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Lançamentos se destacam pelo Brasil de raiz
Ricardo Ditchun
Do Diário do Grande ABC
25/01/2004 | 17:14
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Duas entre tantas novidades presentes nas prateleiras das livrarias se destacam pelo conteúdo que, de modo pouco científico, pode ser definido como de raiz. As obras, Cidades Históricas – Brasil (Empresa das Artes, 286 págs., R$ 120) e Festas de Fé (Metalivros, 228 págs., R$ 140), não são baratas, mas vale a pena tê-las como prioridade na lista de aquisições literárias. Ambas têm formato de livros de arte (22cm x 28cm e 30cm x 31cm, respectivamente) e, além de textos, reúnem muitas fotos coloridas.

São duas viagens virtuais que apresentam fascinantes aspectos multidisciplinares. Vão da história, a fonte de conhecimento mais evidente nos trabalhos, aos terrenos antropológicos, passando pela sociologia, geografia, arquitetura, psicologia, filosofia etc. As cidades e as manifestações sociais nelas contidas, são, como se sabe, conseqüências – ou determinações – imediatas de nossas experiências existenciais, passadas ou presentes.

Cidades Históricas registra 50 locais espalhados por 20 Estados brasileiros e a cada um corresponde uma página introdutória, com breve análise conjuntural e bandeira. Depois, aparecem os textos sobre as localidades e as fotos, estas invariavelmente belas. As explicações são assinadas por Carlos d’An-drea, Reinaldo de Andrade e Sérgio Simões. Ed Vigianni, Fabio Colombini e Marcos Peron são alguns fotógrafos representados.

O “passeio” abrange todas as regiões do país e também serve como convite ao turismo interno. Entre outras, foram documentadas cidades como Marechal Deodoro (AL), Porto Seguro (BA), Vila Velha (ES), Pirenópolis (GO), São Luís (MA), Ouro Preto (MG), Morretes (PR), Olinda (PE), Paraty (RJ), São Miguel das Missões (RS), Laguna (SC), São Luís do Paraitinga (SP) e Laranjeiras (SE). A Vila de Paranapiacaba, em Santo André, com seu casario em estilo inglês do fim do século XIX e o conjunto de equipamentos ferroviários, é assunto em cinco páginas.

Percival Tirapeli, pesquisador e professor do Instituto de Artes da Unesp, e Rosa Gauditano, fotógrafa, assinam Festas de Fé. Os textos (em português e inglês) e as imagens formam um importante quadro de nossas tradições religiosas ligadas ao catolicismo e de eventos sacro-profanos populares.

O livro foi organizado em quatro capítulos que contêm variações. Assim, as “famílias” Festas Ibéricas e Cristianismo Popular, Festas Afro-brasileiras, Festas Italianas e Festas Indígenas são subdivididas em conjuntos específicos.

O primeiro grupo, por exemplo, se desdobra em Ciclo Natalino (Lapinha, Pastoris e Presépios; Folia de Reis; Reisados), Semana Santa (São João Del Rei; Fogaréu de Goiás), Procissões (Corpus Christi; Procissões Fluviais e Marítimas), Festa do Divino (São Luís do Paraitinga; Cavalhadas e Embaixadas em Pirenópolis), Ciclo Junino (Santos; Bumba-meu-Boi), Romarias e Santuários e Fé no Sertão (Missa do Vaqueiro; Padre Cícero).

Tirapeli e Rosa realizaram uma obra fundamental para a transmissão do sem-número de significados de cada uma das cerca de 40 tradições documentadas. Algumas estão absolutamente incorporadas ao cotidiano de grandes populações (como as procissões de Corpus Christi) e outras são limitadas, do ponto de vista geográfico, e sujeitas ao desaparecimento (caso dos rituais de passagem dos índios caiapó).

Segundo D’Andrea, um dos autores de Cidades Históricas, quando visitamos um local onde o sinal do tempo está cravado no chão, nas paredes ou na alma dos nativos “encaramos nossos orgulhos e fraquezas e, mesmo sem querer, tentamos descobrir quem fomos”. Para Tirapeli, de Festas de Fé, muitas atividades festivas têm forte relação com a natureza: “Unidos pelas atividades da agricultura, índios e negros tiveram de se adaptar ao calendário religioso do colonizador, também cheio de crendices populares. Sem abolir totalmente o ritmo africano e as melodias e danças indígenas, os padres aproveitaram essas manifestações corporais e apenas as ordenaram em forma de procissões”.




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