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Machado de Assis a gosto do povo
Gabriela Germano
Da TV Press
08/12/2008 | 07:01
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Divulgação


O orçamento de R$ 1 milhão por capítulo é pouco para Luiz Fernando Carvalho. Mas foi com essa quantia que ele teve de ‘se virar' para produzir Capitu, minissérie adaptada do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, que estréia amanhã, às 22h55, na Globo. "Dinheiro limitado impõe que a gente crie. No lugar de uma superprodução, usamos a imaginação", simplifica o diretor. Essa é mais uma aposta que a emissora faz em um diretor que até agrada a alguns críticos, mas nem sempre ao público. A Pedra do Reino, seu trabalho mais recente na TV, ficou com nove pontos de audiência, apenas o terceiro lugar.

A primeira idéia de Luiz Fernando era realizar todas as gravações nas ruas do Centro do Rio. Mas justamente pela inviabilidade dos custos, um bom espaço encontrado para relembrar as memórias do narrador Dom Casmurro foi o Automóvel Club do Brasil, um antigo casarão do século 19 em frente ao Passeio Público, tão citado nas obras de Machado. O responsável pela direção de arte e cenografia Raimundo Rodriguez diz que a opção por trabalhar com material reciclado, no entanto, não tem a ver com custos, mas com conceito. "Temos bastante ex-lixo, ferro velho. Mas tomamos o cuidado de transformar isso em idéias e não em bobagens", polemiza o artista plástico.

Com cinco capítulos, toda a história é contada pelo narrador nada confiável Dom Casmurro, interpretado pelo ator Michel Melamed. Na velhice, ele resolve resgatar a trajetória dele próprio, Bentinho, representado quando jovem por César Cardareiro. E o ápice é o romance com o grande amor de sua vida, Capitu, vivida pela estreante Letícia Persiles na juventude e, na segunda fase, por Maria Fernanda Cândido.

"É complicado porque faço duas composições diferentes. O Bento é jovem, mas o Dom Casmurro é um velho maduro que deve deixar o telespectador na dúvida se ele está falando a verdade ou não", explica Michel. Já para César Cardareiro, falar sobre a maneira como compôs o personagem é algo bem menos palpável. "A única coisa que fiz foi sentir o Bentinho dentro de mim", vagueia o garoto.

É assim, investindo em atores desconhecidos e bem ou pouco articulados que Luiz Fernando montou todo o elenco de Capitu. Com a exceção de Eliane Giardini, que dá vida à Dona Glória, mãe de Bentinho. "O Luiz me resgatou e me dá orgulho ver que ele continua me chamando para trabalhar. Um convite dele é o mesmo que um prêmio", exagera Eliane.

A dúvida que permeia toda a história contada por Dom Casmurro é se Capitu o trai ou não com seu melhor amigo, Escobar. Conhecido como um diretor ousado, Luiz Fernando não se atreveu a dar uma resposta para essa questão. E o jovem ator Pierre Baitelli, que interpreta Escobar na minissérie, gostou da experiência de atuar sem ter essa resposta. "Trabalhar na dúvida instiga. Escobar às vezes é angelical e às vezes é demoníaco", define Pierre.

Durante dois meses e meio, todo elenco se reuniu em um galpão, no Centro do Rio, para participar da preparação antes das gravações. Foram aulas de improvisação, respiração, além de preparação vocal. Nesse mesmo local, Luiz Fernando quis realizar a coletiva de lançamento de Capitu. Ele gosta de rituais e queria fechar o ciclo onde tudo começou. "Esse galpão nos diz muito. Usamos esse espaço como lugar sagrado", filosofa o diretor.

MACHADO POP
Capitu é a segunda produção a integrar o projeto Quadrante, idéia de Luiz Fernando Carvalho que propõe a adaptação de obras literárias nacionais, encenadas por atores desconhecidos de diversas regiões do País.

No caso de Machado de Assis, o escritor de Dom Casmurro, o diretor diz que deseja mesmo é derrubar um mito. "Estou lutando contra o preconceito das pessoas que leram Machado de Assis de maneira errada nas escolas e dizem que é um autor chato ou intragável", almeja ele, que colocou até rock na trilha sonora da minissérie. "Tem rock porque há um desejo de atrair os jovens. Machado ficaria feliz de ser compreendido pelos jovens do Século 25", completa.

Para o diretor, a literatura retrata toda a miscigenação do País e, justamente por isso, ele se agarra nela. O fato de escolher atores de diferentes regiões também é uma tentativa de ir na contramão das fórmulas. "O nível cultural do povo tem sido rebaixado nas últimas décadas pela TV e pela indústria cultural. Faço parte dela, mas tento ir contra os modelos que ela impõe", afirma Luiz Fernando. "Não acredito que o balaio de talentos do Brasil acabe nos rostos conhecidos", defende.

E quando o assunto é audiência na TV, o diretor é enfático. "Não penso em números. Minha expectativa é de comunicar. Você pode marcar 50 pontos, mas só ter pessoas anestesiadas em frente à TV", argumenta.




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