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São Caetano é cenário para recomeço de imigrante sírio

Proprietário de restaurante árabe trocou cenário
de guerra por vida ao lado de brasileira

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
03/04/2016 | 07:00
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Celso Luiz


“O destino lhe atira uma faca. Cabe a você decidir se pegará pelo cabo e usará a seu favor ou a pegará pela lâmina e se cortará”. O provérbio árabe pode ilustrar o recomeço de Badri Loutfi, 42 anos, que decidiu abandonar o cenário de guerra, dor e sofrimento de sua cidade natal, Damasco, Capital da Síria, no Oriente Médio, há dois anos e quatro meses, em busca de vida mais tranquila em São Caetano.

O País da República Árabe enfrenta guerra civil que já deixou mais de 130 mil mortos desde 2011. Embora relate que a falta de tranquilidade no dia a dia, recheado por bombardeios, explosões de carros e muita tristeza, tenha colaborado para a tomada de decisão, um dos principais motivos pelo qual teve a coragem de mudar para o Brasil foi a esposa, que ele conheceu na internet, a empresária Elaine Vidal de Rossi, 43.

Loutfi, que mantinha negócios no ramo do ouro na Síria, ficou cerca de um ano à espera de visto para poder ficar no País. Ele lembra que sua mudança aconteceu pouco tempo antes de o Brasil facilitar a entrada de imigrantes sírios, no fim de 2015. Conforme a ONU (Organização das Nações Unidas), cerca de 2,1 mil refugiados do país vivem atualmente no Brasil – a maioria em São Paulo.

“Tenho alguns amigos que já estavam aqui e nós nos ajudamos. O povo brasileiro é muito bom. Até agora nunca escutei nenhuma palavra de preconceito”, revela o simpático, embora reservado, imigrante.

A escolha do ramo de atuação no Brasil foi simples, segundo ele. “Percebi que 90% dos sírios aqui ou trabalham na (Rua) 25 de março ou com comida. Não gostei do comércio na rua, porque é muito barulhento, com trânsito e cheio de gente, então só sobrou uma opção”, brinca o proprietário do recém inaugurado – há dois meses – restaurante Cantinho da Síria, na Rua Oriente, bairro Barcelona.

O espaço aconchegante oferece os tradicionais – já conhecidos pelos brasileiros – pratos árabes, como quibe, esfiha, homus e lanches, além de doces típicos. O diferencial fica por conta do toque do chef, temperos importados da Síria. Embora novo, o restaurante já conquistou freguesia cativa, principalmente aos finais de semana. O segredo, conforme Loutfi, é não abrir mão da qualidade, do bom atendimento e de estar sempre inovando nos serviços. “O plano não está muito claro ainda, mas é ter um espaço maior e outros restaurantes espalhados pelo Grande ABC e por São Paulo”, destaca.

Estabilizado na região, o imigrante já trouxe a família para fazer do Brasil seu lar. “Minha mãe e minha irmã chegaram em setembro e meu irmão e meu sobrinho em dezembro (do ano passado)”, conta. Dos nove funcionários no restaurante, cinco são sírios. “A gente se ajuda”, justifica.

Apesar das dificuldades de adaptação, com o idioma e com o clima tropical principalmente, voltar para Damasco é um projeto futuro, mas só para passeio. “Prefiro ir para visitar quando a guerra acabar. A Síria é muito bonita e muito segura também. Apesar da guerra, lá não temos assaltos”, destaca, ao recordar de uma das paisagens mais antigas do mundo. 




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