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A modulável genética e a obesidade!
Por Antônio Carlos do Nascimento
13/09/2021 | 00:01
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Muitas características genéticas podem ser modificadas pelo meio ambiente, o que possibilita gêmeos idênticos expressarem imensas diferenças comportamentais, estéticas e clínicas quando estão em ambiências distintas. É possível então, um deles ser obeso, por conviver em cultura extremamente ocidentalizada, com alto consumo de alimentos processados e ultra processados, enquanto sua cópia exata, seja magro, mesmo sendo "bom garfo", em convívios afeitos a alimentação mais saudável.

Eventualmente, os atributos genéticos que gerenciam o consumo calórico e peso corporal são tão robustamente estabelecidos em determinados organismos, que nem mesmo as mais desregradas atmosferas farão com que seja perdido o controle quantitativo calórico. Neste caso, mesmo que separados desde os primeiros dias de vida e sejam criados em culturas muito diferentes, gêmeos idênticos apresentarão pouco contraste quanto ao peso corporal durante a vida.

Nós não sabemos exatamente quais são os genes que possam nos proteger da modulação do meio ambiente para o nosso balanço calórico, fazendo com que a satisfação alimentar não desobedeça a matemática, não importando quais elementos químicos tentem modificar, sem qualquer dificuldade, a ingesta é mantida até que seja atingido o necessário para repor nossos gastos.

Mas, temos certeza de que apenas uma fração da população humana tem o privilégio desta proteção, menos de um terço do total, distinção para poucos, dentre os quais surgem sempre alguns "falsos moralistas dietéticos" alinhando os seus comportamentos contidos no consumo alimentar como resultante de seus esforços pela boa forma. Porém, o fato é que suas invejáveis práticas são decorrentes de obediência instintiva, naturalmente conduzidas por um imaculado sistema de saciedade e fome, que não foi modificado (ao menos por enquanto), ou muito pouco, pelos inúmeros agentes químicos do meio ambiente. 

Guiarmos nossos comportamentos pelos bem-aventurados magros genéticos não é boa métrica, pois, eles não estão submetidos às mesmas imposições cerebrais, suas verdades não são as mesmas da imensa maioria, nem tão pouco devem ser admitidos como exemplos, dada a sua inviolabilidade pelos agentes ambientais.

Precisamos rapidamente encontrar os caminhos que nos distanciem de exposições tóxicas, que devassam nosso controle de fome e saciedade, sendo um bom começo seguir as orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira, extraordinário instrumento criado em 2014 pela parceria entre Ministério da Saúde e o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo, e de fácil aquisição por vários meios.

Seguramente diminuiremos a escalada da obesidade no que esteja relacionado com erros alimentares, no que faremos muito melhor praticando atividades físicas em suas várias formas de execução. Mas, como sempre, nunca é demais anotar, não haverá emagrecimento substancial com as novas condutas, evitaremos pioras, contingenciaremos danos e protegeremos nossas crianças de obesidade futura.

Não estaremos livres dos elementos nocivos que invadem nossos sistemas se desgarrando de embalagens, mobiliários, cosméticos e afins, mas bloquearemos o acesso dos mal feitores alimentares, habitualmente presentes em enormes quantidades em comestíveis processados e ultra processados, que podem ser substituídos sem qualquer desconforto.

E que os sortudos magricelas da genética capitalizem seus discursos com moderação, pois, as mesmas substâncias nocivas que não lhes trazem transtornos com a balança, podem causar inúmeros outros estragos, bem além das desventuras da obesidade.




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