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Sonho de um dia ser Silvio Santos
Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
08/01/2017 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Na Rua Boa Visão, no bairro Sítio dos Vianas, em Santo André, um jovem morador tem olhar fixo no futuro e sonho a realizar: ser o próximo Silvio Santos, 86 anos, uma das figuras mais emblemáticas da televisão brasileira. Mas não é na função de apresentador que Kaue Nicolas dos Santos Alves Lavarias, 12, tem a personalidade como referência para alcançar seu objetivo. O garoto se espelha no empresário bem-sucedido que o ícone nacional se transformou, carreira que começou a ser construída de maneira simples: trabalhando como camelô. “Ele batalhou muito para ter tudo o que conseguiu. Meu sonho é ser empresário e ele é o exemplo que sigo”, conta o menino, que deseja atuar no ramo têxtil e também alimentício, com a fundação de supermercado.

Na adolescência, Silvio Santos pensava em como ganhar dinheiro para ajudar a família. Foi quando ele viu um homem que vendia capinhas de plástico para guardar títulos de eleitor nas ruas do Rio de Janeiro, durante as eleições de 1946. Disposto a fazer o mesmo, passou a vender porta-títulos e canetas. Alardeava que as peças eram as últimas, mas, na verdade, era apenas uma tática para angariar clientes: outras estavam escondidas no bolso.

Kaue também quis encontrar um jeito de melhorar a vida dos pais, dos dois irmãos – Aidan, 15; Larissa, 17; e do sobrinho Kaua, 1 ano e 4 meses, filho da irmã.

A rotina sofrida da carente família foi retratada na primeira edição de 2017 do Diário. O dinheiro que conseguem com a venda de materiais recicláveis mal dá para comprar o mínimo para comer. A casa em que vivem não é deles – pertence a uma tia materna que mora na parte superior, com dois filhos e o marido. E o levar da vida é sem o mínimo de conforto: todos dormem em colchões no chão, para que Larissa possa dormir na única cama disponível, com o bebê. “O colchão afunda muito, dói as costas, sem contar que, quando chove, alaga tudo lá dentro, como aconteceu esses dias”, relata Kaue.

O PRIMEIRO PASSO

Diante da dificuldade de sobrevivência, o garoto deixou as brincadeiras da infância de lado e, aos 10 anos, quis montar seu negócio. Dois cavaletes que haviam sido descartados deram sustentação para duas tábuas que servem de prateleiras. Estava formado, na calçada, do outro lado da rua de sua casa, um bazar, com variedade de brinquedos e roupas. Os produtos foram doados pela ONG (Organização Não Governamental) andreense A Casa do Jardim, que assiste a família. “Os preços variam de R$ 1 a R$ 5. No primeiro dia, vendi R$ 50, sobraram poucas coisas”, lembra, orgulhoso. “Se a pessoa comprar bastante, dou um brinde para conquistar o freguês”, completa o empreendedor juvenil.

Kaue iniciará o 8º ano do Ensino Fundamental neste ano e afirma que é bom aluno. “Nunca tive nenhuma reclamação. Para chegar onde eu quero, preciso batalhar muito e estudar”, declara.

Quando volta da escola, das 13h30 às 17h, as terças e quintas-feiras, o simpático menino monta barraquinha improvisada em frente de casa. Comunicativo e sorridente, ele passa horas à espera de fregueses. “Nos outros dias, vou para a ONG, onde como, brinco, mexo no computador e faço aulas de luta e dança”, explica. “Mas quando não vou para a ONG, abro o bazar.”

O dinheiro que consegue com as vendas é investido em pão, leite e achocolatado em pó para o consumo de toda a família. “Também ajudo minha mãe, compro pipa e arrumo minha bicicleta”, relata.

Para reforçar a renda obtida no bazar, ele sai, às escondidas da mãe, Mileide Aguiar dos Santos, 35, para pegar material reciclável. “Eu não gosto que ele saia para a rua para pegar reciclados, mas não tem quem segure. Volta com o carrinho pesado e maior que ele”, fala. “O pensamento dele é só um: vencer na vida”, acrescenta a matriarca.

Quando alcançar o objetivo de ser um empresário de sucesso, dois investimentos serão os principais. “Vou ajudar a ONG que nos ajuda e comprar uma casa para a minha família”. Kaue não deixa os familiares em nenhum momento. Tudo o que consegue contempla todos. “Não esqueço deles, porque eles não esquecem de mim. Apesar das dificuldades, sou feliz porque tenho eles por perto.”




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