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Surpresas à vista no cinema
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
09/01/2006 | 08:08
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Àqueles vacinados contra a cilada de fazer chifrinhos no cinema norte-americano apenas pela nacionalidade (e pela estratégia hegemônica de distribuição a ele atribuída), 2006 pode reservar algumas interessantes surpresas vindas do principal exportador de filmes do globo. Não está com pinta de superar ou sequer igualar 2004, ano repleto de filmes excelentes, a mencionar Encontros e Desencontros, Peixe Grande, Elefante, A Vila e o díptico Kill Bill. Mas pode ultrapassar 2005, que não providenciou uma das melhores safras atuais.

Segue abaixo uma prévia de alguns dos filmes norte-americanos que podem concentrar atenções ao longo do ano, divididos em duas categorias: os oscarizáveis, aqueles capazes de arrecadar estatuetas no 78º Oscar, cuja cerimônia está programada para 5 de março; e os blockbusters, filmes com chances de arrecadar mais, muito mais que o dinheiro do cafezinho nas bilheterias.

Entram neste sumário filmes cujas estréias em território brasileiro estão previstas para o primeiro semestre ou um pouquinho além. Ficam assim justificadas, por exemplo, as ausências de Casino Royale, 21º filme da série James Bond, para novembro; Apocalypto, o épico pré-colombiano de Mel Gibson, sem data definida; e The Visiting, refilmagem de Vampiros de Almas (1956) com Nicole Kidman, prevista para agosto. Pelas mesmas razões, Lady in the Water não mereceu uma descrição mais detalhada, embora seja obra de M. Night Shyamalan, diretor que, faça chuva ou faça sol, carrega uma coleção de coringas nas mangas. E pode ajudar a tirar 2006 da mediocridade.

Oscarizáveis

Match Point
Candidato aos Globos de Ouro de melhor filme, roteiro e diretor, a novidade artística de Woody Allen pode não ter grandes chances diante dos concorrentes, mas dá gosto ver seu nome de volta ao rol de indicados após uma sucessão de obras de auto-entretenimento do diretor, que o divertiam durante a realização – já que é proverbial sua indiferença pelos próprios filmes depois de concluídos. Um ex-tenista casado com uma milionária filhinha-de-papai apaixona-se pela sensual namorada de seu cunhado e tal envolvimento, além de lances de humor negro, parece desembocar em um suspense inesperado, dada a fama do diretor. Tal é a história de Match Point, o primeiro filme do nova-iorquino da gema rodado inteiramente em Londres e aceito por parte da crítica como o melhor Allen dos últimos anos.

Lançamento: 27 de janeiro

Capote
Se no ano passado, o Oscar de melhor ator já estava preenchido no nome de Jamie Foxx (Ray), este ano a (quase) certeza cabe a Philip Seymour Hoffman, que personifica no filme de Bennet Miller o autor de Bonequinha de Luxo e A Sangue-frio, o escritor Truman Capote (1924-1984). O filme concentra-se nos seis anos (1959-1965) em que o romancista e jornalista acompanhou a chacina da família Clutter, da qual quatro pessoas foram assassinadas no Kansas e que originou as páginas do livro A Sangue-frio. Os claros esforços e o investimento de tempo feitos por Hoffman para apreender os maneirismos gestuais e os discursos de Capote não foram vãos, em um filme realizado de forma inteligente e meticulosa, segundo o crítico David Walsh.

Lançamento: 24 de fevereiro

Johnny e June
Filme cujos atores principais têm elevadas chances de fazer um discurso de agradecimento em 5 de março. Sobretudo porque Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon foram escolhidos pessoalmente pelo cantor country Johnny Cash (1932-2003) e por sua mulher, June, para os interpretarem nesta cinebiografia. É aquela velha história do superesforço dramático: Phoenix e Reese passaram por um intensivão de aulas de canto para os papéis e dispensaram dublagem. Ele foi além e aprendeu a dedilhar o violão tal qual Cash. A crítica norte-americana – ao menos aquela minoria que transcende a lenga-lenga superficial – compara Johnny e June a Ray, pois ambos insistem em atribuir um consumo crônico de drogas, tanto de Cash quanto de Ray Charles, a um trauma de infância.

Lançamento: 10 de fevereiro

Boa Noite, e Boa Sorte
Com uma vareta muito curta, George Clooney revira os eventos do macarthismo nos anos 40 e 50, quando o Comitê de Atividades Anti-americanas do Congresso dos Estados Unidos supôs que havia uma conspiração comunista entre roteiristas e a mão-de-obra criativa de Hollywood, principal mídia do país à época. A caça às bruxas é retomada por Clooney – que dirige e interpreta – a partir de um telejornal, comandado pelo jornalista Edward Murrow (David Strathairn), que procurava minar o prestígio do senador Joseph McCarthy, o principal incendiário da paranóia anticomunista. O filme em preto-e-branco procura exibir um dos períodos mais vergonhosos na relação entre a política e a indústria do cinema, cujo objetivo evidente, apesar de camuflado, era demonizar o New Deal.

Lançamento: 24 de fevereiro

Munique
Steven Spielberg em drama cujos conflitos vêm inseminados pela intolerância. Nada mais redondo que tal combinação para uma colheita de Oscars. Ao retratar as investigações que se seguiram ao Setembro Negro – atentado de terroristas palestinos ao alojamento de atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique, em 1972 –, o homem-símbolo do cinema de espetáculo corre atrás de sua terceira estatueta como diretor, depois de A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan. A vantagem de Munique sobre Brokeback Mountain, segundo o oscarômetro da Academia: dramatiza um conflito contemporâneo (o do Oriente Médio) e, teórica e superficialmente, une responsabilidade política ao manuseio das emoções. Tipicamente hollywoodiano.

Lançamento: 27 de janeiro

Brokeback Mountain – Um Amor Proibido
A vaga sobre a lareira, para uma eventual estatueta do careca dourado, já está limpa e lustrada, tamanho o crédito que a crítica norte-americana deposita no novo drama de Ang Lee. As sete indicações ao Globo de Ouro e o Leão de Ouro de Veneza facilitam ainda mais a vida deste filme do diretor que viu o Oscar escapar pelos dedos em 2001, ano de O Tigre e o Dragão. Sensibilidade e pertinência são dois termos freqüentes quando se fala em Brokeback Mountain, narrativa do relacionamento homossexual de dois caubóis (Heath Ledger e Jake Gyllenhaal) que atravessa anos e casamentos frustrados. A taça do mundo é dele, ao que tudo indica; é claro que Munique, o novo de Spielberg, pode empatar o jogo na prorrogação.

Lançamento: 3 de fevereiro

Fique alerta também para...

A Marcha dos Pingüins, documentário de Luc Jacquet sobre um ciclo na vida dos pingüins na Antártida.

Lançamento: 13 de janeiro

Sra. Anderson Apresenta, drama de Stephen Frears (Ligações Perigosas) que retrata o empenho de uma mulher em financiar espetáculos teatrais com cenas de nudez na Londres dos anos 30.

Lançamento: 27 de janeiro

Memórias de uma Gueixa, filme novo de Rob Marshall (Chicago), com imagens exuberantes e protagonista (Zhang Ziyi) idem.

Lançamento: 3 de fevereiro

Blockbusters

Superman – O Retorno
Estão chegando ao fim as longuíssimas férias do Super-homem. Após 19 anos distante do cinema, o herói volta em filme de Bryan Singer, diretor sacado da série X-Men, e o desconhecido Brandon Routh assume o lugar que outrora coube ao patrimonial Christopher Reeve. Na trama, extingue-se outro recesso: o protagonista decide encerrar o retiro espiritual que fez durante longos anos em Krypton, seu planeta natal e onde reencontra o pai (Marlon Brando, em imagens de arquivo), e volta à Terra. Ao pousar no planeta adotivo, descobre que Lois Lane (Kate Bosworth) e os demais terrestres já não sentem mais sua falta, exceto o arquirrival Lex Luthor (Kevin Spacey). Se confirmadas as estimativas de consumo de US$ 250 milhões na produção, Superman – O Retorno será o filme mais caro da história.

Lançamento: 14 de julho

Missão Impossível 3
Sabe-se o mínimo a respeito da próxima missão do agente Ethan Hunt, a não ser que Tom Cruise é o sujeito que manda prender e manda soltar na produção, pois além de protagonista é também produtor executivo. Foi ele, após assistir a alguns episódios do seriado Alias, que escolheu J.J. Abrams para dirigir o terceiro filme da franquia, cujo enredo é desconhecido – não tanto quanto o elenco, que inclui Laurence Fishburne e Philip Seymour Hoffman. Sobre o diretor não há muito o que falar, a não ser que é estreante em direção de cinema e foi um dos roteiristas de (cruz-credo!) Armageddon (1998). E também que terá de segurar o rojão que já foi competência de Brian De Palma e John Woo, com louvor.

Lançamento: 5 de maio

Piratas do Caribe 2 – O Baú da Morte
O primeiro Piratas do Caribe tinha jeito de desastre anunciado. Afinal, um filme cuja inspiração era um parque temático da Disney e cujo diretor, Gore Verbinski, tinha realizado O Chamado, só poderia dar em naufrágio. Mas eis que Johnny Depp surpreendentemente apareceu em cena como o pirata Jack Sparrow e Verbinski demonstrou que sua noção de timing do cinema de entretenimento, em seu estado mais bruto, era muito melhor que se imaginava. Na segunda parte da saga, o capitão Sparrow deve encontrar uma maneira de driblar seus credores, um bando de piratas fantasmas que vieram buscar sua alma como pagamento de uma antiga dívida de sangue. Novamente envolvido com o sobrenatural, o tresloucado pirata recorre à ajuda do ferreiro Will (Orlando Bloom) e da donzela Elizabeth (Keira Knightley) para livrar o pescoço.

Lançamento: 21 de julho

X-Men 3
Para o terceiro filme dos heróis dos quadrinhos, registre-se a perda de Bryan Singer, responsável por boa parte da felicidade nos dois primeiros X-Men – sobretudo no segundo. Na vaga de diretor entra Brett Ratner (A Hora do Rush) e, junto a ele, a promessa de superpovoar o filme com novos personagens, como Anjo, Fera e Fanático. No enredo, o governo anuncia que descobriu uma cura científica para as mutações genéticas que provêm heróis e vilões de habilidades especiais. De lambujem, o filme aborda com mais profundidade as origens de Wolverine (Hugh Jackman) e o desenvolvimento da personagem de Jean Grey (Famke Jenssen), que passará a ser conhecida como Fênix.

Lançamento: 26 de maio

O Código Da Vinci
O best-seller de Dan Brown cumpre a jornada óbvia de todo fenômeno literário dos últimos anos: ganha versão cinematográfica, infelizmente deixada aos cuidados de Ron Howard, o homem que queria ser cineasta. Tom Hanks vive Robert Langdon, o protagonista-simbologista que, a partir do assassinato de um curador do museu do Louvre, na França, descobre a existência de uma organização que preserva segredos sobre a vida de Jesus Cristo e seus supostos descendentes, cujos indícios estariam escondidos nas pinturas de Leonardo Da Vinci. A não ser que Howard consiga se desvencilhar das algas de mediocridade em que vive enredado, não há muito a esperar deste filme que, registre-se, é das raríssimas produções a terem autorizadas as filmagens nas dependências do Louvre.

Lançamento: 18 de maio

Carros
Paciência é uma virtude, mas tenham a santa paciência, Disney e Pixar! A demora já é maior que o tolerável para o lançamento do filme que sucede Os Incríveis, Procurando Nemo, Monstros S/A, Vida de Inseto e os dois Toy Story na brilhante filmografia da Pixar e que deveria ter sido lançado em novembro último. O atraso tem como justificativa aproveitar a temporada de verão deste ano no hemisfério norte. Retardos à parte, resta a expectativa pelo novo filme de John Lasseter, cabeça pensante da Pixar que nada dirige desde Toy Story 2 (1999) e agora narra a jornada de um carro de corrida (voz de Owen Wilson) que, ao lado de um velho guincho (Paul Newman), supera poucas e boas para chegar a uma supercompetição entre stock-cars.

Lançamento: 30 de junho

Fique alerta também para...

A Era do Gelo 2, continuação da animação protagonizada por animais pré-históricos e dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha.

Lançamento: abril

A Aventura do Poseidon, refilmagem de Wolfgang Petersen do filme-catástrofe O Destino do Poseidon (1972).

Lançamento: 23 de junho

Lady in the Water, o novo de M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido) que aloja uma sereia na piscina de um condomínio.

Lançamento: 18 de agosto



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