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Família Maciel tem 4 dos 13 acusados na Operação Prato Feito

Ex-homem forte do governo Morando, Carlos Maciel viu filhas e genros denunciados pelo MPF; após ação, perdeu contratos e se escondeu

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
10/07/2020 | 00:10
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Homem forte no governo do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), até maio de 2018, o advogado Carlos Roberto Maciel viu boa parte de sua família denunciada pelo MPF (Ministério Público Federal) no âmbito da Operação Prato Feito. Dos 13 acusados de peculato, corrupção, fraude a licitações e organização criminosa, quatro são do núcleo familiar de Maciel.

O genro do ex-secretário de Assuntos Governamentais e ex-presidente da FUABC (Fundação do ABC) é Fábio Mathias Favaretto, apontado pela PF (Polícia Federal) e pelo MPF como um dos líderes da organização que burlou concorrências públicas para abocanhar contratos para fornecimento de merenda escolar e alimentação na rede de saúde de São Bernardo no início do mandato de Morando. A denúncia corre no TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região).

Favaretto é casado com Millena Maciel Mathias, filha de Maciel. Segundo o MPF, Millena era responsável pela área financeira das empresas Nutrivida Alimentação e Serviços e Pró-Saúde Alimentação Saudável, que, embora fossem dirigidas no papel por Alexandre Lopes Ribeiro e Solange Cristina Gonçalez e por Nivaldo Inácio de Oliveira, respectivamente, eram, conforme a denúncia, de Favaretto.

Favaretto e Millena eram figuras carimbadas em festas de empresários do Grande ABC. Dono de bufês conhecidos na região – como Parmenion e Le Garçon –, Favaretto gostava, inclusive, de frequentar colunas sociais e de viajar. Em 2001, por exemplo, relatou que passou férias na África do Sul e depois na Austrália.

Outra filha de Maciel, Melissa Maciel Reps também foi denunciada. Ela foi apontada como responsável pela área administrativa das duas companhias e gestora dos contratos públicos.

Embora tenha colocado as filhas para trabalhar nas empresas do genro e para gerir contratos públicos, Maciel comentou a pessoas próximas, quando a Operação Prato Feito foi deflagrada, em maio de 2018, que não queria ver a família envolvida em notícias de corrupção. O Diário já mostrou que, no passado, Maciel falou em delação premiada se seus familiares fossem alvo. Porém, nenhum movimento neste sentido foi tomado pelo advogado, que se escondeu depois do episódio – à época, ele deixou a presidência da FUABC e saiu do governo tucano. O Diário apurou que Maciel voltou à advocacia, mas de maneira discreta, e tem evitado aparições públicas.

CONTRATOS
Assim que a Operação Prato Feito foi deflagrada, os contratos com a Nutrivida e a Pró-Saúde foram encerrados. As empresas haviam montado filiais na região – a Nutrivida atuava em endereços no Jardim do Mar e no Parque São Vicente, em Mauá, enquanto a Pró-Saúde se localizava no bairro Nova Petrópolis.

A equipe do Diário esteve nos três locais na tarde de ontem. O espaço do Jardim do Mar deu lugar a um petshop. O de Mauá, a uma clínica odontológica. O do Nova Petrópolis, a uma empresa do ramo de tecnologia.

Os contratos não foram encerrados apenas em São Bernardo pós-Prato Feito. Relatório do TCE (Tribunal de Contas do Estado) obtido pelo Diário mostra que a Pró-Saúde tinha acordos também com as prefeituras de Holambra e Jaguariúna entre 2017 e 2018. A Nutrivida, com o Paço de Ribeirão Pires em 2017.

Em 2017, a Pró-Saúde recebeu, no total (incluindo o convênio com São Bernardo), R$ 11,3 milhões de dinheiro público. No ano seguinte, foram R$ 3,4 milhões – a Prato Feito estourou em 2018. No caso da Nutrivida, os recursos foram de R$ 3,7 milhões (em 2017) e R$ 4,2 milhões (2018).

A equipe do Diário não localizou Maciel para comentar o caso. Morando nega qualquer irregularidade citada na denúncia do MPF.

HISTÓRICO
Maciel emergiu no cenário político de São Bernardo em 1996, quando era presidente do PSDB municipal e acolheu a campanha de Mauricio Soares (então tucano) ao Paço. Mauricio venceu Tito Costa no segundo turno e alocou Maciel como secretário de Assuntos Jurídicos.

Dois anos depois, Maciel se candidatou a deputado estadual. Tinha apoio declarado de Mauricio, mas não do governo. Recebeu 27.322 votos e não obteve cadeira. Com a reeleição de Mauricio, em 2000, continuou como secretário até 2004 (neste ano já com William Dib prefeito, pois Mauricio renunciou ao cargo em 2002), quando se candidatou a vereador. Obteve 5.887 votos e garantiu vaga na Câmara – embora tenha voltado ao Executivo, para cuidar do setor jurídico do governo Dib.

Em 2006, pelo PDT, tentou ser deputado federal. Chegou a 10.595 votos e ficou longe de assegurar um assento em Brasília. Maciel não se reelegeu em 2008 (pelo PSB, teve 2.441 votos) e perdeu o pleito de 2012 (no PSC, buscou voltar à Câmara, mas registrou 430 votos). Nesta época já estava próximo de Morando. 




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