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Governo corta 15% do crédito disponível
Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
04/12/2010 | 07:30
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Fernando Nonato/DGABC


A decisão do BC (Banco Central) de retirar R$ 61 bilhões do mercado de crédito para evitar o aumento da inflação deve culminar no recuo do varejo no próximo ano e afetar, principalmente, compras que são feitas a longo prazo e o bom momento vivido pela classe C com entrada facilitada e prestações à perder de vista. As vendas a prazo a partir de janeiro sofrerão forte impacto, pois o corte do BC representa 15% do volume de crédito destinado às pessoas físicas.

O BC anunciou ontem que haverá aumento do compulsório (dinheiro dos bancos que fica depositado no BC) para retirar R$ 61 bilhões da economia, restrição para empréstimos de longo prazo a pessoas físicas e retirada da ajuda do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para bancos de menor porte.

Com menos crédito na praça, especialistas preveem que haverá retração principalmente nos setores automotivo e imobiliário, que dependem do financiamento na hora da venda. Como a classe C, tida como a nova classe média, compra amparada no crédito, a perspectiva de economistas é de que essa seja a faixa de renda mais afetada com as medidas.

"Você joga água fria na população. Com essa decisão, haverá aumento nos juros para o consumidor, que já foi de 1% em outubro. A alta dos juros diminui investimentos e atrapalha, demais, o mercado", argumenta o economista da Fecomercio, Guilherme Dietze.

Ele diz ainda que apesar da ameaça de inflação, o nível de endividamento e de inadimplência no País segue estável e registrando números menores do que em anos anteriores, o que colocaria por terra a ideia de que a retirada do crédito é necessária para evitar uma bolha.

Outro ponto reforçado pelos economistas é de que não há propósito em se mexer nos compulsórios para segurar a inflação quando o problema maior no mercado hoje está focados nos produtos de gêneros alimentares - como feijão e carne que estão em alta por conta de problemas de safra e melhor oferta no mercado externo.

"A medida do Banco Central vai impactar segmento que não teve problemas de preço. O problema não foi visto no setor de duráveis, mas em alimentos. O consumidor vai pagar a conta por causa de outro setor. Não é o segmento de bens duráveis o vilão dos preços", avisa Dietze.

O cenário já desenhado no horizonte por especialistas é de caos, no entanto, o economista Alencar Burti, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), atesta que não é preciso pânico. Para ele, as medidas devem sim atrapalhar quem procura crédito para ser pago acima de 24 parcelas, no entanto, era preciso segurar a inflação. "É uma tomada de posição para refrear o excesso de demanda. Compras em até 24 meses não sofreram alteração porque bancos estão com o caixa sólido", diz.

NATAL - Apesar de as medidas do BC terem sido anunciadas às vésperas do Natal, a expectativa dos economistas é de que elas não influeciem nas vendas do fim do ano. "O resfriamento que haverá neste mês será muito mais de caráter piscológico do que de custos", afirma Burti.

Em nota, a Fecomercio diz que as vendas não serão afetadas por que "os recursos já estão disponibilizados".

Parcelamento de veículos demandará maior valor de entrada

O setor de crédito destinado ao financiamento de veículos deve ser um dos mais afetados com as medidas. No caso dos empréstimos para carros, que registrou aumento de 50,9% somente nos últimos 12 meses, as novas regras são ainda mais rígidas.

Para manter o volume de reserva atual e, com isso, evitar a elevação dos custos dos empréstimos para o tomador final, os bancos terão que exigir do consumidor entrada de mais de 20% do valor financiado, nas operações com prazo entre 24 e 36 meses. No caso dos financiamentos superiores a 60 meses a situação é ainda mais drástica. A reserva exigida será equivalente a 16,5% do valor do empréstimo.

Para o crédito consignado, com desconto em folha, a exigência de garantias maiores só valerá para prazos superiores a 36 meses. Empréstimos para a compra da casa própria, que atualmente gira algo equivalente a 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto), também devem permanecer tranquilos. (da AE)

 




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