Política Titulo Corrida eleitoral
Eleição vira alternativa de refugiados
Por Junior Carvalho
25/09/2016 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC:


Sem emprego e fugindo das condições de vida precárias que tinham em seus países de origem, refugiados do Haiti e de Angola aproveitam a eleição no Grande ABC para tentar obter, em 45 dias de campanha, dinheiro para se manter no Brasil e transferir parte aos parentes que continuam nas nações. Eles distribuem santinhos e balançam bandeiras de prefeituráveis e postulantes à vereança pelas ruas. Assim como milhões de brasileiros que estão sem emprego fixo, esses estrangeiros acabam migrando para o trabalho informal. Único caminho que garante sustento em terra desconhecida, mas que não assegura a tão almejada vida digna.

O Diário apurou que são pelo menos 30 imigrantes, entre haitianos e angolanos, atuando na divulgação de campanhas. O salário é de R$ 40 por dia, mas o pagamento é feito uma vez só no mês. Atuam em horário comercial, de domingo a domingo, e têm direito a um almoço pago pela coordenação das candidaturas. Como não moram na cidade (alguns residem na Zona Leste da Capital), um ônibus fretado vai buscá-los todos os dias na Estação Utinga, em Santo André, de onde são levados para cidades da região para iniciar a jornada de caça a votos.

Embora não seja o emprego ideal, foi a única saída que encontraram para sobreviverem. “Eu vim tentar uma vida nova. Em Angola, as coisas são complicadas para conseguirmos um serviço, é difícil. O país tem dinheiro, mas como um país rico tem tanta gente sofrendo? Para você arrumar trabalho lá tem que ter um parente que é chefe de alguma coisa”, relatou o angolano Jorge Manuel da Silva, 29 anos.

A Angola tenta superar a guerra civil gerada com o conflito entre o grupo que está no poder desde que o país declarou independência a Portugal, em 1974, e protestantes que pedem a libertação da nação. Em meio ao contraste entre miséria e riqueza – o país possui reservas de petróleo e lucra com a mineração –, a disputa já matou milhares e tem forçado a imigração há anos.

Jorge Manuel está no Brasil há um ano e sete meses. Conta que chegou a conseguir emprego fixo em empresa de esterilização de materiais de hospital, mas a crise econômica que afetou o Brasil recentemente prejudicou a firma, que teve de demiti-lo. Quando questionado sobre o que achava de trabalhar como cabo eleitoral, Jorge Manuel é taxativo. “Vou fazer o quê? Tenho uma mulher aqui e deixei um filho em Angola. Tenho que mandar dinheiro, preciso ajudá-los”.

Tímida e ainda com dificuldades de entender o sotaque brasileiro do português, Elisebeth Kuyengila, 27, conta que precisou de ajuda para vir ao Brasil, há cinco meses. “Vim sozinha, de avião. Uma médica de lá me ajudou com dinheiro para eu comprar passagem para vir para cá procurar emprego. Eu gosto daqui”, diz ela, enquanto balança uma bandeira de campanha. Tanto Elisebeth quanto Jorge Manuel são de Luanda, capital angolana.

POLÍTICAS PÚBLICAS
Para Rita Duval, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina, a atuação desses refugiados nas campanhas eleitorais não é necessariamente irregular, mas ela frisa que a informalidade não é o ideal e explica que os imigrantes precisam de capacitação profissional para que ingressem no mercado formal.

“Trabalhar como cabo eleitoral durante o período das eleições é uma oportunidade para que essas pessoas consigam recursos para se manterem. O mercado da informalidade acaba sendo a única saída. O que é lamentável. O Brasil precisa pensar em políticas públicas de integração desses estrangeiros que chegam aqui. É incongruente, pois o nosso País está comprometido na ordem internacional com a recepção desses estrangeiros, mas não tem políticas públicas que possam integrar essas pessoas, seja para facilitar o trâmite de reconhecimento de escolaridade deles ou para capacitá-los para o mercado de trabalho rapidamente”, avaliou.




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