Economia Titulo Sobrevivência
Comércio vê no delivery meio para driblar vírus

Fechamento de estabelecimentos em razão da pandemia faz lojistas aumentarem entrega de produtos em casa

Derek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
22/03/2020 | 00:01
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DGABC


A pandemia do novo coronavírus vem trazendo muitos prejuízos ao comércio no Brasil. O fechamento forçado de lojas e estabelecimentos – inclusive shoppings centers – em busca de diminuir a aglomeração de pessoas e, consequentemente, a disseminação da doença, tem causado pânico nos lojistas. No Grande ABC, micro, pequenos e médios empreendedores vêm buscando alternativas para não irem à falência, continuarem tirando sustento e também arcando com as contas dos negócios – inclusive pagamento de funcionários.

Sem poder receber os clientes, os comerciantes têm encontrado no delivery a alternativa para manter a atividade. Assim, as entregas em domicílio não estão mais restritas ao setor de alimentação. Outros segmentos também passaram a adotar os serviços via motocicleta, bicicleta, carro e até a pé, seja por aplicativo ou transporte próprio.

A LollyPop Moda Feminina, de Santo André, implantou um delivery de peças de vestuário. Os itens são publicados nas redes sociais, que servem como catálogo. As clientes ligam ou entram em contato via aplicativo de mensagem, fazem a encomenda e aguardam em casa. “Estou trabalhando sozinho, sem funcionários. Quem entrega é meu filho. Estamos tomando todos os cuidados. O motoboy leva um álcool 70% na moto, desinfeta a máquina de cartão”, disse o proprietário, Leandro Ribeiro. O serviço de entrega aumenta entre R$ 10 e R$ 15 o preço final. “E estou colocando junto com os pedidos um álcool gel (em bisnaga, personalizado com o logotipo da loja)”, emendou. “Vou fazer de tudo para não mandar os funcionários embora”, salientou.

O chef Melchior Neto, dono de três estabelecimentos em Santo André, se viu obrigado a fechar temporariamente dois deles, concentrando esforços e funcionários em apenas um. “O cardápio é um mix executado pelos três chefs responsáveis. Os serviços de delivery e retirada também foram reforçados, além dos pratos com preços reduzidos. Fiz um balanço de toda a situação e como todos os empresários do segmento tive que me adaptar aos novos tempos: aglutinei as operações, reduzi a equipe com banco de horas, revi cardápio e acredito que assim vamos conseguir manter o funcionamento da casa. Ainda não conseguimos calcular o impacto dessa mudança”, disse.

Proprietário da unidade de Santo André do Sterna Café, Marcelo Toledo Rossi disse que a pandemia “afetará o faturamento” da loja. As alternativas encontradas pelo empresário são levar os produtos até o cliente ou separá-los para retirada no estabelecimento. “Vamos atender em casa as pessoas que fazem home office e não têm tempo de cozinhar ou aquelas que não podem sair. E temos produtos para encomenda que o cliente pode passar para pegar”, explicou. 

Quem já contava com a conveniência do delivery, ampliou ou intensificou. Rede com diversas unidades no Grande ABC, a Sodiê Doces intensificou as entregas em domicílio. “Este é um momento que precisamos ter muita conscientização e fazer o necessário, mesmo que isso nos fragilize, para que essa pandemia termine o mais rápido possível. Os empresários precisam se unir e achar soluções para este novo momento”, afirmou Cleusa Maria da Silva, fundadora da marca. “Intensificando o delivery e reforçando medidas de boas práticas, espero que possamos contribuir e tentar adoçar a vida das pessoas em um momento tão difícil.”

A Vidolce, chocolateria e café no bairro Jardim, em Santo André, abriu as portas há dez dias e teve de tomar medidas drásticas para contornar os problemas. “Vou fechar no fim de semana, colocar dois funcionários em férias e operar somente com dois, de segunda a sexta-feira”, disse o proprietário, Eduardo Fiorese, que enquanto resolve problemas burocráticos com aplicativos de entrega, tem levado as encomendas a pé, pessoalmente, em condomínio e localidades próximas ao estabelecimento.

Já a cervejaria Madalena, de Santo André, ampliou a oferta de produtos disponíveis no delivery e suspendeu os eventos semanais. “Queremos garantir papel colaborativo com a sociedade, realizando ações responsáveis, em parceria com as autoridades de saúde pública e fazendo o que é correto para nossos funcionários, clientes e parceiros,” disse o gerente de marketing Renan Leonessa.

Fechamento causa preocupação 

No Grande ABC, São Caetano decretou o fechamento do comércio, permitindo somente que farmácias, supermercados, açougues, postos de gasolina e outros estabelecimentos imprescindíveis permaneçam abertos. Entretanto, as outas seis cidades poderão acompanhar a decisão nos próximos dias e as associações comerciais já adotaram tom preocupado sobre os efeitos dessa crise proporcionada pela pandemia do novo coronavírus.

De acordo com Pedro Cia Junior, presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), a alternativa que alguns comerciantes vêm tendo de entregar em domicílio é essencial, mas nem todos os estabelecimentos e serviços podem adotá-la. “Se (os comércios) tiverem que fechar as portas, o delivery é uma saída para sobreviver, porém, infelizmente, para alguns segmentos isso não é possível”, afirmou.

A restrição da circulação das pessoas fez com que a Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo) adotasse companha emergencial para ajudar os pequenos comerciantes. “É importante que todos tenham a consciência de prestigiar o mercadinho da rua, o açougue, pequenos estabelecimentos que poderão continuar abertos, pois as grandes redes têm como sobreviver, dispõem de recursos e créditos mais fáceis. Mas o pequeno, sem o giro diário da receita, tende a quebrar, impossibilitado de pagar as contas”, disse Valter Moura Júnior, vice-presidente da associação.

Em Diadema, a Prefeitura solicitou redução de equipe para atendimento presencial ou produção de estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços. Tal situação preocupa o presidente da ACE (Associação Comercial e Empresarial) do município, José Roberto Malheiro. “É um momento complicado. Mas, ao mesmo tempo em que precisamos tomar todas as medidas possíveis para evitar a proliferação do coronavírus, temos de ter consciência de que, financeiramente falando, no lado do empreendedorismo, é alto o risco de muitas empresas morrerem ou ficarem em situação difícil. O momento é de cautela, tomar as providências individuais, evitar aglomerações, assim como acatar as determinações dos governos”, disse ele, que ressaltou: “Estou muito preocupado com o cenário econômico da nossa região e do nosso País”.

Questionadas, as demais associações do Grande ABC não responderam às solicitações da reportagem.




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