Cultura & Lazer Titulo Nova novela
Elenco aprende sobre Índia em palestra

Tony Ramos e Juliana Paes, entre outros, assistiram palestra para compor personagens de nova novela

Por Mariana Trigo
Da TV Press
01/09/2008 | 07:07
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Os olhos atentos de quase todo o elenco de Caminho das Índias fitavam a mesma direção. Quase sem pestanejar, atores como Tony Ramos, Juliana Paes, José de Abreu, Vera Fischer e Cláudia Jimenez, por exemplo, não desviavam a atenção do palestrante numa conferência sobre a Índia. Leandro Karnal, doutor em História pela USP e professor da Unicamp, regia a platéia de aprendizes da próxima novela das oito da Globo - ainda sem data de estréia - como um maestro clássico controla cada conversa entre instrumentos.

Por meio de um telão que reproduzia gráficos com informações sobre a economia, números de habitantes, acontecimentos históricos e fotos do povo indiano, o palestrante hipnotizava a atenção de todos com um humor ácido e profundo conhecimento de minúcias daquela nação milenar.

No processo de composição de seus personagens, cada ator tentava absorver informações mais precisas sobre a cultura daquele país. "Nesse workshop, vamos fazer uma passagem rápida pela História, como o domínio britânico, as ocupações, o Império Mughal, o budismo e o Hinduísmo", enumerava Leandro.

A cada assunto que o historiador aprofundava, envolto em piadas inteligentes e alusões freqüentes à cultura ocidental, os atores, diretores, toda a equipe de produção da novela e a autora Glória Perez se desdobravam em gargalhadas. Com uma didática apurada, Leandro também foi alvo de questionamentos por parte de vários atores.

Complexo - Tony Ramos, por exemplo, que vai interpretar Opash, um indiano orgulhoso, se preocupava com a informação das tradições destes costumes para o público. O ator indagava o historiador: "Como vamos mostrar milênios de tradições em doses homeopáticas de um folhetim sobre um assunto absolutamente complexo?"

A cada pergunta, Leandro, com respostas informativas, esbanjava seu domínio sobre o assunto. "Nunca teremos o controle da informação. Cada um absorve o que lhe interessa. Algumas pessoas assistem aos programas para reforçar seus universos e não para transformá-los", rebatia o palestrante.

Ratos - Pouco antes da enxurrada de perguntas iniciada pela autora Glória Perez, Leandro também mostrou diversas imagens de costumes exóticos dos indianos, como o respeito que este povo tem pelos ratos.

Uma foto de uma criança de aproximadamente dois anos oferecendo uma imensa tigela de leite para dezenas de ratazanas, quase causou um alvoroço na platéia, que reagia com "arghs", "ecas" e "uis".

Em seguida, a atriz Cláudia Jimenez perguntou: "Por que eles dão essa moral toda para os ratos?" Com um esboço de sorriso, Leandro retorquiu: "É possível que um indiano pergunte por que dão tanta moral aos poodles da Barra da Tijuca. A estranheza de alguns templos com ratos não reflete o outro, mas como você se enxerga. O outro é sempre o estranho?", devolveu, com sutileza.

Elos culturais - Quando grande parte da platéia já se acostumava em aceitar costumes diferentes dos ocidentais, Leandro começava a criar elos entre as culturas brasileira e indiana.

Além de citar que a arte barroca brasileira conta com traços chineses e indianos, fez leves referências à culinária e lembrou que o açúcar é uma descoberta indiana.

Outro tema bastante citado foi o comportamento das mulheres e a inserção delas na sociedade.

Juliana Paes, que interpreta a protagonista Maya, se envolve com Bahuan, de Márcio Garcia, é de uma casta - ou seja, uma camada social hereditária - diferente de Maya. Por isso, não é aceito pela família dela.

"Estou lendo muitos livros, assistindo a documentários e aprendendo a meditar para entrar numa fase de autoconhecimento como se prega na Índia", explica Juliana Paes.

Dentre diversas informações sobre sáris - vestimenta das mulheres indianas que chegam a ser feitas com oito metros de tecidos - e a posição das mulheres na hierarquia, Leandro afirmou que a Índia é um país tão machista quanto o Brasil. "Mas eles já tiveram uma primeira-ministra. Nós não tivemos nenhuma mulher presidente do país", comparava.

"Para vivenciar uma cultura tão diferente da nossa, temos de nos despir dos nossos valores", acrescentava o diretor da trama, Marcos Schechtman.

O workshop aconteceu no último dia 26, no Rio. Os atores também conversaram com indianos que moram no Brasil e brasileiros que foram morar na Índia.




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