Setecidades Titulo Justiça
Família Demarchi quer reaver restaurante

Antigos donos vão à Justiça para exigir o cumprimento do contrato de venda do imóvel em S.Bernardo

Por Raphael Rocha
Diário do Grande ABC
16/09/2019 | 07:00
Compartilhar notícia
Celso Luiz/DGABC


A família Demarchi cobra na Justiça que os atuais proprietários do Restaurante São Judas Tadeu cumpram integralmente o contrato assinado em junho de 2015 – e validado em outubro daquele ano –, sob ameaça até de exigir a retomada do imóvel localizado na Avenida Maria Servidei Demarchi.

Donos do tradicional restaurante da histórica Rota do Frango com Polenta e que funcionou até 2016, Laerte José Demarchi, Osmar Tadeu Demarchi, Albino Tadeu Demarchi, Silvana Aparecida Demarchi e Rosana Demarchi moveram ação contra Marcos Tolentino da Silva e a empresa Pico do Juazeiro Participações e Administração de Bens Próprios.

A alegação é a de que os compradores não assumiram passivos trabalhistas e outras pendências financeiras informadas durante a negociação. A família Demarchi assumiu ter R$ 80 milhões em débitos. Além desse montante, a empresa se comprometeu a depositar valor na conta dos antigos donos do restaurante – essa quantia está protegida por cláusula de confidencialidade, mas o Diário apurou que o negócio envolveu R$ 25 milhões. Em troca, os compradores ficariam sob posse da estrutura de 12 mil metros quadrados no bairro Demarchi – mas não poderiam explorar a marca “Restaurante São Judas Tadeu”.

A principal reclamação dos Demarchi é a de que, sem a transferência da responsabilidade de dívida, contas dos ex-proprietários estão sendo bloqueadas devido às ações trabalhistas. Além disso, dois imóveis que estavam fora do acordo de venda do São Judas foram a leilão para garantia do pagamento das quantias cobradas judicialmente.

“Neste sentido, explica-se que, firmado o contrato e decorridos alguns meses da sua celebração, como visto, foi constatado que nenhuma das obrigações pactuadas haviam sido cumpridas, e os débitos – fiscais, trabalhistas, e cíveis – ainda perduravam em aberto, inclusive, em decorrência das execuções judiciais que corriam contra a empresa, realizaram-se uma série de bloqueios das contas bancárias dos autores, que foram forçados a resolver tais problemas firmando transações nestes processos ou tiveram valores dos locativos bloqueados, num importe total de R$ 557.526,33”, diz a peça da acusação.

O contrato de 2015 foi assinado por Carlos Alexandre Ballotin – transferido posteriormente à Pico do Juazeiro Participações e Administrações –, mas a ação foi movida contra Tolentino, segundo a família Demarchi, porque foi o empresário quem, de fato, negociou a transação. Tolentino é presidente da Rede Brasil de Televisão. O Diário não o localizou para comentar o caso.

Nos autos, Tolentino argumentou que as “supostas obrigações” imputadas a ele não são de sua responsabilidade porque era apenas procurador da Pico do Juazeiro Participações e Administrações, não proprietário. “Os autores tentam, de uma forma temerária, incluir o requerido Marcos Tolentino como responsável dos contratos, fato este que não encontra guarida pela análise dos contratos firmados.”

No processo, que tramita na 1ª Vara Empresarial e Conflitos de Arbitragem, em São Paulo, sob cuidados do juiz Luis Felipe Ferrari Bedendi, a família Demarchi anexou diversas conversas por aplicativo com Tolentino que mostram que o empresário intermediava as discussões sobre o contrato após a assinatura. Os autores também incluíram reportagens e documentos que apresentam que Tolentino teria condições de arcar com os valores envolvidos.

A Pico do Juazeiro também se manifestou nos autos. Afirmou que a ação só foi movida porque a família Demarchi está receosa em perder os imóveis colocados a leilão e negou descumprimento das cláusulas. “Não demonstram que a ré Pico do Juazeiro não está cumprindo o contrato, tornando-se, portanto, todas essas discussões de mérito, cabíveis em fase instrutória tão somente, momento em que a ré irá demonstrar que o contrato está sendo cumprido em seus termos.”

No dia 2 de setembro, o juiz Bedendi negou concessão de liminar do caso, mas segue em análise do mérito. 

Estabelecimento virou depósito de entulho e um estacionamento

Passados três anos e nove meses do encerramento das atividades, o Restaurante São Judas Tadeu, no bairro Demarchi, virou um estacionamento na parte de fora e, na de dentro, depósito de entulho.

A equipe do Diário esteve no local na semana passada e constatou que, onde antes eram servidos inúmeros pratos de frango com polenta, agora há lixo. Na entrada, caixas de papelão estão amontoadas. No setor interno, palets de madeira e pneus estão espalhados.

O fechamento do Restaurante São Judas Tadeu, em janeiro de 2016, marcou início de encerramento de outras unidades da tradicional Rota do Frango com Polenta. Recentemente, quem fechou as portas foi o Restaurante São Francisco.

O São Judas Tadeu era considerado a estrela da Rota do Frango com Polenta, que ganhou corpo e fama entre as décadas de 1940 e 1950, e virou destino certo de almoço de milhares de famílias nas décadas seguintes. Em 2005, a casa chegou a atender 65 mil pessoas por mês – se tornou também recepção de grandes atividades políticas, tendo como cliente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atualmente preso.

Os donos se gabavam que, em um Dia das Mães, 11 mil pessoas foram ao estabelecimento. Antes de encerrar as atividades, a média era de 18 mil refeições servidas por mês, quantidade que não pagava as contas.

Após o fechamento, o São Judas manteve uma unidade no São Bernardo Plaza Shopping, na Avenida Rotary, mas o restaurante também deixou de funcionar.

Os representantes da família Demarchi não retornaram aos contatos para comentar o caso.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;