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Na rota das especiarias

Terra dos incensos, hotéis-palácios e encantadores de serpentes fascina o turista pelo contraste de culturas

Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
29/01/2009 | 07:00
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Em 1497, o navegador português Vasco da Gama descobriu o cobiçado Caminho das Índias, até então só feito por mercadores que atravessavam cidades, rios e desertos de camelo para levar as especiarias do Oriente à Europa. A própria descoberta do Brasil teria sido resultado de um erro de cálculo na rota indiana. Passados cinco séculos, é hora de o brasileiro refazer o percurso - desta vez, de avião - para descobrir algo ainda mais especial que o gengibre ou a canela de outrora: a milenar cultura indiana, que ganhou os holofotes tupiniquins neste mês por conta da estreia da novela Caminho das Índias, da Rede Globo.

 De acordo com Moacyr Cláudio Ramos, o Dedé Ramos, proprietário da Latitudes, empresa especializada em roteiros pela Ásia, cerca de 15 mil brasileiros visitam a Índia anualmente, atraídos pelo fascínio, quase que hipnótico, provocado pelo perfume dos incensos, a música dos encantadores de serpentes, os mantras, pela opulência dos seculares hotéis-palácios e por uma filosofia singular, que cultua a vaca como animal sagrado ao lado de personalidades que fizeram de sua vida um exemplo para toda a humanidade, como Madre Tereza de Calcutá e Mohandas Karamchand Gandhi, o líder religioso que conseguiu libertar a Índia do domínio britânico, em 1947, pregando simplesmente a não-violência diante das cruéis investidas da coroa. Um pacífico ‘golpe' de mestre - ou melhor, de mahatma (grande alma) - que exalta o amor, assim como o monumento indiano mais famoso do mundo: o Taj Mahal, eleito em 2007 como uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo.

 É bem verdade que, a princípio, os costumes do país causam um estranhamento proporcional ao fascínio. Na terra dos hindus, religião e tradições se fundem de forma quase que inconcebível para um ocidental, e os contrastes escondem uma resignação difícil de compreender.

 De um lado, palácios suntuosos, ornados com pedras preciosas, garantem aos hóspedes autênticos dias de marajá - não à toa, o país detém um dos maiores PIBs (Produto Interno Bruto) e mantém sempre um representante no topo da lista dos homens mais ricos do mundo, a exemplo dos bilionários Mukesh Ambani e Lakshmi Mittal. Do outro, uma multidão formada por quase 700 milhões de indianos vive na miséria, tendo de se manter com menos de US$ 1 por dia.

 Igualmente desconcertante é imaginar que tradições cultivadas há 5.000 anos persistam com tanta evidência em meio à tecnologia de ponta da indústria de chips e softwares. E que apesar do arcaico sistema de castas, a Índia é hoje a maior democracia do mundo, tendo à frente uma mulher: Pratibha Patil, eleita à presidência no ano passado.

 E não é só na economia ou na política que os contrastes impressionam. Com um território de 3,2 bilhões de quilômetros quadrados e 1,1 bilhão de habitantes, a Índia apresenta um misto de paisagens que vai dos picos nevados do Himalaia, no Norte, às praias com coqueiros do Sul, passando pelo famoso deserto do Rajastão.

 Em uma mesma cidade, a temperatura pode variar dos 10ºC negativos a um calor de 48ºC. O clima seco castiga tanto nos meses de março a maio que as chamadas monções - longos períodos de chuva intermitente, de junho a setembro - são recebidas pelos indianos como uma bênção dos céus.

 A melhor forma de percorrer esses e outros contrastes do infindável território indiano é viajar de trem. O país possui o mais extenso sistema ferroviário do mundo. Uma herança do domínio britânico, que também introduziu o telégrafo, a modernização nas comunicações e a língua inglesa no país.

 É no trem que se começa a observar os costumes, o tradicional sistema de castas que rege a sociedade até hoje e o belo contraste entre o tom pastel da poeira dos desertos e as cores vivas dos saris, espécie de túnica feminina. Um colorido que encanta os olhos e enche de vida as lembranças do turista quando retorna ao Brasil. E que leva a duvidar se são mesmo apenas as serpentes que se deixam encantar de forma hipnótica pelos movimentos, sons, aromas e cores da Índia.

Curiosidades

HINDUÍSMO - As histórias dos deuses do hinduísmo estão escritas no Mahabarata, espécie de Bíblia deles, com 200 mil versos em sânscrito.

 DICAS DE SOBREVIVÊNCIA - É comum estrangeiros sofrerem de uma virose que causa diarréia, vômitos e febre alta durante três ou quatro dias. Para evitar este contratempo, jamais tome água que não seja mineral. Também evite gelo, sucos naturais (nunca se sabe a procedência da água), frutas com casca, saladas cruas e tudo o que possa ter sido lavado.

 Nos passeios pelo interior, tenha sempre um rolo de papel higiênico na bolsa, pois os banheiros não possuem vaso sanitário, pia nem lixeira, apenas um recipiente com água para lavar a mão esquerda. É costume indiano usar a mão esquerda para fazer a higiene pessoal e a direita para comer. Por isso, usar a esquerda à mesa é considerado ofensivo e nada higiênico.

 Jamais passe a mão na cabeça de uma criança. Este gesto de carinho é considerado ofensivo - assim como voltar a sola do sapato a outra pessoa. Os hindus consideram a cabeça como a parte nobre do corpo e os pés como a suja.

 SAÚDE - A medicina ayurvédica é a mais antiga do mundo. Existe há 5.000 anos e é adotada por 400 mil médicos na Índia. Baseia-se no princípio de que a saúde consiste na harmonia do homem com o universo. O desequilíbrio é diagnosticado principalmente pela língua e pelos pulsos, e o tratamento é feito com alimentação, ervas, aromas, musicoterapia, alongamentos e as famosas massagens com óleo morno, que provocam um relaxamento profundo de todo o corpo.

 CASTAS - Embora a palavra ‘casta' tenha sido introduzida por portugueses por volta do século 15, a principal característica deste sistema social remete a 600 a.C., quando a pele clara dos arianos se distinguia da dos habitantes mais antigos. Os "de cor" (Varna) foram divididos conforme a estrutura do corpo de Brahma, o Deus supremo. As quatro castas originais, que deram origem a todas as outras, representam a boca, os braços, as coxas e os pés. Há ainda os sem casta - conhecidos como párias, dalits ou intocáveis -, considerados a poeira sob os pés de Brahma.

 Das quatro castas originais, a mais alta é a dos brâmanes (boca), que representa 15% da população e é formada por sacerdotes, filósofos e professores. A segunda é a dos Xátrias (braços), representada por militares e governantes. A terceira é a dos Vaixás (coxas), que abrange os comerciantes e agricultores. E a quarta é a dos Sudras (pés), composta por artesãos, operários e camponeses.

 Hoje, a Índia conta com mais de 3.000 castas diferentes. E embora o sistema seja proibido pela Constituição desde 1950, continua a fazer parte do cotidiano da Índia moderna.

 CINEMA - A produção cinematográfica indiana é maior que a norte-americana. É como se fosse a novela deles. O tema preferido são as histórias de amores proibidos pelo sistema de castas.

 ROUPAS - O ombro é considerado a parte erótica da mulher. Por isso, mesmo sob sol escaldante, evite roupas que deixem os ombros à mostra. Na área rural, há mulheres que chegam a ser apedrejadas por muçulmanos radicais. Já nas grandes cidades a tolerância é maior, mas a mulher será bastante observada.

 Pelo mesmo motivo, evite roupas justas e, por uma questão de praticidade, prefira sapatos sem cadarço, pois você terá de tirá-los toda vez que entrar em templos, casas e palácios.




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