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Quem não deve também teme

O caro leitor talvez não conheça o dentista Fábio Bibancos. Gente fina!

Carlos Brickmann
14/07/2008 | 00:00
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O caro leitor talvez não conheça o dentista Fábio Bibancos. Gente fina! Pois, um dia, a Polícia Federal estourou a porta de vidro de seu consultório. Um policial deu-lhe voz de prisão, confundindo-o com um doleiro. Bibancos explicou que não era doleiro, o policial apontou-lhe a metralhadora, gritando: "É doleiro! Do-lei-ro!" Outro exigia, aos berros: "Confessa, bichinha! É doleiro!"

Bibancos é baixo, franzino, com pouco mais de 40 anos. O doleiro que procuravam é alto, bem mais idoso, e obviamente não mora no consultório do dentista. Nem perto dali. Isso aconteceu na mesma operação em que foram presos Daniel Dantas, Nagi Nahas e Celso Pitta. E poderia acontecer com você, caro leitor.

Uma operação planejada durante meses em que os endereços estão errados? Uma operação planejada durante meses em que não há uma foto do procurado? Uma operação planejada durante meses em que o muro alto do consultório odontológico foi considerado prova de que ali morava um doleiro?

Muita gente costuma dizer, quando há denúncia de abusos policiais, que quem não deve não teme. É falso: quem não deve não teme, mas só quando os direitos individuais são preservados. Quando um policial invade um consultório, uma creche ou uma loja usando armas pesadas, e ainda se dá ao desplante de externar seu preconceito, chamando a vítima de "bichinha" (poderia ser "negro", "judeu", "vagabunda", "carcamano"), todos têm de temer: quem deve e quem não deve. Eles começam maltratando nossos vizinhos, e terminam maltratando a todos nós.

NOTÍCIA BOA 1
O estudante brasileiro Gustavo Brambilla, da FEI, Faculdade de Engenharia Industrial de São Paulo, ganhou o prêmio internacional da Altran Energy Academy, da França, com um projeto sobre variação do ângulo da cambagem (inclinação dos pneus) de carros de Fórmula 1. Brambilla passará seis meses em Enstone, Inglaterra, no Departamento de Engenharia da equipe Renault de Fórmula 1, com direito a acomodação, carro e 6.500 libras de bolsa.

NOTÍCIA BOA 2
A SDE Energy, israelense, vendeu à China centrais elétricas movidas pelas marés. As centrais produzem quatro vezes mais energia por metro quadrado que os geradores a vento. A montagem de uma central de 1 MW custa US$ 650 mil. A SDE deve instalar sua primeira usina em Guangzhou (Cantão). A SDE já opera um gerador de 40 kW movido pelas ondas do mar em Jaffa, perto de Tel Aviv.

ATÉ O FIM
Há dois aspectos distintos no caso Dantas: primeiro, a maneira de fazê-lo, cheia de entrevistas e atrações para a imprensa. Mas a segunda parte é a mais importante: com Dantas preso ou solto, é preciso aprofundar as investigações. As suspeitas de que o banqueiro do Opportunity seja um corruptor maciço existem há anos; e há que esclarecê-las. Comprou jornalistas, juízes, policiais, meios de comunicação? Subornou autoridades? Desenrolar e expor à luz do sol todo este emaranhado, com a cooperação de CVM, Coaf, Banco Central, isso contribuirá para que o País possa confiar mais em suas instituições - incluindo a imprensa.

O SHOW DA MÍDIA
O espetáculo das prisões com algemas e TV foi tamanho que até o ministro da Justiça, Tarso Genro, a quem a Polícia Federal está subordinada, determinou rigorosa sindicância para apurar o abuso. O Manual de Instruções da Polícia Federal proíbe a divulgação de informações e imagens de pessoas presas, uma espécie de condenação antecipada. É claro que, até os dias de hoje, "rigorosa sindicância" não quis dizer "sindicância rigorosa", e sim exatamente o contrário.

O CASO DAS DUAS PRISÕES
A decretação de nova prisão de Daniel Dantas, logo depois de ele ter sido libertado por um habeas-corpus, não é um fenômeno novo em São Paulo. No final de julho, a pedido do Ministério Público, a 29ª Vara determinou a prisão preventiva do delegado Leon Carrel, do Denarc. Posteriormente, o desembargador Pedro Gagliardi, da 15ª Câmara Criminal, concedeu o habeas-corpus. Mas o delegado Leon Carrel não chegou a sair: os promotores haviam feito denúncia igual na 31ª Vara, que havia também determinado a prisão preventiva. A advogada de outro réu, Tânia Lis Tizzoni Nogueira, representou ao Conselho Nacional do Ministério Público contra os promotores deste caso.

LULA LÁ
Frase do presidente Lula, no Vietnã, em conversa com o general Vo Nguyen Giap, ex-comandante do exército, explicando por que, embora na época fosse despolitizado, torcia pelos vietnamitas contra os americanos: "Como eu era corintiano e o Corinthians estava numa fase difícil, eu aprendi a gostar dos fracos e oprimidos." Os tradutores devem estar até agora tentando explicar a frase a Giap.




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