Santos Dumont, pai da aviação e um dos maiores gênios inventivos da história da humanidade, ficaria impressionado com a criatividade desses homens e suas máquinas (mais ou menos) voadoras.

Criadores e criações desafiam as leis da gravidade - e até da lógica - na segunda edição do Flugtag - o Dia do Voo, que será realizado sábado, a partir das 11h, no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo. Serão 40 invenções (duas delas da região), que partirão de uma rampa e tentarão manter-se em voo pelo maior tempo possível, até de aterrissarem no lago.

O regulamento da competição proíbe apenas o uso de motor. De resto, vale tudo para impressionar os juízes. Para se ter uma ideia, na primeira vez que o evento ocorreu no Brasil (em 2006), uma das máquinas voadoras tinha a forma de cocô e os integrantes da equipe estavam fantasiados de moscas.

Neste ano não será diferente. Basta ver os projetos que serão apresentados pelos representantes do Grande ABC. O estudante de Engenharia Civil Antonio Campos Macedo, 37 anos, de São Bernardo, será o piloto de um piano voador. O comerciante Paulo Sérgio Pereira, 42, que mora na Vila Alpina (São Paulo), mas que no primeiro Flugtag competiu por São Caetano, estará a bordo de uma réplica da Apollo XI, que 40 anos atrás levou o homem à Lua.

Ambos são considerados veteranos. Eles voaram (ou quase isso) em 2006. Macedo criou uma ilha, enquanto Pereira e sua equipe montaram um jato supersônico. Ambos não tiveram muito sucesso, a ilha foi parcialmente destruída pela chuva que caiu na véspera do evento e o avião caiu de bico na água.

"Este ano nós vamos para ganhar", avisa Pereira. Ele pesquisou em detalhes a aventura espacial que levou o homem à Lua e procurou reproduzir tudo para o Flugtag. Desde o formato do foguete até os trajes espaciais utilizados na época.

Ele, o filho Paulo, e os sobrinhos Paulo Monteiro, Fernando Pereira e Adriano Dianete, vestidos a caráter, realizarão uma performance antes do foguete decolar. Durante 30 segundos executarão alguns passos de dança ao som do tema de 2001, Uma Odisséia No Espaço e trechos de música sertaneja.

Macedo e sua turma - Márcio Giraldine, Júlio César Costa e Silva, Paulo Renato Valente e João Francisco -, todos estudantes de Engenharia, optaram pelo piano voador após excluirem outras opções. "Pensamos em fugir do comum, em contrariar as leis da física com coisas inusitadas, impossíveis de voar. Falamos em cofre, bigorna e depois optamos pelo piano", contou o piloto.

A inspiração para disputar o Flugtag surgiu na faculdade. "Nas horas vagas nós ficávamos jogando aviões de papel pela janela. Quando surgiu a propaganda do evento, resolvemos fazer um projeto e participar", relembrou.

Nesta edição os organizadores receberam 1.600 projetos. Apenas 40 foram selecionados e ganharam sinal verde para serem construídos. Os participantes serão avaliados por um grupo de jurados, que levarão em conta a criatividade, originalidade, performance do voo até a água e a maior distância. A equipe vencedora ganhará o direito de assistir uma etapa da Corrida de Aviões em 2010.

Competição existe desde 1991

Embora esta seja apenas a segunda vez que o Flugtag - Dia do Voo ocorre no Brasil o evento tem tradição internacional e é realizado desde 1991. Esta será a 78ª edição do evento, que já passou por 55 cidades de todo o planeta, com um público total estimado (pelos organizadores) de aproximadamente 35 milhões de pessoas.

Flugtag é derivado da expressão alemã Floog Toog, que significa ‘dia de voar' e reflete exatamente o espírito da competição. No evento, as equipes constroem suas máquinas voadoras e se lançam de uma rampa para alçar voo.

O primeiro Flugtag aconteceu na Áustria em 1991. Desde então o sonho de voar com máquinas caseiras se espalhou pelo mundo todo. Já ocorreram competições na Irlanda do Norte, Estados Unidos, Itália, República Tcheca, Alemanha e Portugal. O recorde de público foi registrado no Hyde Park de Londres (Inglaterra), quando 350 mil pessoas assistiram o evento.

No Brasil, a primeira edição foi realizada em 2006, no Parque do Carmo, Zona Leste de São Paulo. Naquele ano , os organizadores receberam aproximadamente 600 projetos. Desta vez, mais de 1.600 candidatos a construtores enviaram seus desenhos e apenas 40 foram escolhidos.

"Realmente é uma ótima chance para podermos mostrar nosso lado de artista", aponta o comerciante Paulo Sérgio Pereira, que irá participar pela segunda vez do Flugtag. "Além disso, unimos a família toda em torno do projeto", completa. Sua equipe foi detalhista e trabalhou duro na montagem da réplica perfeita do foguete Apollo XI que irão mostrar ao público paulista no sábado.