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Sobre causa e consequência

‘Três Anúncios para um Crime’ se destaca por personagens absolutamente complexos e fascinantes

Por Marcela Munhoz
15/02/2018 | 07:00
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Divulgação


 Até que ponto é aceitável uma mãe tentar resolver o assassinato da filha? Será que, neste caso, ‘o fazer justiça’ justifica qualquer atitude? É impossível dar uma única resposta a essas perguntas, assim como é impossível resumir alguém em bom ou mau, vilão ou vítima. Guiado pela riquíssima e, por vezes, sombria psique humana, o diretor inglês Martin McDonagh (de Six Shooter e In Bruges) apresentou ao mundo o surpreendente Três Anúncios para Um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri).

O longa – indicado, entre outras categorias, como melhor filme ao Oscar 2018 – estreia hoje. Lamentavelmente não está na região, mas vale a pena se locomover à Capital para ver. Isso porque McDonagh conseguiu criar, a partir de uma história simples até, obra completa, que faz o espectador refletir, em quase duas horas, sobre diversos e intensos assuntos, como culpa, preconceito, racismo, empoderamento feminino, perdão, ódio e morte. O que parece ser um longa policial se desdobra em outros rótulos, tornando muito difícil classificá-lo. É único.

Para conseguir contar a história de uma mulher separada e mãe de dois adolescentes que se vê obrigada a instalar três outdoors na pequena Ebbing, instigando a vizinhança, especialmente os policiais a reabrirem o caso da filha, que foi assassinada, o diretor acertou em cheio ao escalar o elenco. O trio formado por Frances McDormand (mãe), Woody Harrelson (delegado) e Sam Rockwell (policial) é impecável. Os personagens são ligados de tal maneira que o que um faz interfere diretamente na vida do outro. É causa e efeito.

McDormand (Oscar por Fargo, em 1997), porém, é a verdadeira xerife. Do começo ao fim é possível sentir por ela de compaixão a raiva. Mildred Hayesfaz chorar, odiar e até rir, tudo sem sair do papel de mãe sedenta por justiça. O diálogo com o padre da cidade, que vai até sua casa para consolá-la, é arrebatador.

Como policial preconceituoso, violento e, no fundo, verdadeiro coitado, Rockwell também se mostra de várias formas. É, sem dúvidas, seu melhor papel. Certamente McDormand e Rockwell – que concorrem ao Oscar de melhor atriz e ator coadjuvante – já estão abrindo espaço na estante para guardar as estatuetas, ao lado dos troféus do Globo de Ouro nas mesmas categorias.

Três Anúncios para Um Crime é um filme sobre o poder da fúria, mas também instiga a reflexão sobre como cada um de nós reagiria a situações extremas. Nos coloca no lugar do outro. E se alguém expusesse seu maior defeito, pecado ou falha em um outdoor?




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