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Mães com o coração ilimitado

Mulheres dedicam suas vidas não só aos filhos de sangue, mas a todos que carecem de amor

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
10/05/2015 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Há um ditado popular que diz: em coração de mãe sempre cabe mais um. Na verdade, cabem muitos e alguns exemplos mostram que esse espaço é ilimitado.

A psicóloga Marcia Andrea Santos Rivero, 42 anos, tem duas filhas biológicas: Vivian, 5, e Barbara, 2, mas, desde 2010, transformou a casa em que vive, no bairro Quarta Divisão, em Ribeirão Pires, em uma creche onde cuida de 50 crianças carentes, as quais têm também como seus rebentos. Detalhe: ela não ganha um centavo sequer pelo trabalho.

No local, os pequenos, com idade entre quatro e 12 anos, recebem alimentação, higiene, reforço escolar e muito carinho no período em que seus familiares estão trabalhando.

A vocação maternal é genética. A mãe de Marcia, Claudete de Jesus Martins Silva, 59, trabalhou por quase uma década em um orfanato, na cidade de Mauá. Ao deixar a atividade, projetou desenvolver alguma ação em que pudesse ajudar as crianças mais pobres. Mesmo com poucos recursos, ela começou a promover festas em algumas datas comemorativas, como Páscoa, Natal, além de oferecer atividades de dança e evangelização aos sábados. “O meu sonho era começar todos os dias, pela carência do bairro”, lembra Claudete.

Marcia, que era proprietária de uma empresa de Recursos Humanos, largou a carreira e somou forças com a matriarca para realizar o projeto, focando em crianças que estão em situação abaixo da linha da pobreza.

Os quatro primeiros pequeninos que começaram a atender, na intitulada Estação Casa do Caminho, pertenciam à realidade subumana. “O pai era viciado em crack e a mãe, com 27 anos, tinha oito filhos. A casa não tinha banheiro, as crianças se lavavam em um riacho, que não era muito limpo, e não sabiam nem o que era papel higiênico. Eu tinha um olhar melhor do mundo, não sabia que existia tudo isso”, recorda a psicóloga.

O boca a boca da ação foi fazendo o número de atendidos aumentar. A cunhada de Marcia, Débora Rodrigues, 34, forma o trio que dá assistência à criançada atualmente.

Somente doações mantêm a estrutura, que tem gasto mensal de R$ 15 mil. Mas nenhuma dificuldade é maior do que a vontade de amparar as crianças, tão fragilizadas pela situação precária em que vivem. “Aprendi com a minha mãe que não basta só cuidar dos nossos, pois fica sendo muito pouco”, diz Marcia. O aprendizado, ao que tudo indica, vai passar de geração para geração. “Minha filha Vivian acompanha toda essa movimentação e a Barbara já nasceu nesse meio. Eu sinto que tanto uma quanto a outra vai abraçar essa causa.”

DEDICAÇÃO

Nos corações de Celia Lacerda Albuquerque, 47, e Tanea Maria Barbosa Brito, 50, também sempre cabem cada vez mais filhos. As duas são mães sociais, nome que se dá às mulheres que cuidam de crianças e adolescentes que, por diversos motivos, tiveram seus vínculos familiares fragilizados ou rompidos.

As duas residem em casa lar localizada em São Bernardo, pertencente à ONG (Organização Não Governamental) Aldeia Infantil SOS Brasil e dedicam quase 100% de suas vidas a educar os que lá vivem. O salário inicial da função é de R$ 1.245 e as cuidadoras que residem no espaço possuem escala de folga.

Celia, que tem quatro filhas biológicas, ganhou nove filhos quando chegou à residência, dois anos atrás. Hoje, seis estão sob sua tutela. “Cuido deles do mesmo jeito que cuidei das minhas famílias”, fala.

Com oito anos de atuação, Tanea, que tem uma filha de 28 anos, já criou e foi base para muitas outras pessoas. Na casa, os filhos também são criados para o mundo e, ao completarem 18 anos, precisam deixar o acolhimento. O coração da mãe fica apertado. “Quando eles saem, ficamos pensando como estão, se estão se cobrindo, se alimentando, trabalhando”, enumera ela, que atualmente, é responsável por sete filhos de coração.

Muitos que já saíram do lar, voltam frequentemente para visitá-las. “Nesses momentos vemos que o que ensinamos a eles, guardaram no coração”, fala Tanea.

A dupla de mães sociais faz coro ao ser indagada até quando exercerá o papel maternal dessas crianças e jovens: “Até quando Deus nos der forças.”




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