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30 MINUTOS DE CHUVA = CAOS

Santo André e Mauá foram as cidades mais afetadas pelo temporal, com pontos de alagamento e desabamentos em diversas vias

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
29/12/2021 | 00:01
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Claudinei Plaza/DGABC


Foi preciso apenas meia hora para que a tempestade que assolou a região na tarde de ontem provocasse verdadeiro caos em Santo André e Mauá, cidades mais afetadas. Segundo o prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), em 30 minutos choveu 109 mm (milímetros) na cidade, quase metade do esperado para todo o mês de dezembro (250 mm). O impacto de tanta água foi sentido em todo o município, onde famílias ficaram desabrigadas, motoristas não conseguiram transitar pelas vias e passageiros sofreram com a paralisação dos trens.

O chefe do Executivo, ao lado do vice-prefeito Luiz Zacarias (PL), esteve na Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, uma das vias mais prejudicadas pelo temporal, e ressaltou a ação dos serviços de limpeza durante as ocorrências. “Foi uma quantidade de água muito grande, mas graças a Deus não houve nenhum caso com vítima. Tivemos prejuízos materiais e de mobilidade urbana, mas trabalho da equipe de zeladoria por toda cidade está buscando restabelecer a normalidade”, afirmou Paulo Serra. 

Segundo informações do Corpo de Bombeiros, foram registrados 71 pontos de enchentes e alagamentos em Santo André, além de três chamados para desabamentos – e outros dois em Mauá. Os estragos da tempestade também afetaram a circulação de trens da Linha 10 – Turquesa da CPTM, que liga a região à Capital. Desde o começo da chuva a linha funcionou de maneira parcial, sem circulação entre as estações Rio Grande da Serra e Prefeito Celso Daniel – Santo André. Na Estação de Mauá, onde a água chegou a cobrir os trilhos, passageiros não aguentaram esperar na plataforma lotada e decidiram se arriscar a pé pela linha do trem.

O terminal de ônibus na região central de Santo André também ficou alagado, assim como a estação de trem Celso Daniel, e a área de embarque de frente, onde os carros precisaram passar pela calçada para tentar fugir da água. De férias no Brasil, Diego Nocetti, 33 anos, ficou mais de duas horas tentando embarcar em um carro de aplicativo para ir para casa, na Vila Curuçá. “Cheguei da Irlanda há 20 dias e já me deparo com essa enchente. É a primeira vez que vivencio isso aqui na região”, disse Nocetti.

Em São Caetano, a Defesa Civil informou que choveu apenas 11 mm no município, e durante a tempestade foram registrados pontos de alagamento na Avenida Guido Aliberti, altura do Cemitério Vertical, além de queda de uma árvore na Rua Piauí, ambas ocorrências sem vítima.

Segundo a Prefeitura de São Bernardo, no município “não foram registrados alagamentos, apenas pontos isolados em que houve demora para a água ser absorvida pelo sistema de macrodrenagem e ser levada aos piscinões. Foi registrada ainda queda de duas árvores na cidade: na Rua Atlântica e na esquina da Avenida Getúlio Vargas”, informou o Paço. No município, o volume médio da chuva chegou a 44 mm na tarde de ontem. Diadema não notificou nenhuma ocorrência devido à chuva. 

MAUÁ ‘JOGA’ CULPA PARA O ESTADO

Horas depois de todo o caos na cidade, o prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira (PT), apareceu. Mas, somente por nota enviada pela assessoria, na qual voltou a cobrar do governo estadual a liberação de recursos para a conclusão de obras de aprofundamento do piscinão do Paço e de aumento da vazão de água que passa por baixo da linha do trem – foi a segunda vez em menos de 15 dias que as chuvas causaram alagamentos e transtornos. 

Famílias vivem drama no morro da Kibon 

Famílias do morro da Kibon, na Vila Humaitá, em Santo André, perderam praticamente tudo o que tinham quando a enxurrada invadiu suas casas. Na entrada da comunidade, caminhões da Prefeitura chegavam em fila para recolher a pilha de móveis misturados com lama que a forte chuva arruinou. Líder comunitário há oito anos, Leandro Mendes dos Santos, 29, mais conhecido como <CF51>Léo da Kibon</CF>, montou uma força-tarefa com outros moradores para ajudar as famílias que foram prejudicadas. 

E disse que a tempestade afetou cerca de 100 casas, e que nunca tinha presenciado nada parecido no local. “Já não basta o difícil momento que estamos vivendo, com pandemia, surto gripal, crise econômica e, agora, em pleno fim de ano, essas pessoas perdem tudo o que têm. Vamos nos mobilizar para tentar ajudar o máximo de gente possível”, afirmou Leandro. 

Wil Mota Santos, 34, mora há apenas três meses no local e viu sua casa ser coberta por água até o teto. “Perdi todos os móveis da cozinha, além dos utensílios, e também a comida que tínhamos para o Ano-Novo. Meu carro foi levado pela água, nem sei o tamanho do prejuízo”, contou o técnico em logística, que estava trabalhando na região do Brás, na Capital, quando recebeu o telefonema da mulher falando sobre a situação. “Ainda bem que moramos em um sobrado, foi a nossa salvação. Minha mulher subiu com o meu filho pequeno, de apenas 2 anos, para o quarto quando a água invadiu a casa.” 

Em outro ponto da comunidade, um barranco cedeu e um veículo ficou pendurado. A casa da moradora Steffany Aparecida Sedano dos Santos, 30, foi atingida pelo entulho que desabou junto com o terreno. “Estava no quarto com as minhas duas filhas, e quando olhamos pela janela vimos o carro pendurado, quase invadindo nossa casa. Foi desesperador”, contou a andreense, que ainda comentou sobre a ajuda de vizinhos durante o episódio. “Eles colocaram uma corda no carro e ajudaram a puxar, senão não estaria aqui para contar história. Minhas filhas estão na casa de uma tia, e eu e meu marido ficaremos na casa da minha sogra, porque não temos como acessar a casa, já que a entrada era por esse barranco que desabou”, explicou.

AJUDA HUMANITÁRIA

Segundo a Defesa Civil de Santo André, as famílias afetadas pela chuva ainda estão sendo contabilizadas e, após essa etapa, receberão ajuda humanitária, através do Fundo Social de Solidariedade da cidade, com colchões, cobertores, itens de higiene e limpeza e cesta básica, O Paço fará uma vistoria nas residências e no entorno para avaliar os danos estruturais nos imóveis.

Além do morro da Kibon, a tempestade prejudicou famílias na Vila América, Rua Maurício de Medeiros, Jardim Santo André e núcleo Pintassilva, entre outros locais.




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