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Viola afiada

Artista da região, Leandro de Abreu é selecionado para participar de disco de violeiros

Caroline Manchini
10/06/2018 | 07:00
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André Henriques/DGABC


As tardes de domingo na casa dos avós, com bolos quentes, guloseimas e até mesmo bolinhos de chuva nos dias mais frios marcaram infância de muita gente. Mas a realidade do violeiro de São Bernardo Leandro de Abreu, 42, foi diferente. As reuniões em família, aos fins de semana, no Interior de São Paulo e Sul de Minas, eram resumidas em rodas de viola que perduravam por horas. Foi nessa época que o músico, ainda muito novo, aprendeu com os tios e por influência dos avós a tocar instrumento. “Desde criança dispensava as brincadeiras comuns para tocar viola e com 15 anos comecei a aprender as técnicas”, relembra.

Todo o aprendizado conquistado em anos de trajetória rendeu grande fruto. O artista foi o único da região convidado, ao lado de 18 outros músicos do Estado de São Paulo, para participar do álbum Viola Paulista (Selo Sesc, R$ 20, em média), com curadoria e direção musical de Ivan Vilela. Ele contribui com a composição autoral Alvorada Pantaneira. “Recebi o convite com grande alegria. No momento da ligação pensei: ‘tudo que já fiz valeu a pena e está sendo reconhecido’. Esse tipo de iniciativa é fundamental para músicos que não têm apoio.” Além de comemorar o feito, ele já pensa no disco solo, que sairá em 2019.

A trajetória do artista sempre foi de luta. Em meados de 1990, tinha como principais referências os violeiros Almir Sater, Paulo Freire, Roberto Correia e Ivan Vilela. “Quando comecei a tocar som instrumental escutava muito músicas desses artistas”, conta. No mesmo período entrou para o reservatório musical de viola, onde aprendeu métodos de guitarra, contrabaixo e violão, entre outros instrumentos de cordas. “Antes disso, nas décadas de 1960, 1970 e 1980 não existiam aulas de viola, aliás, era raro encontrar alguém que tocasse.” Diante dessa realidade, sem muita informação ou recurso, desenvolveu o próprio toque, por meio da percepção, sensorialidade e prática.

“Foi exatamente essa percepção que me levou aos palcos com Jair Rodrigues e Almir Sater”, orgulha-se. O violeiro também tocou ao lado de grandes músicos como Elis Regina, Inezita Barroso, Sérgio Reis e Suzana Salles. “Foram os momentos mais marcantes da minha trajetória. Nunca imaginei que isso aconteceria. Dividir palco com a Inezita, por exemplo, era um sonho do meu avô. Ele, infelizmente, não conseguiu, mas eu cheguei lá.”

A partir de então, a carreira de Abreu andou. Começou a compor peças para serem tocadas pela viola de cocho. “Iniciei também uma oficina de viola caipira em São Bernardo, que dura até hoje.” Além disso, o violeiro oficializou, em 2006, a Orquestra de Viola de São Bernardo – em 2018 completa 12 anos e ainda é regida por ele. Abreu acredita que a maior missão dos músicos é levar a viola para lugares onde ela nunca esteve. “Hoje temos o instrumento em músicas de rock, nordestina e gaúcha. E essa é a intenção: inseri-lo em outros contextos musicais.” 




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