Em meio a tantas novas nomenclaturas que pipocam em torno da gastronomia emergente, como a molecular, ainda reina absoluta no Grande ABC a boa e tradicional culinária. Para inaugurar a página de gastronomia e assuntos afins do Diário, elegemos o sotaque italiano. Entre os endereços na região mais fiéis ao cardápio da mamma está a Cantina Fratelli D'Italia, em São Bernardo. E coloque tradicional nisso, já que há 27 anos o menu se mantém praticamente inalterado. Lá, Wilma Zanon, chef e fundadora do restaurante, leva às mesas receitas passadas de mãe para filha.

Nascida na Emiglia Romagna, região conhecida pelas massas, ela e a família emigraram em 1950 para o Brasil, trazendo não só receitas, mas lembranças e o costume de sempre atender com um sorriso a clientela, que se divide entre os três ambientes da casa. Mas, atenção, ao fazer a reserva, solicite uma mesa no salão principal. Lá, toalhas quadriculadas contrastam com paredes com tijolinhos à vista repletas de fotos envelhecidas pelo tempo que mostram cenas de casamentos, aniversários e outras tantas reuniões familiares. É aconchegante.

MOLHOS - Aos 75 anos, Wilma não se limita a capitanear e, literalmente, põe a mão não só nas massas, nas carnes, nos molhos. Esse é um ponto especial. Entre os 16 tipos oferecidos para regar os pratos está o de tomate in natura temperado por Wilma, que chega a manusear até 600 quilos da fruta por mês. É o best-seller da casa. Aliás, há outros e todos com o nome grafado em italiano.

Entre os seis tipos de entradas está o saboroso crostini all parmigiano. Mas se o cliente non parla italiano, não há problema. Além do cardápio descrever os ingredientes, os garçons amigavelmente (e discretamente) ajudam na hora da pronúncia.

Entre as quatro opções de salada, a sensação é a Venezia. Prato de aparente simplicidade, na verdade, é uma prova e tanto para a habilidade de um chef. Muitos que se aventuraram a incluí-lo no cardápio de seus restaurantes desistiram por não conseguir driblar os efeitos causados pela alta temperatura do bacon frito derramado sobre as folhas de almeirão fresco.

Mas isso não é problema para dona Wilma, que não esconde sua vaidade de oferecer a insalata verdejante em uma versão personalíssima, já que o vinagre da receita original é desprezado em favor de vinho tinto.

Personalidade também não falta às sopas de capelete, servidas de forma farta e aquecidas o suficiente para aumentar a temperatura do corpo nesta ainda fria época do ano.

Para apetites fartos e igualmente exigentes, a Cantina Fratelli D'Italia apresenta especialidades cozidas em caçarolas: coelho cozido com vinho, costeletas e pernil de cordeiro em vinha d'alho e ervas finas, e frango com molho de tomate e vinho tinto.

Apreciadores de frango ainda encontram outras quatro opções, enquanto que os amantes da carne bovina não são esquecidos com versões de filé mignon e de lagarto.

Mas a sensação, como se presume em uma cantina, são as massas. Lasanhas de massa branca ou verde e 11 tipos de pastas, entre simples e fechadas, são o deleite. Um destaque é o schiaffone, que leva espinafre, mostarda, molho branco e parmesão.

Para o grand finale, entre os nove tipos de sobremesas estão o Dolci Fratelli - um mix de morango, suspiro e creme fresco. Para os que gostam de uma consistência mais, digamos, calórica, há tiramissú arrematado com chantilly.

Com duas adegas climatizadas, a casa oferece uma carta de vinhos composta por 60 tipos. São rótulos da Itália, Argentina, Uruguai, Portugal, África do Sul, Austrália. Há também nacionais. Entre os mais sofisticados está o Dom Melchior, de R$ 315 a garrafa.

Serviço: Rua Doutor Flaquer, 515, Centro, São Bernardo (tel.: 4330-2997). De terça a domingo, das 11h30 às 15h, às sextas-feiras e sábados, das 19h às 22h30.