Tudo indicava, para a política, uma semana morninha, morninha. Como foi feriado na segunda, muita gente aproveita e faz ponte para o próximo descanso, que começa na quinta. Mas a Justiça botou todo mundo para trabalhar: é preciso acompanhar o julgamento do Mensalão mineiro dos tucanos, marcado para hoje no Supremo, e decidir como é que vão pagar a próxima campanha eleitoral.
O Mensalão mineiro dos tucanos foi a grande entrada de Marcos Valério (empresário, dono de agências de publicidade, que depois se tornaria conhecido no Mensalão nacional dos petistas) na arrecadação e financiamento de campanhas eleitorais. Foi um dos principais operadores da campanha de um dos principais tucanos - o hoje senador Eduardo Azeredo, que na época era governador e disputava a reeleição (foi vencido). Valério perdeu muito, mas não entregou ninguém.
O resultado do julgamento do Mensalão mineiro vai determinar como será a arrecadação para as campanhas eleitorais, inclusive a presidencial. Se os réus forem condenados, o financiamento das campanhas será muito mais complexo, já que o pessoal envolvido no Mensalão mineiro é o mesmo do Mensalão propriamente dito. É gente de confiança dos financiadores, será difícil substituí-la.
Há governos que procuram reforçar-se com dinheiro público, ampliando verbas de publicidade (no Rio, os R$ 3,7 milhões do último prefeito, César Maia, se multiplicaram para R$ 120 milhões, com Eduardo Paes). Não é suficiente. Os candidatos vão achar uma saída, claro; se não, nem dá para concorrer.

CAMPANHA ANTECIPADA
Por falar em campanha, as datas previstas em lei estão sendo ignoradas (e já não é questão de interpretação, saber se viajar "em missão oficial" para estar presente a batizado de boneca é ou não campanha): agora se trata mesmo é de publicidade aberta, daqueles com foto do candidato rodeado por estrelas, em fundo cor-de-rosa. Este, por exemplo, disfarçado de blog, saiu num portal, veja no www.brickmann.com.br, seção Artigos, título Campanha Antecipada.

QUESTÃO DE CARÁTER
Quem é que mais precisa de proteção: uma pessoa no auge do vigor físico, com a saúde em dia, ou um aposentado que, além de estar fora do mercado do trabalho e dispor apenas de uma fonte de renda, ainda tem gastos maiores para enfrentar doenças próprias da idade? No fundo, é isto que a Câmara deve votar hoje, contra a vontade do governo: a extensão aos aposentados do reajuste do salário-mínimo. Hoje, o aposentado, que tem maior gasto, recebe reajuste menor. O projeto, já aprovado pelo Senado, é de autoria do petista gaúcho Paulo Paim. O presidente Lula ameaça vetá-lo se for aprovado - mas o preço eleitoral será alto.

SANDUÍCHE DE PÃO COM PÃO
Acredite: os ministros Celso Amorim e Nelson Jobim, mais Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula, devem participar hoje na Câmara de audiência pública sobre a vontade brasileira de ocupar um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Considerando-se que as Excelências presentes estão todas do mesmo lado, considerando-se que outros países que se opõem à reivindicação brasileira não participarão da audiência, do que é que se vai tratar?

COMPANHEIRO MÍSTER
O presidente Lula chega hoje a Londres, para um programa excelente: encontra-se com o primeiro-ministro Gordon Brown, é recebido pela rainha Elizabeth, recebe o Prêmio Chatham House pelos esforços de seu governo no combate à fome e à miséria, faz palestra, organizada pelo Financial Times, sobre a maneira como o Brasil enfrentou a crise econômica. É um sucesso internacional.

GOVERNO PREDADOR
O pai de uma leitora desta coluna é criador de pássaros, cumpridor das leis, afiliado ao Ibama. Aposentado, dedica-se às aves. Outro dia, o Ibama apareceu por lá e, alegando que três pássaros estavam irregulares (não se sabe por quê), apreendeu todos. Ele abriu processo contra o Ibama - mesmo acreditando que se as aves lhe forem mesmo devolvidas, não serão as mesmas. Resultado: está entrando em depressão. Não sabia que, no Brasil, trabalhar dá problemas.