Os internos do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Diadema puderam tirar documentos e ter acesso a serviços de saúde e capacitação profissional, ontem, durante a Jornada da Cidadania e da Empregabilidade, realizada pela SAP (Secretaria de Administração Penitenciária). No total, foram feitos 1.053 atendimentos.

Em relação aos documentos, a maior demanda, já pré-selecionada, foi pela emissão do CPF (Cadastro de Pessoa Física), com 318 beneficiados, seguida pelo RG (Registro Geral), com 135, e certidão de nascimento, com 100.

Conforme o diretor da unidade, Gerson da Silva Pereira, o que parece ser simples é primordial para os presos. “Muitos acabam perdendo esses documentos e eles são necessários para a vida em sociedade. A maioria faz o Ensino Médio aqui e precisa deles para a retirada do certificado.”

Conforme o diretor do Grupo Regional de Trabalho e Educação da Pasta, Cláudio Nachibal Júnior, a escolaridade é um dos principais problemas dos detentos. Em torno de 40% dos 230 mil presos em todo o Estado não possuem o Ensino Fundamental completo. “Ainda temos muito o que avançar. Prova disso é a taxa de reincidência. De dez presos que são soltos, seis retornam para o sistema carcerário. A questão dos documentos também é preocupação para o preso retornar para a sociedade reintegrado. Hoje vemos detentos prestando Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e até fazendo faculdade, o que é um grande avanço.”

Na unidade são 250 alunos que frequentam o ensino formal e cursos técnicos. “Sempre buscamos parceiros para reinserir esses presos no mercado de trabalho. Por exemplo, toda empresa que ganha uma licitação do governo do Estado precisa ter 5% de mão de obra de egressos do sistema penitenciário”, explicou o diretor do Grupo de Capacitação, Aperfeiçoamento e Empregabilidade da SAP, Evaldo Barreto.

Outro problema que dificulta o trabalho é a superlotação. O CDP de Diadema, por exemplo, tem capacidade para abrigar 576 presos, mas atualmente mantém 1.600, número quase três vezes maior. “Estamos no limite. A nossa estrutura não comporta mais que isso, porém, conseguimos trabalhar com esse número”, disse o diretor da unidade.

JORNADA

O CDP de Diadema foi o primeiro da Grande São Paulo a receber a jornada, que antes era exclusiva para presídios. Além da emissão dos documentos, agentes de Saúde realizaram testes de sífilis, glicemia e HIV e medição de pressão arterial, totalizando 440 atendimentos. Palestras sobre questões relacionadas a emprego e comportamento em sociedade beneficiaram 60 presos.

No dia 3 de maio, a unidade de Santo André vai receber os mesmos serviços e no dia 10, é a vez de Mauá.

Intuito dos detentos é a mudança de vida

Para os internos do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Diadema, que ainda aguardam sentença judicial, o tempo encarcerado e longe da família faz com que busquem mudança de vida. Desde pequenos trabalhos dentro da unidade até a retomada dos estudos acabam servindo de refúgio e resposta a esses homens.

Para o acusado de homicídio Edmilson, 51 anos, a entrada na prisão também trouxe a oportunidade de voltar a estudar. “Não tinha estudado e agora já estou na 4ª série. Gosto muito de Português e Matemática e os professores são excelentes”, disse.

Ele cometeu o crime há 21 anos, quando morava em Pernambuco. Com família constituída e bar próprio, foi preso em Diadema ao constar como procurado. “Fiz aquilo em um acesso de raiva e me arrependo. Quero prestar esclarecimentos e também retornar à minha família”, disse ele, que aguarda decisão há três anos e dez meses.

José, 58, também não vê a hora de rever os parentes. Ele afirmou que matou um homem que violentou sexualmente a filha há 17 anos. “É difícil, mas fiz isso. Agora trabalho muito para tentar reduzir a pena.”

Há dois anos e cinco meses na prisão, ele é responsável pela biblioteca, faz a limpeza da área comum e também pequenos reparos, como pintura, que é sua profissão. “Minha família me visita toda semana e continuamos juntos.”