma imediatista. Depende do súbito, do repentino, do imprevisível como seus sustentáculos. O jogo do qual deriva, um best-seller, depende igualmente da surpresa como elemento de diferenciação –

em alguns instantes, desorienta seu jogador a partir do medo. Um impulso que o diretor Christophe Gans, exportado da França depois de realizar o arrogante Pacto dos Lobos (2001), procura reconstituir em tela.

A história é um elogio à maternidade. Uma mulher (Radha Mitchell), preocupada com estranhos sonhos da filha, ignora os diagnósticos que apontam desvios de natureza mental e psicológica na menina. Confiante de que pode provar a sanidade da cria, e a despeito dos conselhos do marido (Sean Bean), a mãe resolve procurar no mundo real a cidade de Silent Hill, na qual a filha diz que seus pesadelos são ambientados. Na busca pela tal latitude, acidenta-se na estrada. Ao acordar, não encontra a filha a seu lado. Descobre, em meio a um cenário desértico e árido, a tal Silent Hill.

Um incessante som de sirenes e uma coleção de criaturas que, definitivamente, não seriam a melhor companhia para um happy hour, nem mesmo no pior dos sujinhos, povoam o lugar que Rose, a mãe heroína, vasculha à procura da menina e que foi acometido por uma tragédia décadas antes.

Recentemente, Gans é o segundo francês que migra para o cinema norte-americano incumbido de reinventar o cinema de terror. Junto a ele, foi o Alexandre Aja de Viagem Maldita, este com habilidades muito mais visíveis. Gans limita- se à arquitetura do susto, de pegar o espectador de calças curtas. É fiel à sensação lúdica dos games, mas desleal quanto à problematização do transporte de um meio para o outro. Não faz enredo, não faz debate. Faz sensações.

É hábil na ambientação e na materialização do medo. As criaturas que habitam Silent Hill, e seus movimentos lúgubres, e a ambiência dos subterrâneos da cidade, com uma fotografia que procura o contraste entre rubro e cobre envoltos por um escuro cadavérico, podem fazer muita gente dormir com a luz do abajur acesa depois de deixar o cinema. Mas é uma engenhosidade que não tem um eixo estético, que não tem uma militância narrativa que transcenda o simples objetivo de colocar pânico.

Realiza uma ambientação local, pontual, efêmera. Compromete todo um tecido narrativo – e possíveis embates entre espaço real e espaço onírico, entre a fé materna e o dogma científico, entre passado e presente – porque precisa ejetar metade da sala das poltronas, e não dá mostras de saber realizar as duas coisas de uma vez. Faz um cinema que não exige prática nem habilidade, apenas um conhecimento razoável das filmografias de Wes Craven e de John Landis. E um brevê no joystick.

TERROR EM SILENT HILL ( Silent Hill, EUA, 2006). Dir.: Christophe Gans. Com Radha Mitchell, Sean Bean, Laurie Holden. Estréia hoje no ABC Plaza 6, Extra Anchieta 3, Central Plaza 7 e circuito. Duração: 127 minutos. Classificação: 18 anos.

E mais medo - De tão influente no cinema de horror ocidental, o filme de terror japonês ganhou nome – j-horror – e agora uma série que pretende, com seis filmes, usar e abusar de seus códigos. Almas Reencarnadas, dirigido pelo mesmo Takashi Shimizu de O Grito, é o terceiro filme da linhagem e o primeiro a ocupar telas brasileiras.

Em linhas gerais, faz pouco além de adaptar e repintar com palhetas moderninhas a versão de Kubrick para O Iluminado. Um diretor de cinema pretende filmar uma carnificina ocorrida 35 anos antes em um hotel, onde um homem matou 11 pessoas e filmou os crimes. Reunidos elenco e equipe, instalam-se no cenário do massacre e alguns passam a manifestar estranhezas e suspeitas de possessão. Esse Iluminado de olhos puxados tem até criancinha assustadora. Só faltava ela batizar o próprio dedo de Tommy.

ALMAS REENCARNADAS (Rinne, Japão, 2005). Dir.: Takashi Shimizu. Com Yuuka, Karina, Kippei Shiina, Hiroto Itô. Estréia hoje no Mauá Plaza 1. Duração: 95 minutos. Classificação: 14 anos.

Mais um - Stay Alive – Jogo Mortal, mesmo que de forma não-intencional, põe à tona a relação entre morte e ludicidade que videogames e filmes (adaptados ou não de jogos) propagam no meio audiovisual. Um grupo de jovens, na tentativa de descobrir as razões da morte de um amigo, se vê enredado em um jogo de computador que é o território de uma tal Condessa Sanguinária. E descobrem que, uma vez que os personagens que os representam no jogo são assassinados, eles são mortos na vida real. Não mata grandes charadas, não sugere grandes debates em torno das concepções de morte e de sua vulgarização. Mas, ao menos, coloca na marca do pênalti a questão. Falta um talento maior que o de Brent Bell para decifrá-la.

STAY ALIVE – JOGO MORTAL (Stay Alive, EUA, 2006). Dir.: William Brent Bell. Com Samaire Armstrong, Frankie Muniz. Estréia hoje no ABC Plaza 2, Mauá Plaza 5, Central Plaza 3 e circuito. Duração: 85 minutos. Classificação: 16 anos.



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