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Pacto federal tenta reduzir cesáreas
Por Valéria Cabrera
Do Diário do Grande ABC
14/02/2004 | 18:03
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As maternidades públicas do Grande ABC realizaram no ano passado 36% de cesáreas, segundo informações das prefeituras e da Secretaria Estadual da Saúde. Ao todo, foram 18,3 mil partos, feitos em sete hospitais – cinco municipais e dois estaduais.

O índice, maior que o preconizado pelo OMS (Organização Mundial de Saúde), que considera 15% o ideal, e maior que o registrado em todo o Estado de São Paulo, 32,7%, deve-se ao fato de a região agrupar cinco hospitais públicos que fazem partos de alta complexidade – que trazem risco de vida tanto para a mãe quanto para o bebê.

Entre eles estão dois hospitais estaduais, o Mário Covas, em Santo André, e o Estadual de Diadema, considerados hospitais de referência no atendimento a partos de alto risco.

Pacto – Em 2000, vários Estados do Brasil firmaram um pacto com o Ministério da Saúde, estabelecendo metas para redução do número de cesáreas – procedimento que tem um índice de mortalidade cinco vezes maior que o parto normal. No primeiro ano, a meta para o Estado de São Paulo era de 35%. O Grande ABC, nesta época com apenas três hospitais atendendo gestantes pelo SUS (Sistema Único de Saúde), conseguiu ficar abaixo desse índice: 33,8%. Em contrapartida, desde então, com a abertura de novos hospitais na região, incluindo os de alta complexidade, as metas foram ultrapassadas.

A portaria que estabeleceu os índices permite que os hospitais que atendem gestantes de alto risco ultrapassem a meta. "É quase impossível chegar a esses índices", disse a coordenadora do Programa de Saúde da Mulher de Mauá, Andréia Rissato dos Santos.

O município tem um dos maiores índices de cesáreas da região. Em 2003, 43,9% dos partos realizados na cidade foram cesarianas. Segundo Andréia, há um esforço para reduzir o índice na cidade, com cursos de reciclagem para profissionais que trabalham com as gestantes durante o pré-natal.

É nesta fase que deve ter início o trabalho com as mulheres, para que o parto normal seja induzido, segundo a coordenadora da maternidade do Hospital Municipal de Diadema, Tatiana Smalkoff.

Segundo ela, mulheres que não fizeram o pré-natal, geralmente adolescentes, chegam ao hospital muito assustadas com a possibilidade do parto normal. "Ninguém explicou que esse procedimento pode ser realizado sem dor, diferente do que vêem em filmes e novelas na televisão. Às vezes, o comportamento da mulher é tão terrível que não há como tentar o parto normal. Se houvesse uma preparação, a situação seria diferente", disse.

Por não ser de alto risco, o Hospital Municipal de Diadema tem de atingir a meta estabelecida pela portaria do Ministério da Saúde. No ano passado, a meta, de 29%, foi alcançada com folga: do total de partos realizados, 26,5% foram cesáreas, o menor índice da região.

Particulares – Não há dados sobre índices de partos normais e cesarianas em maternidades particulares, mas especula-se que o número de cesáreas nessas unidades pode variar entre 70% e 90%.

Segundo o chefe da Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina do ABC, Mauro Sancovski, há vários fatores que levam a esse alto índice. "Como não há uma pressão governamental, a decisão é tomada pela paciente ou pelo médico e, nesse caso, a conveniência fala mais alto."

Para o médico Paulo César Fusari, do Hospital e Maternidade Christovão da Gama, em Santo André, a competição entre parto normal e cesariana hoje é desleal. "O procedimento é rápido e sem dor. O corte é pequeno, não deixando cicatrizes. E há também a comodidade do parto programado. A mulher pode se preparar antes de ir para o hospital e ser atendida por seu médico de confiança."




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