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Brincando com o bolso dos outros

Dilma Rousseff, há uns dois ou três meses, determinou que o Banco do Brasil e a Caixa baixassem as taxas de juros

Por Carlos Brickmann
08/02/2009 | 00:00
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A ministra-candidata Dilma Rousseff, há uns dois ou três meses, determinou, em nome do presidente Lula, que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal baixassem as taxas de juros. Assim, dizia Sua Excelência, os bancos privados seriam obrigados a cobrar menos. É bom lembrar que BB e CEF são controlados pelo governo: ordem do presidente Lula, dentro da lei, é para ser cumprida.

Há quase um mês, o presidente Lula determinou pessoalmente aos dirigentes dos bancos federais que baixassem os juros. E agora, finalmente, foi obedecido pelo menos por um deles: a Caixa Econômica Federal baixa os juros amanhã.

Para quanto? Para 122,46% ao ano no cheque especial - 6,89% ao mês! É mais, por mês, que a inflação do ano inteiro. É mais que a metade, todo mês, da tal taxa Selic, anual, que o Banco Central determina e que todo mundo, além de considerá-la altíssima, ainda xinga quem a fixou.

E, cá entre nós, se é para baixar os juros deixando-os nessa altura, não é preciso receber ordem do presidente da República. Ou, pior, estão fingindo que cumprem a ordem enquanto dão risada. E ainda garantem, embora seja difícil de acreditar, que esta é a terceira redução de juros da CEF em 2009. De quanto eram os juros antes dessa desmesurada demonstração de benevolência? Pagava-se uma dívida de R$ 1.000 em 12 prestações de R$ 1.000?

Quanto ao Banco do Brasil, que também deveria obedecer às ordens do presidente Lula, não falou nem nessa baixadinha. Vale fingir-se de morto?

COISA FEIA
Os tucanos criaram a moda de mudar as regras no meio do jogo, quando aprovaram a reeleição para beneficiar Fernando Henrique. Mas criticam duramente o flerte de Lula com uma nova mudança, que lhe permitiria candidatar-se a um terceiro mandato. E mesmo assim modificaram as que proibiam a reeleição para a liderança da bancada, com o objetivo de fortalecer Aníbal. Com que moral vão combater outras mudanças, que favoreçam adversários?

DINHEIRO DOS OUTROS
Preste atenção neste caso - há gente importante envolvida. A Ulbra, Universidade Luterana do Brasil, do Rio Grande do Sul, foi beneficiada nesta semana com a renovação de seu certificado de entidade filantrópica, com efeito retroativo desde 2004. Assim, livra-se de dívida de quase R$ 2 bilhões, cobrada pela Receita Federal e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. O reitor da Ulbra, Rubem Becker, está solto graças a um habeas-corpus preventivo.

FESTA DA BERGAMOTA
Algumas informações que a Ulbra ainda não tem:
1 - O juiz federal Fernando Zandona concluiu que o reitor Becker usa ‘laranjas' no comando da CELSP, Comunidade Evangélica Luterana de São Paulo, entidade mantenedora da Ulbra, e se remunera ali, o que é ilegal;
2 - O juiz mandou auditar os contratos de publicidade da TV Ulbra, incluindo os de apresentadores de programas terceirizados, para bloquear seus valores.

CUIDADO: PERIGO
O presidente do Senado, José Sarney, garantiu que Lula não aceita a tese do terceiro mandato. Sarney foi quem negou cinco vezes, até mesmo ao presidente da República, que fosse candidato à presidência do Senado. E foi.

TUCANOS X TUCANOS
O governador mineiro Aécio Neves mostrou que controla boa parte da bancada federal do partido, que elegeu para líder um dos políticos paulistas que mais combatem o governador José Serra - aliás, seu companheiro de PSDB: José Aníbal. O problema é que Aníbal, homem de trato difícil, tem como inimigos 19 deputados tucanos, um terço da bancada, que preferem qualquer coisa, até ouvir o senador Suplicy falar de renda mínima, a ser liderados por ele. O partido rachou exatamente quando, nas pesquisas, seu provável candidato tem confortável vantagem sobre a candidata que o presidente Lula diz que vai apoiar.

UM BICUDO QUE SE BEIJA
Mas comete um erro quem acha que José Aníbal atuou no caso como fantoche de Aécio Neves. Aníbal não é fantoche de ninguém e tem muita determinação. Joga sozinho, pensando no futuro - no futuro dele, Aníbal, e de mais ninguém.

O CAMINHO DO MAL
Pelo menos duas medidas que a Itália está estudando para combater a imigração ilegal cheiram a autoritarismo (e, portanto, enfraquecem sua posição no caso do asilo de Césare Battisti, que querem extraditar): uma, a de obrigar os médicos a denunciar imigrantes ilegais que os procurem; outra, que nos tempos modernos é utilizada apenas em Cuba, de criar patrulhas de moradores para localizar imigrantes ilegais. Em Cuba, o objetivo é buscar ‘contrarrevolucionários', ou seja, oposicionistas. A tal patrulha se chama Comitê de Defesa da Revolução. Estará a Itália buscando justamente em Cuba ideias para reforçar o poder do governo?




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