Política Titulo Pós-redemocratização
Pleito marca fim de deputados prefeituráveis

Com decisões de Alex e Márcio, região não terá parlamentar no páreo ao Paço pela 1ª vez

Fabio Martins
Junior Carvalho
do Diário do Grande ABC
24/08/2020 | 07:07
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Claudinei Plaza/DGABC


A eleição de novembro ficará marcada no Grande ABC não só pelo diferencial da pandemia de Covid-19, mas também pelo fim da era de deputados prefeituráveis na disputa sucessória municipal. Com as decisões anunciadas de Alex Manente (Cidadania, federal, domicílio em São Bernardo) e Márcio da Farmácia (Podemos, estadual, reduto em Diadema) de ficarem fora das urnas, a região não terá pela primeira vez no período pós-redemocratização a tradição de registrar ao menos um parlamentar, seja da Assembleia Legislativa ou do Congresso, na concorrência.

São 32 anos deste histórico, o que mostra o simbolismo do cenário no Grande ABC – esse será o nono pleito consecutivo municipal no intervalo. Desde a eleição de 1988, portanto, a primeira depois da queda da ditadura militar (1964-1985), houve participação de deputados na empreitada majoritária. No período, inclusive, com exceção de 2004, pelo menos um parlamentar foi eleito prefeito. A região contabiliza hoje oito representantes, sendo seis estaduais e dois federais. Desta bancada, Alex e Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), são os únicos a já ter figurado nas urnas na cabeça de chapa.

Alex, 41 anos, entrou no páreo em três ocasiões (2008, 2012 e 2016), todos sem sucesso. Na última tentativa, apostou alto e, em seu melhor desempenho, foi para o segundo turno, mas perdeu para o atual prefeito Orlando Morando (PSDB). Apesar da rivalidade ferrenha de outrora, se aproximou do tucano e deve anunciar apoio ao ex-desafeto, visando aguardar trilha menos densa em 2024. Já Vicentinho, 64, amargou duas derrotas (2000 e 2004), também em São Bernardo, ambas ficando pelo caminho na etapa inicial. Ele chegou a mudar endereço eleitoral para Diadema em 2016, porém recuou da iniciativa para suporte a Manoel Eduardo Marinho, o Maninho (PT).

Entre os estaduais, a ala petista (Luiz Fernando Teixeira e Teonilio Barba, ambos de São Bernardo) vai aderir à tentativa de Luiz Marinho (PT) de retomar as rédeas da Prefeitura. As outras quatro figuras debutam no mandato: Thiago Auricchio (PL, filho do prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, PSDB), Carla Morando (PSDB, mulher de Orlando), Coronel Nishikawa (PSL) e o próprio Márcio – os três primeiros estrearam em 2018, inclusive, busca por voto. Thiago e Carla estarão nos palanques liderados pelos respectivos padrinhos familiares.

Eleito vice-prefeito, o político de Diadema, por sua vez, era o principal cotado para liderar o projeto governista, considerado plano A, contudo, refutou da proposta, alegando problemas de saúde e intenção de cumprir mandato na Assembleia. Apesar da resistência, Márcio anunciou na semana passada apoio à pré-candidatura do hoje vereador Pretinho do Água Santa (DEM).

Cidadania fica em xeque com desistência de Alex

A decisão do deputado federal Alex Manente (Cidadania) em desistir de disputar o Paço de São Bernardo na eleição deste ano acendeu sinal de alerta no diretório do partido na cidade. O temor é de que a ausência do parlamentar nas urnas desidrate a legenda e enfraqueça a chapa de candidatos a vereador, que já vem sofrendo baixas desde 2017, quando o prefeito Orlando Morando (PSDB) tomou posse e atraiu então aliados do parlamentar.

Mais: a saída de Alex do tabuleiro eleitoral neste ano provocou efeito cascata na maior parte dos diretórios do Cidadania no Grande ABC, que caminham para ficar de fora de praticamente todas as disputas majoritárias nas sete cidades.

A partir da eleição deste ano, o surgimento de candidatos próprios a prefeito se tornou a principal ferramenta para a sobrevivência política dos partidos, que, pelo impedimento de coligações proporcionais, precisarão apostar em chapa completa para emplacar representantes. A eleição majoritária é âncora da briga por cadeiras nos Legislativos.

Na maioria das cidades, o Cidadania compõe as bases dos prefeitos e em muitos diretórios o partido já decidiu que não vai deixar o barco governista. Em Santo André, o partido segue na base do governo do prefeito Paulo Serra (PSDB) – vereador pela legenda, Fábio Lopes é o líder do governo na Câmara. No governo tucano, o partido também participa efetivamente e hoje possui o comando da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), com Reinaldo Messias.

Na cidade de Alex, em São Bernardo, a desistência da candidatura a prefeito veio acompanhada da possível aliança com Morando. Nesse processo de aproximação da dupla, o Cidadania perdeu quadros para o próprio tucanato ou para outros partidos aliados ao governo – Estevão Camolesi migrou para o PSDB e Julinho Fuzari, DEM.

Detentor do mandato mais bem votado em São Caetano na última eleição (Marcel Munhoz), o Cidadania vai caminhar com o prefeito José Auricchio Júnior (PSDB) em novembro. Possui a liderança do governo, com Tite Campanella, e briga pela indicação de Munhoz como vice na chapa tucana.

Na semana passada, o Cidadania de Diadema cravou apoio ao projeto governista a ser encabeçado por Pretinho do Água Santa (DEM). Com a janela partidária, no início do ano, o partido passou a ter seis representantes. O Cidadania também vai seguir levantando a bandeira governista em Ribeirão Pires e em Rio Grande da Serra – em Mauá, Luizão da Comunidade ainda sustenta candidatura própria, a única da legenda no Grande ABC até agora.

Principal liderança do partido na região, Alex minimizou a perda de correligionários em São Bernardo. “Criam-se lideranças. O Cidadania em São Bernardo é uma espécie de Santos, em uma analogia futebolística. Forma o jogador, forma as lideranças, revela, depois elas vão embora”, comparou o deputado, para quem o partido estará entre as quatro legendas com maior número de parlamentares nas sete cidades. 




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