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USCS inicia testes da vacina chinesa para 652 voluntários

Quatro pessoas participaram do primeiro dia de estudos, ontem; profissionais da saúde podem se inscrever em site da universidade

Por Yasmin Assagra
do Diário do Grande ABC
01/08/2020 | 00:01
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A USCS (Universidade Municipal de São Caetano) iniciou, ontem, os testes da CoronaVac, vacina contra o novo coronavírus produzida em parceria do laboratório chinês Sinovac Biotech e o Instituto Butantan. As primeiras imunizações foram realizadas no Hospital São Caetano, no bairro Santo Antônio. Ao todo, a proteção vai contemplar 652 voluntários, todos profissionais da linha de frente do combate ao vírus, que serão recrutados em até 60 dias.

Ontem foram aplicadas quatro vacinas, sendo a primeira na enfermeira Francini David Maria, 31 anos, que trabalha em hospital da rede privada em São Paulo (leia mais abaixo). A dose inicial é feita no braço direito e, após 14 dias, os voluntários receberão o reforço no braço esquerdo. Parte dos participantes do estudo será, de fato, imunizada contra o novo coronavírus. Outra parcela receberá uma espécie de soro, conhecido como placebo, que não produz efeito nenhum no organismo. A técnica é utilizada em praticamente todos os testes de vacinas para medir os efeitos psicológicos causados nos pacientes.

Segundo o investigador do estudo e professor do curso de medicina da USCS, Fábio Leal, após o período de triagem e inclusão dos profissionais – de 60 dias – em até um ano, segundo protocolo inicial, o estudo sobre a eficácia da vacina será finalizado. “No avaliamos tanto a questão da eficácia da vacina, quanto de segurança aos pacientes. Junto ao acompanhamento médico, os voluntários também receberão diário de acompanhamento, onde poderão relatar sintomas e estado de saúde após a imunização”, explica.

O reitor da USCS, Leandro Prearo, aproveitou a ocasião para lançar a plataforma Corona USCS, disponível no coronauscs.org, na qual os profissionais da saúde podem se voluntariar para a testagem em São Caetano. “É site específico para os profissionais se inscreverem. Lá é possível fazer a triagem e saber se ele se encaixa ou não na realização do teste”, comentou Prearo, que lembrou que os voluntários não podem ter testado positivo para a doença e as mulheres não podem estar grávidas ou pretendendo engravidar.

A secretária de Saúde da cidade, Regina Maura Zetone, explicou que São Caetano indicou cerca de 400 profissionais da saúde, entre médicos e enfermeiros, para participar do estudo. “Enviamos o cadastro destas pessoas que estão na linha de frente e habilitadas a se candidatarem. Depois isso, vão passar por triagem e se inscrever na plataforma da USCS”, comenta.

“É dia histórico, não só para nossa cidade, mas para o Brasil e a humanidade. No momento em que os estudos estiverem concluídos e, de fato, com aprovação clínica da vacina, teremos mais tranquilidade”, comenta o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB).

Os 652 voluntários que serão testados na USCS estão entre os 9.000 participantes da fase final dos estudos em Brasília e em cinco Estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. Em São Paulo, além da USCS, os testes são conduzidos na Capital pelo Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Instituto de Infectologia Emílio Ribas e Hospital Israelita Albert Eisntein.

Caso a imunização se mostre eficiente e não traga reações importantes aos voluntários, deve receber aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e ser fabricada no Butantan, na Capital. A expectativa do governo do Estado é que isso ocorra ainda em dezembro para que parte da população possa ser imunizada já em janeiro, com distribuição das doses gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

OXFORD
O Ministério da Saúde, através da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), assinou ontem documento com a AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, que dará base para o acordo entre os laboratórios sobre a transferência e produção de 100 milhões de doses da vacina contra a Covid-19, caso seja comprovada a eficácia e segurança da imunização, que também está sendo testada em São Paulo. O contrato deve ser formalizado na segunda semana de agosto.  

Enfermeira imunizada mostra otimismo

Francini David Maria, 31 anos, é enfermeira obstetra há sete anos e atua em hospital da rede privada em São Paulo. Ela foi a primeira voluntária a receber dose da CoronaVac, a vacina chinesa que promete imunizar contra o novo coronavírus, ontem, no Hospital São Caetano. Segundo a profissional da saúde, desde que soube da oportunidade de participar do estudo se inscreveu para colaborar e ficou otimista com o teste e confiante em sua eficácia. 

“É uma experiência única e não deixa de ser especial. É um momento histórico em todo mundo e fazer parte disso, ainda jovem, é um grande marco em minha vida”, comenta a enfermeira. “Me inscrevi com muita coragem, pois acredito que vai dar certo”, acrescenta. 

Desde que resolveu se voluntariar para a imunização, Francini recebeu algumas críticas, até mesmo de familiares. Segundo ela, alguns acharam “loucura” a iniciativa, mas recebeu muito incentivo, principalmente dos colegas de trabalho. “Acabaram apoiando e também se sentindo orgulhosos, pois não deixo de fazer parte da história. Acredito muito que este estudo vá salvar vidas e quero que chegue com eficácia para todos”, pontua. 

O Diário publicou dia 23 de julho que a desconfiança de parte da população com a vacina chinesa não passa de preconceito, já que, segundo os especialistas ouvidos, a imunização é segura por ter passado por duas fases de testes seguindo os rigorosos critérios internacionais. Vale ressaltar que a proteção foi desenvolvida na China, mas se apresentar eficácia, as doses serão produzidas no Instituto Butantan.

Após receber a vacina, Francini precisou ficar pelo menos uma hora em repouso para observação no centro de estudos. Após 14 dias, receberá o reforço e permanecerá em acompanhamento médico.




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