Setecidades Titulo Crime
Professor viciado em crack é
preso acusado de esfaquear taxista

Profissional de Diadema iria até Ribeirão Pires, mas foi
surpreendido no caminho pelo suposto passageiro violento

Por Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
13/01/2012 | 07:00
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Nascer de novo. Esse é o pensamento do taxista Josoaldo Supriano de Aquino, 66 anos, após saber da prisão preventiva, terça-feira, de Jeferson Fazolim Ferreira, 28, acusado de assaltá-lo no início de dezembro. Identificado como professor de Ensino Médio da rede estadual, morador do Jardim Caçula, em Ribeirão Pires, Fazolim é viciado em crack e teria cortado a garganta do motorista com uma faca para pegar seus pertences.

A cicatriz e os 15 pontos que levou no pescoço ainda assustam Aquino. Há 34 anos taxista em Diadema, já fora vítima de assaltos, mas nunca com tanta violência. Ficou sete dias internado em Mauá. Chegou a pedir transferência com medo. "Eu não conseguia dormir de noite, achava que ele ia voltar e me matar de vez", disse. Foi por sorte que ele não morreu. "Deus estava do meu lado. Cheguei morto e consegui sair vivo", completou.

A experiência mostrou a Aquino que o calado passageiro daquele dia não tinha boas intenções. Eram por volta das 7h quando Fazolim se sentou no banco de trás do carro. Mas ele exigiu para que o cliente fosse no banco da frente. O destino era a Estrada do Caçula. Foi de cabeça baixa durante todo o trajeto. "Passei por uma base da polícia no caminho, mas estava vazia. Eu iria parar na hora."

Ao chegar no destino, o professor começou a vasculhar a mochila, tirou uma faca e atacou o taxista. Iria desferir mais golpes, mas Aquino segurou a faca. Saiu com cortes nas mãos, braços e até cabeça. A roupa ficou encharcada de sangue. Fazolim levou documentos, R$ 60 em dinheiro e folhas de cheque. Falsificou a assinatura, descontou com uma delas R$ 600 da conta-corrente e gastou em um motel do Riacho Grande, em São Bernardo, onde ficou hospedado por dois dias. Um dos filhos achou o suspeito na internet e mostrou a foto ao pai. "Reconheci na hora."

Avisados, policiais de Ribeirão Pires, onde o caso foi registrado, não tiveram problemas para prender o professor. Estava imobilizado em casa, com a perna quebrada. Anteontem, decretada a prisão preventiva, foi levado ao Centro de Detenção Provisória de Mauá, autuado por roubo e tentativa de homicídio. É investigada a sua participação em mais crimes de roubo na região.

Aquino só conseguiu voltar ao trabalho nesta semana. Tingiu os cabelos para evitar ser reconhecido. Aliviado com a prisão, mas ainda estressado pelo que passou, o taxista já pensa em se aposentar. "Peguei trauma. Saio na rua olhando para os lados, achando que estou sendo seguido. Às vezes você vai cismar com uma pessoa, recusar a corrida e não tem nada a ver", apontou. 

Para os conhecidos, ele estava reabilitado

A notícia da prisão de Jeferson Fazolim Ferreira foi uma surpresa para os vizinhos no Jardim Caçula, em Ribeirão Pires. O vício do professor em crack era conhecido, mas todos pensavam que ele estava reabilitado após passar quatro meses internado em clínica administrada por uma igreja na cidade, no ano passado.

Motivos para acreditar que estava recuperado não faltavam. A mulher de Ferreira, pedagoga em uma escola estadual, está grávida de três meses. Ambos estavam casados desde outubro, mas há sete meses moram juntos em uma modesta casa, sem portão ou calçada. "Ela sabia dos problemas dele, pois sempre ia visitá-lo na clínica, sempre estava do lado dele", disse um vizinho. "Mas jamais poderíamos imaginar que ele chegaria a esse ponto, de tentar matar alguém."

Apesar de reservado e discreto, Ferreira é tido como homem educado e honesto pelos conhecidos. Sempre cumprimentava a todos, principalmente após a missa que frequentava aos domingos. Segundo um amigo, a perna estava quebrada por ele ter caído enquanto descia as longas escadarias que levam até sua casa.

Este ano prometia ser diferente para ele. Afastado desde 2010 dos trabalhos como professor de Biologia do Ensino Médio, chegou a comentar que estava pronto para voltar e procurava vaga em uma escola da cidade, mais próxima de sua casa. Vinha ajudando no sustento da casa atuando como atendente de telemarketing.

O taxista Josoaldo Aquino, ciente da história de vida de seu agressor, diz que não sente raiva e que Deus irá julgá-lo. "É o preço das opções que ele fez na vida. Veja bem, um cara que era professor, cair desse jeito e hoje estar por aí roubando e matando. É de dar pena."




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