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Os estilos de campanha

Espantoso: Serra diz que, se eleito, pretende governar junto com seus principais adversários, o PT e o PV

Carlos Brickmann
09/05/2010 | 00:00
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Espantoso: Serra diz que, se eleito, pretende governar junto com seus principais adversários, o PT e o PV. Só que não é espantoso: é bom que um governante possa buscar, na oposição, gente de qualidade. E é mais comum do que parece: o presidente Lula, por exemplo, foi buscar ministros no PP, partido que sempre o combateu, ouve os conselhos do ex-deputado Delfim Netto, seu adversário histórico, nomeou para o Banco Central um tucano, Henrique Meirelles.

A declaração de Serra provocou espanto não por proclamar um fato comum, porém normalmente esquecido, mas por deixar claro que pretende buscar os partidos oposicionistas, não só alguns de seus políticos. Serra vem procurando ultrapassar a guerra partidária - na qual tudo o que um partido faz é atacado pelo outro - em busca de um novo arranjo político. Marina segue a mesma linha, mas suas idéias provocam menos repercussão, por estar lá embaixo nas pesquisas. Dilma foge da linha conciliatória do presidente Lula e faz campanha mais belicosa. Não perde oportunidade de falar mal de Fernando Henrique, nem reconhece nada que tenha ocorrido antes da posse de Lula; e seus simpatizantes parecem liberados para opor ricos a pobres, paulistas a nordestinos (há agora uma frase na Internet, "nordestinos, não sejam bestas como os paulistas"), brancos a todos os demais brasileiros. É uma tática perigosa: deu certo com Jânio ("o tostão contra o milhão") e com Collor (que pediu apoio aos pés-descalços). Mas só deu certo com eles. E, num País dividido, nem conseguiram terminar o mandato.

O ALVO NÃO É BRANCO
O coordenador de internet de Dilma, Marcelo Branco, sofre muitas críticas e há quem queira afastá-lo. Mas a briga é mais em cima: quem sustenta Branco é André Vargas, secretário de Comunicação do PT nacional. Na campanha contra Branco, o alvo é Vargas. E, como no dicionário, branco e alvo são sinônimos.

SAI, TUMINHA!
Nos tempos do presidente Itamar Franco, houve suspeitas contra seu chefe da Casa Civil e amigo pessoal, Henrique Hargreaves. Hargreaves, a conselho do presidente, pediu afastamento, para voltar só quando tudo estivesse esclarecido. Quando ficou claro que Hargreaves estava limpo, voltou ao cargo.

Não é questão de julgamentos precipitados: o secretário nacional da Justiça, Romeu Tuma Júnior, enfrenta suspeitas - e exatamente na área de que deve cuidar. Que se afaste, pois, do cargo, para que as investigações sejam concluídas.

E volte então, sem ter causado danos políticos ao governo de que participa.

O PRIMEIRO...
Preste atenção ao empresário Ivo Rosset, da Valisère, amigo de Marta Suplicy. Ele tem tudo para ser o vice de Aloízio Mercadante na chapa do PT para o governo paulista. Rosset é ligado ao PT e tem trânsito em outros partidos.

...A GENTE NÃO ESQUECE
Ivo Rosset e sua mulher Eleonora (a "morena dos olhos dágua" homenageada pela bela canção de Chico Buarque) estiveram entre os primeiros empresários - com Lawrence Pih e Oded Grajew - a receber Lula em sua casa, para contatos de alto nível com pessoas que até então resistiam a qualquer aproximação com ele.

UM DIA DESSES, QUEM SABE
A votação da lei da Ficha Limpa continua. Alguma hora será votada, naturalmente sem tempo para uso nesta eleição; e com defeitos que não estão sendo notados, diante da pressão popular pela aprovação e das manobras para abrandá-la. Um dos problemas ocorrerá em São Paulo, onde acusações contra prefeitos e vereadores vão diretamente à 15ª Vara. Traduzindo: o primeiro julgamento é feito por um colegiado de desembargadores, o que em outros Estados (e para outras pessoas) só ocorre em segunda instância. Prefeitos e vereadores paulistas serão discriminados, pois ficarão inelegíveis se condenados em primeiro julgamento.

JULGAMENTO SEM DEFESA
Um caso exemplar acaba de ocorrer nos Estados Unidos: Raymond Towler, condenado à prisão perpétua por violências sexuais contra dois pré-adolescentes e que passou 29 anos preso, foi libertado depois que os exames de DNA comprovaram sua inocência. E por que esse caso é exemplar, até para o Brasil?
1 - Houve fortes pressões populares por sua condenação.
2 - O Ministério Público agiu como acusador, e não como fiscal da lei. Towler pediu o exame de DNA em 2004, e só em 2008 os promotores permitiram que o laboratório estadual para testes criminais de DNA fosse acionado.
3 - Justiça lenta. Para refazer o exame em mais laboratórios levou 18 meses.
4 - Réu inocente. O sêmen encontrado nas roupas de um dos jovens violentados passou por exames de DNA em três laboratórios, um em cada Estado. Os três deram resultados coincidentes: o sêmen não poderia ser do condenado. Towler foi então rapidamente libertado.
5 - Ação de fora. Para revisar o caso, a Justiça não se mexeu: o jornal Columbus Dispatch e a ONG Ohio Innocence Project lideraram a pressão para que as provas fossem reexaminadas. Mesmo assim levou cinco anos.
Towler tinha 24 anos ao ser preso. Hoje, tem 53. Diz que não guarda ódios.




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