Economia Titulo Emprego
Experiência pode dificultar contratação

Perfis sênior demoram mais para conseguir
se recolocar no mercado de trabalho atualmente

Marina Teodoro
Especial para o Diário
04/04/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


A corrida por uma chance no mercado de trabalho está cada vez mais difícil. Diante do cenário atual, características como idade avançada, salários anteriores altos e até experiência em muitas empresas e alto nível de qualificação podem atrapalhar na hora da contratação.

Isso significa que o perfil sênior – aquele em que se encaixam pessoas com mais de 30 anos e com pelo menos dez de atuação profissional – é o que mais encontra problemas para se recolocar no mercado. “Atualmente, o tempo de espera – que era de três meses em 2012 – costuma ser de seis meses a um ano, em média, para pessoas desse grupo”, afirma Antônio Russo, diretor regional da agência Employer.

A arquiteta Cristina Lemos, 42 anos, de Ribeirão Pires, perdeu o emprego há nove meses em um escritório no qual trabalhou por quase 20 anos. Desde então, ela está desempregada. “O mais frustrante é que não chamam sequer para uma entrevista”, lamenta ela, que já deixou de procurar oportunidades em sua área e agora está concorrendo a vagas em outros ramos.

Russo destaca que um dos principais “defeitos” de profissionais com perfil sênior é a idade e experiência. “Muitas vezes as empresas não estão dispostas a pagar salários altos aos cargos em aberto, principalmente em épocas de crise. Quando elas observam que o candidato é mais velho e provavelmente já teve salários mais competitivos, elas optam quase sempre por um funcionário mais jovem, com menos experiência e que servirá de mão de obra mais barata.”

Para Isis Borge, gerente de divisão da Robert Half, impressionar o empregador, nesses casos, pode ser um mau negócio. “A ideia é instigar. Muitas qualificações intimidam empresas que estejam com propostas salariais menores.”

Por isso, o primeiro passo, de acordo com a representante da Robert Half, antes mesmo da elaboração do currículo, é uma reflexão por parte do profissional. “Ele deve avaliar, entre todas os campos que atuou, qual mais se identifica e quer trabalhar. Daí em diante, precisa se planejar e focar nesse objetivo”, comenta Isis.

A gerente da Luandre Santo André, Evelyn Fernandes, chama atenção para um detalhe importante sobre o currículo. “Ele precisa estar interessante e fazer com que a empresa se sinta instigada a te convidar para uma entrevista. Informações muito detalhadas fazem com que elas pensem que já conhecem tudo sobre você e não precisam te chamar para uma conversa pessoalmente.”

CENÁRIO DESFAVORÁVEL

Os especialistas reconhecem também que, além da dificuldade natural que o perfil sênior encontra na corrida por uma recolocação, a situação financeira do País atrapalha ainda mais. “As empresas estão com o ‘pé no freio’ e deverão continuar assim até que haja algumas mudanças na economia e política”, analisa Russo.

Entretanto, as contas pessoais não podem esperar. Por isso é importante que o profissional não perca o foco. “Em épocas de pessimismo é comum que o candidato se sinta desestimulado. Então é preciso reavaliar suas habilidades e pensar em outros meios de fazer dinheiro”, completa Isis.


Flexibilidade pode ser decisiva para obtenção de boa oportunidade

Ao sair do emprego, a supervisora de estoque Joanna Lira Marcondes, 37 anos, de Santo André, não pensava em mudar a área de atuação.

Após sete meses procurando emprego, decidiu se arriscar em outros ramos. “Já havia sido manicure quando mais nova. Mas não queria voltar à profissão porque achava que era um retrocesso. Porém, mudei de ideia e no mês passado eu recebi R$ 350 a mais do que meu último salário”, conta ela.

Isis Borge, gerente de divisão da Robert Half acredita que a flexibilidade é caminho para uma boa oportunidade. “As vezes é preciso dar um passo atrás para dar dois à frente”, exemplifica.

De acordo com Isis, muitos profissionais que não recusaram vagas que ofereciam salários inferiores não se arrependem, pois hoje estão com emprego garantido. “Muitos poderão subir de cargo ao longo dos anos, já que, vale lembrar, essa situação econômica é passageira e as coisas tendem a melhorar, principalmente para a geração de emprego.”

Centros públicos oferecem 217 vagas no Grande ABC

Os CPETRs (Centros Públicos de Emprego, Trabalho e Renda) de Mauá, São Caetano e Ribeirão Pires somaram 217 oportunidades de ocupação na última semana. As prefeituras de São Bernardo e Rio Grande da Serra não informaram as vagas até o fechamento desta edição.

As possibilidades de emprego, cujos salários vão de R$ 950 a R$ 1.600 e abrangem diversos cargos como auxiliar de limpeza, administrador de recursos humanos e cozinheiro, são para atuar nas sete cidades da região.

Em Santo André, o CPETR foi transferido para o prédio da Prefeitura nesta semana. O de Diadema fechou as portas temporariamente por problemas financeiros.

CAPTADORES

Prestes a completar 62 anos, o andreense Laércio do Prado cumpre sua rotina religiosamente todos os dias desde que voltou a trabalhar, há quatro meses. “Às 7h30 desço do ônibus na Rua General Glicério e venho caminhando até a Catedral do Carmo e faço minhas preces àqueles que vierem ao meu encontro”

A frase pode parecer estranha, se não fosse pela profissão de Prado. Entre as inúmeras atividades que já atuou, como conferente, jogador de futebol e metalúrgico, essa é a mais inusitada: captador de currículos.

Com sua camisa branca e o nome do cargo escrito em azul, ele trabalha para a Nova Perimetral, agência de empregos da região que conheceu por meio de um anuncio na internet. “Nunca pensei que faria isso, mas faço com amor”, conta ele, que só voltou ao mercado de trabalho porque a aposentadoria magra não dava para sustentar a esposa e o filho.

“Se eu pudesse, escolheria outra área. É muito triste ver pai de família, engenheiro, entregar currículo com a frase ‘me ajude, pelo amor de Deus’”, desabafou ele, em tom emocionado.

Outro trabalhador que encontrou na mesma profissão de Prado uma maneira de complementar a renda foi o aposentado Vicente Moreira, 63 anos, de Santo André.

Empregado pela Luandre, Moreira trabalhou como cozinheiro na General Motors por 31 anos e há cinco ele encontrou essa oportunidade para continuar sustentando a família.

O cotidiano dos dois é bem semelhante. A Rua Oliveira Lima é o ‘escritório’ onde ambos recebem currículos dos mais variados perfis de candidatos.

Vestido com uma capa azul que serve de painel de oportunidades, a quantidade de gente que o procura impressiona. Durante cerca de 15 minutos, 22 pessoas se dirigiram a Moreira.

“Pela minha experiência, percebo que o pessoal de mais idade sofre muito”, conta ele, que encontra poucas oportunidades para a turma mais velha.

Os dois retornaram ao trabalho por conta da crise. “Gostaria de aproveitar minha aposentadoria com a minha mulher e meus netos, mas, enquanto não posso, sigo trabalhando e fazendo o que eu gosto: ajudando as pessoas”, completa Prado. 




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