Em 1960, o sociólogo José Fábio Barbosa da Silva defendeu uma dissertação de mestrado na Escola de Sociologia e Política abordando um tema inusitado para a época: Homossexualismo em São Paulo: Estudo de um grupo minoritário. A banca era composta pelo futuro presidente Fernando Henrique Cardoso, o sociólogo Octavio Ianni e Florestan Fernandes, que foi o orientador do estudo.

O trabalho foi aprovado. Barbosa da Silva viajou para os Estados Unidos no ano seguinte, onde continuou sua carreira acadêmica. Houve apenas uma menção sobre a pesquisa inédita sobre homossexuais, em uma revista de sociologia. Depois, o trabalho de Barbosa da Silva caiu no esquecimento. Inclusive o próprio autor se esqueceu dela.

Coube ao historiador James Green redescobri-la 40 anos depois. Green, que é autor do livro Além do Carnaval: A Homossexualidade Masculina no Brasil do Século XX, tomou conhecimento do trabalho de Barbosa da Silva ao ler uma edição do jornal Lampião, de abril de 1979, que se referia à tese. Fora essa referência, não havia qualquer vestígio da pesquisa. Nem mesmo nos arquivos da biblioteca da Escola de Sociologia, onde o trabalho acadêmico foi realizado.

Por uma série de coincidências, Green localizou o autor na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos. Houve um contato telefônico entre Green e o autor, que confessou, depois de alguma hesitação: "Eu tinha esquecido completamente desse trabalho". Barbosa da Silva localizou um exemplar datilografado no sótão de sua casa e enviou o trabalho para Green.

Quarenta e cinco anos passados, a tese que faz um estudo sobre a vida, os hábitos e a cultura homossexual dos anos 50 é finalmente publicada pela Editora Unesp (R$ 36).

O livro Homossexualismo em São Paulo será lançado nesta sexta às 14h30 no Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, São Paulo). Green autografará o livro, que traz a dissertação de Barbosa da Silva acompanhada de textos de outros autores sobre o mesmo tema (inclusive um escrito do próprio Green que narra o tortuoso caminho até a redescoberta do texto perdido).

A leitura da monografia histórica revela a existência de grupos fechados, que viviam em guetos, praticamente escondidos e marginalizados. O trabalho de Barbosa da Silva tem o mérito de resgatar esse mundo esquecido, com suas gírias e relações específicas. Com o passar do tempo, o homossexual saiu do gueto e reivindicou uma afirmação política, de rua, transformada, mais tarde, em Parada.