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Bérgamo é exemplo a S.Caetano

Epicentro da Covid-19 no país europeu, município italiano tem semelhanças com cidade do Grande ABC

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
29/03/2020 | 00:30
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EBC


A Itália é, ao lado de China e Estados Unidos, o país que mais vem sofrendo com a proliferação do novo coronavírus. Por diversos motivos, que vão desde o desconhecimento inicial até o menosprezo às orientações para a adoção do isolamento social, a Velha Bota contabilizava até ontem 10.023 mortes, sendo 136 delas na cidade de Bérgamo, que pertence à província de mesmo nome, na região da Lombardia, e que foi o epicentro da disseminação no País. Segundo o prefeito local, Giorgio Gori, o município de aproximadamente 122 mil habitantes – parte disso composta por idosos – é de grande “concentração urbana, com intensa circulação de pessoas e mercadorias” e tem densidade demográfica considerada alta, com cerca de 3,1 mil habitantes por km². E essas características, devidas as proporções, se assemelham com as de São Caetano, fato citado pela secretária de Saúde Regina Maura em vídeo, semana passada. Motivo de preocupação, mas serve de exemplo ao poder público são-caetanense, que decretou estado de calamidade pública e vem adotando medidas para manter os munícipes em casa.

“A transmissibilidade está ligada à densidade populacional. São Caetano é muito parecida com Bérgamo, na Itália, que foi a região que mais sofreu, que mais teve mortes e mais teve problemas. Temos 11 mil habitantes por quilômetro quadrado, é uma das maiores densidades demográficas do País. Temos proporção de 25% de pessoas com mais de 60 anos. Temos 40% com mais de 50 anos. Ou seja, nossa preocupação é imensa. Fiquem em casa, é nosso pedido. Por isso as medidas têm sido tão rigorosas. Precisamos alongar este período de contágio e de propagação da doença”, afirmou Regina Maura na live com o prefeito José Auricchio Júnior (PSDB).

Um dos motivos para que Bérgamo se transformasse no epicentro da proliferação foi a realização de um jogo da Liga dos Campeões da Europa, entre Atalanta (time de Bérgamo) e Valencia. Aproximadamente 40 mil torcedores do time italiano viajaram da cidade até Milão, palco da partida. Ali, a doença se alastrou entre aqueles que assistiram in loco a vitória de seu time, por 4 a 1. “Foi uma bomba biológica. Os 40 mil torcedores que foram ao Estádio San Siro foram infectados”, disse Gori.

Esta é mais uma prova do motivo pelo qual os especialistas tanto indicam o isolamento social como maior forma de combate à propagação do novo coronavírus. “Se não tomarmos (em São Caetano as) medidas necessárias, podemos ter quadro dramático e trágico semelhante ao que estamos vendo acontecer em Bérgamo, onde o sistema de saúde colapsou e têm pessoas que morrem antes de conseguir acessar os serviços de saúde ou chegam em estado grave e não há estrutura necessária para atendê-los. É um colapso de atenção devido ao grande número de casos graves em espaço curto”, explicou o infectologista e professor do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Fabio Leal.

O doutor ainda apontou o motivo para o problema na cidade italiana. “Acredita-se que tudo isso aconteceu em Bérgamo por dois principais motivos: o primeiro, por ter população mais vulnerável muito grande, e essa é uma semelhança com São Caetano, ou seja, porcentagem considerável acima dos 60 anos; e (segundo), pela demora em se fazer o isolamento e distanciamento social. Houve grande contaminação rapidamente de muitas pessoas, que é o que tentamos evitar em São Caetano com o isolamento mais precoce.”

O especialista ainda reiterou o motivo pelo qual idosos e pessoas com comorbidades estão mais passíveis – mas não exclusivamente – a pegarem Covid-19. “A maioria das mortes e casos graves que evoluem com pneumonia é de pacientes com mais de 60 anos ou que têm problemas crônicos de saúde que fazem com que organismo tenha menor reserva, que é aquela capacidade de, no momento de dificuldade, o organismo manter estabilidade de funcionamento. Se acontece um problema, a desestabilização é muito mais rápida e pode evoluir com maior gravidade, principalmente em infecções respiratórias”, finalizou. 




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