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Arnaldo Antunes e Marcia Xavier misturam poesia com fotografia
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
03/06/2003 | 18:50
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A intersecção entre duas linguagens, e a multiplicação que dela surge. Arnaldo Antunes e Marcia Xavier lançam em São Paulo, no próximo dia 11, o livro ET Eu Tu (Cosac & Naify, 200 págs., R$ 79), no qual exploram o encontro da poesia com a fotografia.

A obra reúne as palavras do poeta, compositor e cantor Arnaldo Antunes e as imagens fotográficas da artista plástica Marcia. ET Eu Tu não é um livro de poemas dele nem de fotos dela. A proposta se configura na união estável entre dois códigos, com um complementando o outro. “Uma linguagem não é acessório da outra, uma não está adornando a outra”, diz Antunes. “Quisemos investigar essa conversa entre texto e imagem”, afirma Marcia.

No início do processo, Marcia enviava fotos pela internet, às quais Antunes somava os poemas, às vezes mais de um para a imagem correspondente. Esse estágio durou cerca de um ano e meio. “O difícil seria o contrário, porque poderíamos cair em simples ilustrações de poemas”, diz Marcia. Para Antunes, o problema foi “não cair no texto ilustrado ou na legenda de foto”.

Antunes evita definir o trabalho como poesia visual, que ele explorou, por exemplo, em 2 ou + corpos no mesmo espaço, livro de 1997. “São poemas verbais. Não há um trabalho visual incorporado, apesar da liberdade do projeto gráfico (assinado por Antunes, Marcia e Carlito Carvalhosa). A poesia verbal está intrinsecamente ligada ao trabalho de Marcia. O diálogo entre códigos é o grande interesse do livro”, afirma.

Os artistas passeiam por temas variados, apesar de alguns – corpo (sempre auto-retratos), céu, nuvens e aviões – serem recorrentes. “O roteiro é a diversidade. É interessante mudar de página e encontrar um assunto que não se está esperando”, diz Marcia.

Os dois elegeram a diversidade logo no início do trabalho. A artista plástica, por sinal, não se viu em dificuldades por não haver um tema específico: “Não ficou mais difícil, porque este mundo pós-moderno em que vivemos é mesmo uma colcha de retalhos”. Mas não falta critério nessa diversidade. “Existem elos temáticos que percorrem o livro. Há uma costura, uma rede de relações, poemas seqüenciais por várias páginas”, afirma Antunes.

A fragmentação que se vê nos auto-retratos – acompanhada pela poesia de Antunes, que ora corta e ora aglutina palavras – sugere uma remissão à do mundo atual, fracionado em diversos aspectos. “É uma leitura que se pode fazer, embora não tenhamos pensado nisso. Como em toda linguagem artística, há uma abertura (para diversas possibilidades de entendimento)”, diz o poeta.

O título do trabalho se mostra um jogo de palavras que se complementa com a sobrecapa espelhada, na qual o leitor se vê. “ET” significa extra-terrestre. “Cria um certo estranhamento que bota a pessoa para questionar. É meio desconcertante, mas as coisas fáceis são tão sem graça...”, afirma a artista plástica.

Antunes não teme ser taxado de hermético por causa da mescla pouco comum entre as duas linguagens: “Os poemas são claros e as imagens, límpidas. Não vejo dificuldade em entender (o livro). Há algumas subversões sintáticas, mas são um exercício de decifração sedutor”.

ET Eu Tu – Livro de Arnaldo Antunes e Marcia Xavier. Lançamento, aberto ao público, na próxima quarta-feira (dia 11), às 20h. No Instituto Tomie Ohtake – r. Coropés, 88, São Paulo. Tel.: 6844-1900.




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