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Labraço 4nasa. Mas podem me chamar de Zelão
Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
06/11/2021 | 00:01
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Hoje é o aniversário do engenheiro José Roberto Fornazza, o Zelão, integrante do Memofut (Grupo Literatura e Memória de Futebol), um grande contador de histórias e que por causa dos estrangeiros com quem trabalhava, e que não acertavam o seu nome, resolveu adotar como assinatura eletrônica o diferencial ‘1abraço 4nasa’ – e todos passaram a acertar na pronúncia.

Depoimento: 
José Roberto Fornazza

Nasci e cresci numa vila operária, a Vila Scavone, onde se jogava bola de manhã e de tarde, e nos piores campos possíveis, grama zero!

O primeiro jogo de futebol que me lembro de ter assistido foi na base do televizinho, a final do campeonato de 1957, entre São Paulo e Corinthians.

O campo do Nacional (ex-SPR) ficava perto de casa, e era para lá que eu ia jogar e assistir aos jogos amadores, e depois do Ipiranga (Terceira Divisão) e Promeca (Terceira também).

Joguei futebol dos oito aos 56 anos, sempre mal. Comecei como um ponta-esquerda veloz, mas sem técnica, e terminei a carreira como um esforçado lateral. No máximo joguei em alguns times de várzea.

PÃO VÉIO
Quando conheci o Memofut, foi como juntar a fome com a vontade de comer. Apesar de praticar e acompanhar futebol há muitos anos, foi só a partir desse momento que percebi o quão importante o futebol foi – e é – para o entendimento das mudanças na sociedade e no modo de vida. 

Confesso que não me interesso muito pelas estatísticas do futebol – tem muita gente boa que cuida disso. Eu me dedico mais ao que acontece no entorno do jogo, nas atitudes, nas mudanças de hábitos. 

Um exemplo disso é acompanhar no tempo como os jogadores se chamavam: seus apelidos divertidos no passado, até chegar aos nomes pomposos ou complicados de hoje. 

Cinquenta anos atrás, um zagueiro tinha o apelido de ‘Pão Véio’. Assim mesmo. Algo impossível nos dias de hoje, tempos de ‘Rycharlisson’ e por aí vai.

PAIXÕES FUTEBOLÍSTICAS
Eu e meu pai somos palmeirenses. Minha mãe e meus dois irmãos, corintianos. Imagina como era a casa dos 4nasa num dia de derby. Mas o meu primeiro time é o Paulista. 

TÚNEL DO TEMPO

Talvez o único evento em que eu gostaria de ter estado seria a final da Copa de 1950. Pelo impacto que aquele dia teve no povo. São reações que gostaria de ter presenciado.

Penso mais no futuro, pois é onde vou passar o resto de minha vida. Gostaria de estar por aqui daqui a cem anos, para ver o que os futurólogos acertaram (provavelmente muito pouco) ou erraram de longe.

GRANDE ABC

O primeiro jogo com times do ABC que vi foi Promeca x Cerâmica São Caetano, creio que em 1963, pela Terceira Divisão. Jamais imaginei que um dia iria conhecer o filho do massagista do Cerâmica, o Luiz Romano.

Quando comecei a acompanhar o Paulista, tinha o perigoso Irmãos Romano, de São Bernardo. Por vários anos Paulista e Irmãos Romano disputavam o ultimo lugar da chave, para ver quem ia disputar o ‘rebolo’ do rebaixamento. No fim escapavam.

Recordo jogos do Saad, do Aliança de São Bernardo (um bom time) e do Santo Andre, que venceu o Paulista no acesso, em 1981. 

O primeiro jogo do São Caetano que vi foi na Rua Javari, pela Terceira Divisão de 1995, empate de 1x1. Nesse ano, o Paulista subiu pra Segunda Divisão, e o São Caetano escapou de ser rebaixado para a Quarta.

Poucos anos depois, o São Caetano estaria disputando final de campeonato brasileiro e da Libertadores. 

MEMOFUT

Eu, o Max (Max Gehringer) e o Doutor Danilo (Danilo Panizza) tínhamos o hábito de tomar um ‘café com bobagens’ periodicamente, para colocar os assuntos em dia. O Max já frequentava o Memofut, e nos convidou. Deu no que deu. Desde 2012 posso contar nos dedos de uma mão as reuniões que perdi. 

O Memofut é um ambiente formidável, de extremo respeito entre os membros. São pessoas inteligentes, das mais variadas profissões, idades e interesses. Mas com um amor pelo futebol que supera tudo. E o nível de conhecimento da história do futebol é fantástico. 

Eu costumo brincar que, se você disser que Linense e XV de Jau, pela Segunda Divisão de 1951, foi 2 x 2, tenha certeza do que está dizendo. Se o resultado não foi esse, alguém presente vai te corrigir.

ÍDOLOS

Sou da privilegiada geração que viu Pelé jogar. Tinha o Ademir da Guia e o Rivelino. Quando o jogador é craque, não importa pra que time joga. Você o admira da mesma forma. 

Gerson, primeiro no Botafogo, e depois no São Paulo, era notável. Punha a bola onde queria. A inteligência de Tostão, que não parecia um atleta mas navegava com classe no meio de zagas terríveis.Mais recentes, Zico, um jogador completo, e Romário, ninguém se colocava melhor que ele dentro da grande área.

PADRINHO

Tenho orgulho de ser o responsável por apresentar o Memofut para o Manoel D´Avila e o José Moraes de Oliveira, meus amigos e ex-colegas de trabalho na Unilever.

Todos os participantes do Memofut são especiais, mas ressalto os "pais fundadores": o infatigável trabalho de coordenação do Alexandre (Alexandre Andolpho Silva), a nobreza de Mestre Domingos D´Angelo, alvo preferido de nossas brincadeiras, mas que as tira de letra, e o estudioso Gustavo Longhi de Carvalho, simplesmente um exemplo para todos nós.

LEMBRANÇAS

A final da Copa de 1970, o memorável Paulista 3x0 Barretos em 1968 que nos deu o acesso e a libertação de uma maldição de 20 anos de fila, e a final do Campeonato Paulista de 1993, vitória do Palmeiras em cima do Corinthians, também encerrando uma longa fila.

<EM>Mas nada se compara em tensão e alegria ao nascimento de meus filhos. Tudo o mais é secundário.




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