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Sem-teto encerram greve de fome na frente do apartamento de Lula
Miriam Gimenes
Especial para o Diário
23/12/2005 | 08:05
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O Planalto livrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de passar por um constrangimento no início de seu descanso de Natal. Os sete militantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) que estavam acampados em frente ao apartamento de Lula, em São Bernardo, desde a última segunda-feira, encerraram quinta-feira a greve de fome, que durou quatro dias. Eles lutam contra a reintegração de posse de área que ocupam em Taboão da Serra.

O fim da greve ocorreu após telefonema de um dos companheiros do movimento, que anunciou a vinda da secretária Nacional de Habitação, Inês Magalhães, a São Paulo, para assinatura de um termo que disponibiliza investimentos do governo federal para solucionar o caso do grupo. A notícia foi recebida com aplausos e emoção pelos sete Chicos, como se autodenominavam. O presidente chega nesta sexta-feira pela manhã em sua residência e participa, durante a tarde, de um encontro com os catadores de materiais recicláveis, em São Paulo.

"Essa decisão, mais do que tudo, não poderia ter vindo em outro dia. Hoje (22 de dezembro) é aniversário da morte do nosso companheiro Chico Mendes", disse Chico Marco, ressaltando o nome do assentamento que abriga 800 famílias. O também grevista Chico Paulo foi quem leu o comunicado aos outros manifestantes e arrancou lágrimas de quem ouvia o discurso. Ao final, todos quiseram se levantar mas, diante as recomendações médicas, tiveram de permanecer sentados, até mesmo para conceder entrevistas.

Chico Gabriel, o mais novo dos sete integrantes do movimento, com 19 anos, disse que pretende continuar no movimento. Ele está há 83 dias no acampamento, onde mora com a namorada. "Agora vou poder sair daqui e visitar meu pai, que tem HIV e está em estado terminal. Fico feliz também por isso", disse emocionado. Gabriel, que está desempregado e sobrevive de trabalhos informais, sonha agora com um emprego e com uma faculdade de História. "Agora poderei ter um Natal mais feliz".

Saúde – Minutos antes de ser dada a notícia, o médico e psiquiatra Paulo Sampaio analisou o estado de saúde dos grevistas. Segundo o especialista, como eles já vinham de uma situação precária, mesmo antes do manifesto, os problemas intensificaram com a greve de fome. "Eles apresentaram dores lombares, de cabeça, fraqueza e até desmaio. Teve um que perdeu 6 quilos nesses quatro dias", explicou.

Quando encerrada a greve, os manifestantes brincaram e disseram que queriam comer picanha, frango com polenta e até mesmo lasanha. "Por hoje eles devem ficar só com a sopa, mas amanhã pode voltar tudo ao normal", recomendou. Mas teve Chico dizendo que não sabia se iria seguir a recomendação. "Não sei se vou ficar só na sopa não", brincou.

Agenda – Pelo terceiro ano consecutivo, o presidente realiza encontro com catadores de materiais recicláveis e população de rua em São Paulo. Todas as visitas foram realizadas dias antes do Natal. O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, assinará convênio com a Associação Reciclázaro, que receberá recursos federais. Também no evento, a Prefeitura de Diadema assinará termo de parceria com a associação Pacto Ambiental, para remunerar os catadores pela coleta seletiva no município. Diadema é a primeira cidade do país a realizar pagamento por esse serviço.




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