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Apertem os cintos

O ‘Perfil W', ou o sobe e desce na atividade econômica, voltou a afetar negativamente a indústria paulista, com efeitos futuros previsíveis em todo Es

Wilson Marini
24/05/2010 | 00:00
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O ‘Perfil W', ou o sobe e desce na atividade econômica, voltou a afetar negativamente a indústria paulista, com efeitos futuros previsíveis em todo Estado. Algumas regiões vão sofrer mais, outras menos. O fato é que o setor industrial já dá sinais claros de retração nas encomendas do comércio exterior nesta segunda quinzena de maio por conta da volta da crise econômica na Europa, desencadeada na Grécia. Não se sabe ao certo o tamanho da queda, mas o clima é de incertezas. Perspectiva para a indústria paulista é de redução de demanda daqui para o fim do ano, analisa o diretor de relações internacionais e comércio exterior do Ciesp, Ricardo Martins. "Trabalhamos com cenário de diminuição da atividade econômica".

Crise de 2009
As regiões mais industrializadas do Estado viveram até aqui meses de alta na produção, após arrefecimento da crise econômica de 2009. Ano passado, a indústria paulista sentiu mais os efeitos da crise mundial em relação ao resto do País pelo fato de sediar a indústria de ponta, mais exportadora. Quanto mais avançada, mais dependente dos efeitos globais. A partir dos últimos meses de 2009, a indústria começou a decolar. O ano de 2010 começou com o manche puxado na direção do crescimento. A redução do IPI beneficiou a indústria automobilística (Grande ABC, Mogi das Cruzes e Taubaté). O parque industrial de máquinas e equipamentos e de bens duráveis, em Sorocaba, Jundiaí, Americana, Limeira e Piracicaba, ainda vive os efeitos do boom proporcionado por incentivos aplicados pelo governo federal e que acabam em junho. Com tudo isso, cresceram os negócios e a geração de empregos bateu recorde em muitos municípios. Mas o cenário não continuará o mesmo.

Quem sofrerá mais
Justamente esse bloco das regiões mais industrializadas do Estado é que mais vai sentir os efeitos da crise internacional. Em paralelo, o Ministério da Fazenda já projetava conter o ritmo de crescimento, na segunda metade do ano, para não faltar aço e outras matérias-primas básicas. Do contrário, haveria um "crescimento não sustentável", como definem os analistas. A tendência, portanto, é de recuo na atividade industrial. Em pleno período de disputa eleitoral. Claro que o tema vai aflorar nas campanhas e vai ecoar nos grandes centros, mais politizados e que reúnem as maiores massas de trabalhadores.

Quem sofrerá menos
São os paradoxos da globalização. Quem vai se dar melhor neste ano, nessa linha de raciocínio, são as regiões com menor grau de industrialização e geograficamente mais distantes da Capital. Deve se repetir o fenômeno da crise de 2009. Economicamente sentiram menos a queda do dólar municípios como Araçatuba e Sertãozinho, devido à exportação de commodities - açúcar, laticínios e carnes, além de Franca e Jaú, com os calçados. Setores como esses, especialmente o açúcar, poderão compensar a queda a ser verificada na indústria de ponta. São segmentos que dependem basicamente da Ásia, com ênfase na China, onde a crise parece passar distante em relação à Europa e Estados Unidos.

Campeã
A região de São José dos Campos exportou US$ 1,3 bilhão no primeiro trimestre de 2010, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Esse volume confere à região o primeiro lugar no Estado no total de exportações, segundo análise do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Ciesp, à frente até mesmo da Capital paulista com suas tradings que exportam açúcar, celulose e outros produtos. O total representa 8,6% em relação ao US$ 1,2 bilhão exportado no primeiro trimestre de 2009. O peso principal (74,5%) ficou por conta das aeronaves da Embraer (US$ 791 milhões) e setor automotivo (US$ 309,6 milhões). Os números não incluem Taubaté, que no mapa do Ciesp lidera outra região, responsável por US$ 458 milhões de exportações. "O cumprimento de contratos e entrega de aviões acaba disparando o índice de São José", afirma Ricardo Martins.

Balança comercial
O movimento de exportação e importação reflete o perfil vivido pelas regiões do Estado. Bauru, por exemplo, obteve nos três primeiros meses do ano o maior percentual de crescimento (115%), impulsionado pelos laminados longos de aço. Em contrapartida, Franca registrou o maior índice de crescimento nas importações (207%) devido aos artefatos de borracha para a indústria do calçado - igualmente, sinal de aquecimento da economia. Na média foi bom o desempenho da indústria paulista nos primeiros três meses do ano, na análise do Ciesp, mesmo tendo sido registrado déficit na balança comercial de US$ 3,1 bilhões. O Estado importou US$ 14,7 bilhões e exportou US$ 11,6 bilhões. Isso ocorreu porque a indústria voltou a subir a produção e necessitou importar para repor os estoques. "Os produtos importados serão dirigidos posteriormente ao mercado interno, refletindo-se no mercado consumidor ou nas exportações", conceitua Martins. Isso, até março e abril. A partir de maio, a história será outra.




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