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Onze estudantes abandonam o Ensino Médio por dia na região

Em 2014, total de 4.200 alunos desistiram
da escola sem concluir a etapa educacional

Natália Fernandjes
do Diário do Grande ABC
20/12/2015 | 07:07
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Andréa Iseki/Arquivo DGABC


Falta de estímulo, repetência, necessidade de trabalhar e dificuldades familiares. Esses são, na visão de especialistas, os principais fatores que levam jovens a abandonarem os estudos no Ensino Médio. No Grande ABC, 4,42% dos estudantes matriculados em uma das três etapas do último ciclo na rede estadual, considerada hoje o principal gargalo da Educação brasileira, o correspondente a cerca de 4.200 alunos, desistiram da escola no meio do caminho em 2014. O número equivale a 11 ocorrências por dia.

O abandono escolar acontece quando o aluno deixa de frequentar as aulas durante o ano letivo, mas não perde o vínculo com o sistema educacional no próximo período, como acontece na evasão. “Além de ser uma preocupação porque está indicando frequência insuficiente nas aulas – e, se o aluno não vai à escola, ele não aprende –, o abandono pode ser o prenúncio do rompimento total com a unidade de ensino”, destaca o doutor em Educação e professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Ocimar Munhoz Alavarse.

Entre as sete cidades, a maior taxa de abandono foi registrada nas escolas estaduais de Santo André (4,7%, cerca de 1.099 alunos), seguida por Rio Grande da Serra (4,5%, 86 alunos), São Bernardo (4,4%, 1.404 alunos), Diadema (4,1%, 777 alunos), São Caetano (3,6%, 175 alunos), Mauá (3,2%, 565 alunos) e Ribeirão Pires (2,2%, 109 alunos). No ano passado, a etapa do conhecimento contou com 95,3 mil matrículas na região.

Entre 2010 e 2014, a taxa de abandono nas sete cidades teve alta, já que naquela época o número era de 3,57%, o correspondente a cerca de 3.600 estudantes. O total de alunos matriculados era de 102,7 mil.

Os números regionais estão abaixo do contabilizado no Estado, onde 5% dos jovens deixam de frequentar a escola (80,3 mil). Já no País, o problema atinge 8,8% da população nesta etapa do conhecimento, em torno de 611 mil pessoas.

“O abandono é algo que deve ser combatido todos os dias. Geralmente, o aluno dá sinais de que vai abandonar. Ou ele vem um ou dois meses e deixa de frequentar ou desiste lá para o mês de setembro porque percebe que não está indo bem. Há também aquele caso que vem dois dias e falta três. Faltou, tem de ligar para a família”, destaca Alavarse, que considera o problema indicador de fracasso escolar. “O índice de abandono deveria ser zero.”

Para o conselheiro tutelar de Diadema Rinaldo Reis, o abandono é consequência da falta do acompanhamento da família na vida escolar do adolescente. “Outra questão que deve ser levada em conta, principalmente nas periferias, é a necessidade de o aluno trabalhar para ajudar em casa ou conquistar independência”, diz.

A alternativa, na visão da coordenadora do GT (Grupo de Trabalho) Educação do Consórcio, Ana Lúcia Sanches, é tornar a escola mais atrativa, além de fortalecer o local como espaço de convivência da comunidade. “Temos de resgatar o lugar social da escola. Ela passou a ser desinteressante”, ressalta ao lembrar que, para a população mais carente, escolarização e profissionalização não estão vinculadas. “Muitos não enxergam como oportunidade e optam por trabalhar ao invés de estudar.”

Vale destacar que, conforme o Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 30% da população do Grande ABC com idade entre 18 e 24 anos não possui Ensino Médio completo. O número é ainda maior quando considerados os moradores com 25 anos ou mais – 60% deles não completaram a última etapa da Educação Básica.

Campanha diminui quantidade de faltas toleráveis

A Secretaria da Educação do Estado aposta em projeto que diminui para 10% o número de faltas toleráveis na escola. A ação, que visa diminuir as taxas de abandono, prevê atuação por parte da direção escolar e dos professores junto aos pais a partir do índice. Antes, a lei determinava que a comunicação deveria ser feita com 20% de ausências.

Além disso, a campanha Quem Falta Faz Falta estabelece que, caso o aviso aos responsáveis não surta efeito, outros órgãos, entre eles Conselho Tutelar e Vara da Infância, devem ser acionados.

Por meio do canal (www.educacao.sp.gov.br/quemfaltafazfalta) estão os contatos dos órgãos protetores que podem ser mobilizados em caso de excesso de faltas, as legislações sobre o tema, material informativo e boas práticas escolares que resultaram na prevenção ao abandono escolar.

Conforme o Estado, a campanha foi criada com base em “experiências bem-sucedidas desenvolvidas pelas escolas estaduais, que já resultaram em diminuição histórica de 81% das taxas de abandono na rede de São Paulo desde a década de 1980.” Naquela época, o índice era de 26,5% e atualmente está em 5% no Ensino Médio paulista, “uma das taxas mais baixas do País, apesar do tamanho e complexidade da rede estadual”, conforme a Pasta.




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