Cultura & Lazer Titulo O Curioso Caso de Bejamin Button
Beleza madura de Blanchett
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13/01/2009 | 07:00
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A antessala do Covent Garden Hotel, um dos mais cult de Londres, entre canapés gordurosos, conversas sobre o tempo londrino e sobre como anda a política internacional, o assunto que realmente importava aos jornalistas que esperavam sua vez para ter 20 raros minutos com uma das maiores estrelas de Hollywood era mesmo "Como é que ela faz para ter aquela pele incrível?" Ela era Cate Blanchett, 39 anos, três filhos, várias indicações, e premiações, ao Oscar, Globo de Ouro, ao Bafta. Ao lado de Brad Pitt, ela protagoniza o filme O Curioso Caso de Benjamin Button, do diretor David Fincher, que narra a história de um homem que nasce idoso e rejuvenesce ao longo da vida.
O que ainda falta na carreira desta australiana que, após viver em Londres por anos, onde conheceu o marido, o dramaturgo, e também australiano, Andrew Upton, decidiu voltar à sua terra natal para ter uma vida ‘menos errante'?

Você não acha que a frase (que já foi atribuída a Chaplin) de que deveríamos nascer velhos e rejuvenescer até morrermos bebês se aplica bem a Benjamin Button?
CATE BLANCHETT - Acho esta frase linda, mas tão triste de se dizer. Porque é tão carregada de arrependimento. E este é um filme sobre a alegria e a tristeza de se nascer não com a sabedoria, mas com o corpo de um velho homem e a mentalidade de um jovem. E quando ele vai ficando velho, vai acumulando sabedoria de quem vive uma vida plena.
Vocês não brincam com a ironia de que muitas vezes se tem juventude, mas não sabedoria.

No caso de Benjamin, ele tem os dois. Você envelhece. Ele não. Foi esta dualidade o que mais a seduziu neste papel?
CATE - Na verdade, ele também envelhece. Nada é perfeito. Meu primeiro impulso ao aceitar este papel foi bem mais prosaico do que parece. Queria voltar a trabalhar com o David (Fincher) e com Brad (com quem dividiu a cena em "Babel"). E aí esta história apareceu. De início, parecia tão dolorosa e, ao mesmo tempo romântica e fantástica. E pensei o quão desafiador seria interpretar um personagem que vai dos seis aos 86 anos. Minha voz foi fundida com a voz da atriz que me interpreta aos seis anos.

Em geral, há duas ou três atrizes para o mesmo personagem. E como é trabalhar com David Fincher?
CATE - É uma doce agonia. Ele é extremamente meticuloso. Nos adora e odeia ao mesmo tempo. E é incrivelmente engraçado também. Com ele e com Brad eu posso literalmente brincar em cena.

Vocês continuam brincando com a ideia de não só envelhecer, mas com a diferença de idade (e tempo) entre vocês?
CATE - Sim. E brincamos também com o fato de como o amor se trata também do fato de duas pessoas estarem no mesmo momento da vida, em sintonia, não só fisicamente, mas também mental e emocional.

Foi também desafiador trabalhar a velhice na tela? Mulheres estão comentando sobre o quanto você parece ser mais jovem do que é. Até o creme anti-idade que você usa, as interessa. Você sente esta pressão para ser sempre jovem?
CATE - De forma alguma. Óbvio que me cuido, mas também é óbvio que estou mais velha. No fundo, ainda morremos de medo da morte. Mas é inevitável e temos que nos preparar. Somos obcecados com o que parecemos ser e não no que pensamos. Ou na evolução de nossas crenças. É bizarro...

Mas você pôde ‘brincar de envelhecer' neste filme. E para a ‘fase jovem'? Também precisou de efeitos especiais?
CATE - Fosse outra época, poderia ficar ofendida com esta pergunta. Hoje não. A idade é algo essencial neste filme. Por isso, houve um pouco de ‘maquiagem digital' para me fazer parecer mais jovem. E também para me fazer parecer mais velha. E pode-se fazer muito só com iluminação. Posso parecer que acabei de fazer um lifting só pela forma com que meu rosto é iluminado. E muito disso também é a energia que eu, como atriz, empreguei nas expressões. Então, me desculpe, mas não se trata só de maquiagem.

O que há de tão especial em Daisy? O que a difere e a aproxima de personagens como Elizabeth?
CATE - Acho que cada um é diferente, claro, mas eu simplesmente pensei em como achamos que tudo é possível quando somos jovens, como lutamos contra o mundo sem medo e com vontade de provar algo. Mas não é fácil lidar com sua própria mortalidade quando se é jovem. E Daisy tem de aprender a lidar com isso muito cedo e isso muda o curso de sua vida. Ela é muito ambiciosa. Mas sua ambição é pela vida. Ela pode ser cruel, mas está vivendo uma situação muito especial também. Tem de aprender a lidar com a perda de uma forma muito particular.

Você perdeu seu pai muito jovem. E hoje você é mãe de três garotos. Isso com certeza mudou sua forma de lidar com a morte.
CATE - É verdade. Ele morreu quando eu tinha dez anos. Foi um estranho privilégio. Isso faz com que você dê valor às coisas desde muito cedo. E isso passou a ser mais forte depois que me tornei mãe. Hoje valorizo muito mais meu tempo.

Tornar-se diretora da Sydney Theatre Company é uma forma de valorizar mais seu tempo e estar mais próxima de seus filhos?
CATE - É. Estou mudando meu foco também. Ganha-se uma perspectiva nova e se aprende sobre seu próprio país.




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