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'Gandhi era uma pessoa adorável'

Arun Gandhi, quinto neto do pacifista indiano, descreve em livro recém-lançado ensinamentos do avô

Por Miriam Gimenes
11/02/2018 | 07:00
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Divulgação


 Há sete décadas o mundo perdia um de seus principais líderes, o pacifista indiano Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948). O homem que pregava a não violência foi assassinado a tiros, em Nova Delhi, por um hindu radical, que foi enforcado em seguida, contrariando assim o último pedido de sua vítima. E não só a Justiça indiana parece não ter ouvido o que aquele que foi indicado cinco vezes para Nobel da Paz pregou. Passaram-se os anos e cada vez mais o mundo está longe de se adequar à sua ‘grande alma’ – significado de Mahatma, em sânscrito.

Mas se depender de seu quinto neto, Arun Gandhi, 84 anos, seu legado não vai se perder com o tempo. Ele, que é presidente do Gandhi Worldwide Education Institute e viaja ao redor do mundo difundindo sua mensagem de paz e não violência, acaba de lançar A Virtude da Raiva (Sextante, 176 páginas, R$ 29,90).

Na obra, com um texto leve e emocionado, ele fala sobre os dois anos em que morou com seu Bapuji e como Gandhi o ensinou a domar a raiva e outros sentimentos inerentes do ser humano. “Sempre o vejo como avô, uma pessoa adorável, e ele sempre será isso. Não o enxergo como um santo e, sim, uma pessoa comum que fez coisas maravilhosas ao mudar a si mesmo”, conta ao Diário.

Arun, que morava na África do Sul do apartheid, conhecia o avô apenas pelo que os pais contavam. Foi para Índia, aos 12 anos, e teve a oportunidade de viver a essência do líder pacifista. “Ele me confidenciou que, assim como eu, naquela época ele também enfrentou situações que o tiraram do controle quando mais jovem, cometeu erros. Mas decidiu que isso era ruim e não podia viver assim, tinha que mudar.” E assim Gandhi foi evoluindo, ao longo da vida adulta, até se tornar o que queria ser.

Algo, portanto, que pode ser alcançado por qualquer um, segundo o escritor. “Isso é possível se começarmos a praticar a mudança em vez de reagir às pessoas que fazem algo contra nós, se tentarmos encontrar maneira diferente de lidar com a situação. Mas isso exige educação e prática diárias. A não violência é pautada no amor, compreensão, respeito, aceitação e compaixão. Essas são as coisas que precisamos praticar e viver todos os dias.” A raiva, acrescenta, é a principal força-motriz da violência no mundo. Se o ser humano aprender a usá-la de maneira inteligente e construtiva, certamente os conflitos serão reduzidos.

SER HUMANO
Arun diz que para mudar o cenário caótico que vemos hoje, cada um de nós tem de se comprometer a ser um indivíduo melhor e tem de incentivar as crianças para criarem a mesma consciência. Para tanto, sugere que se faça lista de tudo que consideramos nossas fraquezas. “É um exercício diário: todos os dias, quando acordar, temos de nos comprometer a mudar uma dessas fraquezas. É assim que nós continuamos a crescer e nos tornamos pessoas melhores, dia após dia. Mas o que vejo hoje é que a gente está apenas vivendo e apenas viver do jeito que já somos não nos trará nenhuma mudança. Não estamos nos tornando melhores, estamos apenas existindo. Para mim é muito difícil ouvir de um jovem que ‘sou como sou e você tem que aceitar isso’. Nós não somos o que somos. Nós somos o que fazemos de nós mesmos e nós sempre podemos nos tornar pessoas melhores.”

É desta maneira, mantendo os ensinamentos de seu Bapuji vivos, que ele ameniza a falta que sente “da sua companhia, da sua alegria e da sua risada.” Como ouviu de seu avô, Arun promove, literalmente, a mudança que ele quer no mundo.

Livro mostra homem por trás do mito
Ganhador do prêmio Pulitzer, o jornalista Joseph Lelyveld fez pesquisas na África do Sul e na Índia para entender o que aconteceu com o jovem estudante de Direito, vestido de terno inglês, que o transformou no conhecido líder pacifista indiano, que trajava apenas uma tanga. O resultado de seu estudo rendeu o livro Mahatma Gandhi e Sua Luta com a Índia (Companhia das Letras, 472 páginas, R$ 57,90, em média).

O jornalista começa a contar essa história a partir do momento em que o indiano está morando na África do Sul, já como advogado, e daí para frente mostra as nuances dessa figura tão importante para história mundial. Para tanto, oferece na obra visão humana da realidade, desnuda diversos mitos criados em torno da figura de Gandhi e destaca, além de suas vitórias, também os seus fracassos.




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