Política Titulo 60 anos em 60 entrevistas
‘Oro e agradeço muito aos meus anjos de luz’
Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
27/04/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Divanir Bellinghausen Coppini, a Didi de São Bernardo, formada em música, tem história de vida que mescla exemplos assimilados dos pais e avós com força interior incrível. A vida toda foi voluntária. Publicou quatro livros de culinária com receitas, histórias dos pratos e pensamentos. Durante oito anos trabalhou na LBA (Legião Brasileira de Assistência), coordenando grupos de mães das favelas, ministrando cursos e fazendo prevalecer a velha máxima de que é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe. Aos 78 anos, venceu três cânceres, os três considerados terminais. Fez tratamentos convencionais e alternativos, paralelos, difundindo a cura pela pirâmide.

Divanir Bellinghausen Coppini e o Diário
Em seu apartamento, no Centro de São Bernardo, Divanir Bellinghausen Coppini guarda em recheada pasta reportagens sobre suas experiências com pirâmide, com recortes de jornais e revistas, inclusive da Itália e, em sua maioria, do Diário, entre as quais: Câncer. A Cura Pela Pirâmide. Verdade ou Sonho? (edição de 15-5-1983). Câncer Tem Cura e Não é Hereditário (Suzete David, de 14-6-1984). Método da Pirâmide Pode Curar o Câncer (24-6-1984). Pirâmides, Quem se Atreve a Testar? O Repórter Testa. E Fica Admirado. (Antonio Catelani, 19-8-1984).

Como foi sua infância naquela que era chamada de Vila de São Bernardo?
Fui nascer em São Paulo, na Pró-Matre da Frei Caneca, por uma questão de São Bernardo não ter condições. Quando era menina, morava na esquina da Dr. Flaquer com Tomé de Souza. Tinha meus 4 anos. Descendo, só havia mato, picadas. Ia com meus pais em direção à área hoje cortada pela Avenida Prestes Maia, que embutiu o rio do Vitorino, da Vila Silva. A gente seguia comendo araçá e murta. As ruas todas de São Bernardo eram de terra. Só a Marechal Deodoro era calçada com paralelepípedos. As crianças viviam na rua. Os vizinhos eram amigos, os Tondi, os Ferreira, os Margonari, os Guazzelli... Quando a João Pessoa foi calçada, foi uma novidade.

A senhora estudou em São Bernardo?
Estudei no Colégio São José, no Ginásio João Ramalho, que ficava na casa da (prefeita e deputada) Tereza Delta (hoje sede da Guarda Civil Municipal). As quintas, sábados e domingos eram dias de ir ao cinema, primeiro no Cine São Bernardo, depois no Cine Anchieta. Havia as festinhas nas casas das famílias. O footing (vai e vem). Os salões de baile do Bortolo Basso, Pelosini e Sociedade Italiana. ‘Amanhã você segura um lugar no cinema’, sugeria alguém. Assim começava o namoro.

Dona Odette, sua mãe, foi uma idealista.
Minha mãe criou a Associação Beneficente Bartira. Sugeriu o nome Cacique Tibiriçá para a primeira escola de contabilidade. Foi a paraninfa da primeira turma. Desde menina escrevia em jornais, primeiro no jornal da escola. Devorava a biblioteca do pai, lendo em inglês, francês. Estudava piano. Fez o primeiro concerto em São Paulo aos 13 anos. Dona Odette era também uma guerreira. Participou de campanhas diversas. Quando a área verde da antiga Matarazzo, no Centro de São Bernardo, foi desmatada, perdendo os seus eucaliptos, lá estava dona Odette, já em cadeira de rodas, dando apoio à causa; mais recentemente, quando a Chácara Silvestre sofreu ameaça de desmatamento, foi a senhora quem se ombreou com os ambientalistas. Trata-se de nossa cidade, nossos valores, nossas coisas mais queridas. Essa combatividade é demonstrada pelo meu avô, nos artigos que escrevia em jornais por ele criados, como O Imparcial, de Santo André. Mamãe, com a sua coluna Arte e Outras Coisas, pela Folha de São Bernardo, também defendia a cidade com carinho, amor e vontade de dar a sua parte às causas mais nobres. São exemplos que deixaram. Os escritos do avô Tavares, numa pasta, tenho passado aos bisnetos, que em revezamento vão conhecendo um pouco desta força. Tenho doado muito material à Casa da Memória, o local mais adequado para a guarda dessas relíquias. A gente não sabe o que farão com os papéis os que vierem depois de nós. De repente, eles podem reciclar tudo. E na Casa da Memória temos um local adequado para a triagem e conservação desses documentos. Sugiro que todos façam assim antes de pensar em descartar coisas antigas da nossa história familiar.

João Domingues Tavares, pai da Dona Odette, seu avô, foi jornalista.
Escrevia para os jornais em papel de seda. Dirigiu jornais. Era combativo. Chegou a ser preso (durante a ditadura Vargas, por criticar o prefeito de Santo André, Carvalho Sobrinho). E trabalhava com importação. Abriu a Vila Tavares, que acabou sendo adquirida em hipoteca pelos Gonçalves, que trocaram o nome para Vila Gonçalves. Presidiu a comissão do 4º Centenário de São Bernardo.

Fale mais da sua mãe.
Uma mulher autêntica. Muito simples. Não se preocupava em cuidar do cabelo, por exemplo. Na nossa casa participou da criação de grupos em defesa do meio ambiente, em defesa dos animais, criou clubes de arte. Fazia shows de calouros, shows pró-livros, com artistas locais, para que São Bernardo ganhasse a sua primeira biblioteca pública, a Monteiro Lobato, que acaba de completar 60 anos.<TB>A Associação Beneficente Bartira reunia as senhoras da cidade. Elas iam a São Paulo. Compravam fardos de tecidos para as campanhas do inverno e do Natal. Vales eram distribuídos às famílias necessitadas. O comerciante devia escrever atrás do vale o que as famílias compraram. E nós, filhas (da Dona Odette), ficávamos na conferência. Mamãe era muito bondosa. Só queria o bem para as pessoas.

E a senhora escrevendo livros, fazendo crônicas, colaborando com a imprensa local.
São quatro livros publicados. Um quinto permanece inédito, no computador. Um deles com 145 receitas testadas. O primeiro publicado pelo antigo Círculo do Livro. Eu recebia os direitos autorais adiantados. Quando o Círculo do Livro fechou recebi convite da Melhoramentos. Um livro sobre patês – não havia livros sobre patês; outro sobre sanduíches. Várias edições lançadas, inclusive em Portugal. Livros vendidos até em supermercados. Foram tardes de autógrafos marcantes.

Essa força da senhora fez superar o câncer?
A vida tem o seu tempo. O primeiro câncer foi em 1982, o segundo em 1987 e o terceiro agora: em agosto vai fazer dois anos. Médicos famosos falaram que não teria volta. Uma médica e professora, quando viu meu segundo câncer, em setembro, outubro, comentou com minha irmã, sua paciente, que eu não chegaria até o Natal. Fiz sempre muitos tratamentos alternativos, paralelos. As pessoas chegavam e diziam: ‘Olha, estão fazendo essa experiência’. Pelo sim, pelo não, lá ia eu. Não achava que iria morrer. No terceiro foram retirados 70% do fígado. Mas o fígado se recupera. Outra vez já recuperou. E na outra vez não tinha nem transplante nem cirurgia.

E o tratamento e trabalho com pirâmide?
Me tratei muito com a pirâmide, que era (um experimento, um tratamento) de um tcheco, Estevam Kowacsik. Passei a trabalhar com pirâmide. Nunca recebi um tostão, pois você trabalha com energia recebida do Cosmos, que não é sua. Proferi palestras sob a orientação do Dr. Rudolph Muller. Ele e sua mulher se curaram de cânceres. Aprendi a mexer com pêndulos. Tenho anotadas 200 pessoas que foram as primeiras que recebi em minha casa para fazer as aplicações. Depois deixei de marcar. Quinhentas pessoas, 1.000 pessoas? Veio gente de fora, da Alemanha, do Recife, para São Bernardo.

E esse tratamento ainda é usado?
Tudo tem uma história, uma explicação. Quem fazia pirâmide, quando em estado crítico e avançado da doença, morria, mas sem dores. Essas pirâmides ficaram meio perdidas, não tem mais quem faça. É preciso seguir um gabarito, tem que ter o caçador de energia. Tenho uma pirâmide montada no quarto. Ocasionalmente alguém pede para fazer. A pessoa vem conversar comigo para que eu faça um aconselhamento. A pessoa passa uma hora por semana, umas três semanas de tratamento. Fui fazer numa clínica de monoterapia na Luís Góis, em São Paulo, um tratamento com uma vacina convencional japonesa. Montamos uma associação com outros pacientes, a Shangri-la. Nos reuníamos uma vez por mês. Depois dos três anos eu estava bem, fomos convidados a ir para o Japão para uma pesquisa do Dr. Hasume. Foram três viagens. Grandes experiências na vida da gente, grandes aventuras, grandes histórias.

E São Bernardo, a cidade de São Bernardo. Fale um pouco sobre a sua cidade.
Hoje estou com grandes esperanças. Tenho uma história de pessoas que contribuíram muito com a cidade e estão totalmente esquecidas. Minha mãe, fundadora da Pinacoteca Municipal, ninguém entendia o que aquela placa com o nome dela estava fazendo na biblioteca do bairro Assunção. O Auditório João Domingos Tavares, na Vila Baeta. Quem é ele? Theobaldo Coppini, meu marido. Quase oito anos trabalhando no setor de Esportes da cidade, sem nada receber, no período de ouro do Esporte. Participou da moralização do Esporte. E hoje tem o nome esquecido.

A senhora participa das reuniões mensais na Seção de Pesquisa e Memória da Secretaria de Cultura, na Alameda Glória. Fale um pouco sobre essas reuniões.
É o encontro de amigos queridos, sempre com 50 participantes ou mais. São-bernardenses. Alguns se conhecem desde a infância, outros, desde a juventude, assim por diante. E há os mais novos, que se agrupam conosco. Eu digo que se trata da Casa da Memória. Encontros sadios, gostosos. O Sr. João Gava é o mais idoso, 105 anos com toda vitalidade. História e memória de São Bernardo passam pelo encontro de todos os meses, num clima saudável, sempre na última quarta-feira do mês. A Vila de São Bernardo ali se encontra.

E o Diário chega aos 60 anos de circulação. Como a senhora observa o Diário?
Escrevo para um semanário da cidade, a Folha do ABC, mas na região a gente considera o Diário como ‘o jornal’. Tantos anos, diariamente, trazendo matérias sobre o País todo. Ainda bem que temos o Diário. A memória construída. A participação do leitor. Outro dia meu neto encontrou um Diarinho antigo com uma foto minha com ele. Fomos entrevistados aqui em casa, numa matéria sobre a importância de se contar histórias. Ele guardou o Diarinho esses anos todos. Agora achou e pendurou na parede do quarto. Você imagina a importância que foi para ele aquela matéria.

Que mensagem a senhora deixaria?
O que é a vida? A vida são momentos. Se a gente fizer dessa vida bons momentos, se a gente souber viver, amando, perdoando, tentando passar bons exemplos, harmonizando as pessoas, tudo será melhor. Se sinto que magoei alguém, eu ligo, pergunto. Não quero deixar mal-entendido. A vida é prazerosa.

E onde buscou e busca forças para superar problemas como a doença?
A melhor herança que meu pai nos deixou foi a coragem de enfrentar a vida, resolver os problemas. Enfrentar as dificuldades sem medos, com confiança. Sou espiritualista. Tenho meus anjos de luz. Nessas doenças que passei, nunca tive imagens em casa. E as pessoas que me visitavam trouxeram várias imagens. Cada imagem significa que aquela pessoa que a trouxe, me trouxe energia, uma luz. Então eu oro e agradeço meus amigos de luz. Acho que eles estão ao meu redor, me protegendo, desde que nasci. 




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