Setecidades Titulo Incerteza
Abrigados em ginásio na Vila Pires têm futuro incerto

Além da ausência de água filtrada, famílias reclamam
do baixo valor da indenização oferecido pela CDHU

Por Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
01/01/2010 | 07:02
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O ano começa com muita incerteza para nove famílias que estão abrigadas provisoriamente no Complexo Esportivo Pedro Dell'Antônia, na Vila Pires, em Santo André, e para uma outra que foi colocada em uma creche no Jardim Santo André. Todas elas eram moradoras em áreas de risco do Jardim Santo André e foram retiradas pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).

Essas pessoas contaram que foram comunicadas, terça-feira, que terão até segunda para retirar o cheque de R$ 4.500 no escritório do órgão e arrumar um outro local para morar. "Não vamos sair daqui desta forma. O que nós queremos é apenas uma moradia. Não essa esmola que a CDHU está nos oferecendo", disse Elaine Cristina Godoi da Silva, 32 anos.

O CDHU passou a atuar com maior rigor na área onde essas famílias moravam a partir de outubro, quando foram registrados os primeiros deslizamentos deste ano. Depois, se seguiram outros. Logo após os desbarrancamentos iniciais, seis famílias foram abrigadas pelo CDHU em barracas de lona e em uma obra inacabada no Jardim Ipanema.

Em dezembro, a Prefeitura de Santo André cedeu o ginásio para abrigar novos desabrigados. No Natal, as nove famílias ainda encontraram forças para comemorar. Elas usaram a grade de um ralo (de escoamento de água pluvial) como grelha para o churrasco comunitário. Receberam doações de vizinhos do complexo, além de voluntários de igrejas evangélicas da região.

O cenário onde estão vivendo as famílias não é nada animador. A entrada do ginásio é vigiada por seguranças contratados pela CDHU que não permite a entrada da imprensa e de estranhos.

O piso da quadra foi coberto com tapumes. A arquibancada é utilizada como dispensa dos mantimentos doados e varal para as roupas. Nos cantos, cada família montou o seu "quarto" com colchões e mochilas com as roupas. Uma tevê fica ligada o tempo todo, mas a maioria não presta atenção na programação. As crianças brincam e sobem nas árvores a todo momento.

Os desabrigados relataram que recebem almoço e jantar, ambos com refrigerante. Eles bebem água direto da torneira.

A desempregada Claudineia da Silva, 30, disse que a filha de 1 ano e 6 meses ficou com diarreia por causa da água. "Isso não é vida. Precisamos pelo menos de um filtro de água." O CDHU não foi localizado ontem para comentar as queixas.SC900,115

 

Mãe e duas filhas vivem sozinhas em creche abandonada

 

A desempregada Elaine Cristina Lima Marques, 30, e suas duas filhas, de 5 e 11 anos, são as únicas moradores de uma creche inacabada no Jardim Santo André.

O barraco de Elaine foi soterrado no dia 8 de dezembro. Ela e mais cinco famílias que perderam as casas foram alojadas na creche - os outros já receberam a indenização de R$ 4.500 da CDHU e deixaram o local.

Elaine foi avisada, na tarde de ontem, que poderá retirar o cheque no valor de R$ 4.500 na segunda-feira e deverá sair do local. "Vou embora daqui quando conseguir alugar uma casa decente."

Na creche localizada no fim da Rua da Praça, no Jardim Santo André, não há segurança. A desempregada não pode sair do local. "A noite de Natal, eu passei na casa de uns amigos aqui perto. Mas toda hora eu vinha aqui para ver se ninguém tinha invadido."

Ela decorou o local com plantas e um pisca-pisca. "Esse foi o fim de ano mais difícil da minha vida. Mas, graças a Deus, minhas filhas estão bem de saúde e não estavam em casa no dia em que tudo caiu."




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